- Posso ir encher a moringa na fonte, vovó? - perguntei com ar de solicitude.
- Mas por que agora, Fortunatella? Você pode fazer isso mais tarde.
- Ah, vovó, eu estou com tanta vontade! A fonte é aqui pertinho e eu volto logo! Deixe eu ir, vovó, deixe...
Eu era muito teimosa, e meus avós dificilmente resistiam aos meus caprichos da netinha órfã de pai morto e órfã de mãe viva. Por isso, vovó Catarina acabou consentindo. Saí vitoriosa, com a moringa nas mãos e o pé de meia amarrado junto ao elástico das minhas calças. Como os vestidos das meninas, naquele tempo, eram compridos e largos, não dava para perceber nada.
Fui até a Acquanova, enchi a moringa, depois me escondi num dos becos que circundavam a praça. Levanteia a saia, arrancando do meu próprio corpo o tesouro do sonho não-sonhado da romã milagrosa.
Entrei gloriosamente em casa, soltando berros de alegria:
- Vovó! Vovó! Achei! Achei!
- Achou o quê? - perguntou ela, arrancando a moringa das minhas mãos antes que eu a deixasse espatifar-se no chão da sala.
- O tesouro, vovó! Achei! Achei!
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A Menina Que Fez A América
ContoSaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...