Uma manhã, perdi a paciência.
Vovó costumava ir todos os dias à igreja, bem cedinho, depois que meu avô havia saído e enquanto eu ainda dormia. Pois naquela manhã acordei no momento em que ouvi uma chave trancar a porta do lado de fora. Saltei da cama, olhei para o buraco da fechadura para ver se vovó já estava realmente longe e ainda a vi subindo a ladeira que levava à praça da Acquanova. É preciso explicar que o buraco da fechadura da porta da casa da Saracena era muito grande, verdadeiro ponto de observação do mundo da rua, assim como a luneta do vovô Leone era do mundo da lua...Agora ali estava eu, a sós, com a casa às minhas ordens. Não me lembrava de nada do que havia sonhado durante a noite, mas, afinal, quem é que me garantia que eu não tivera um fruto de grãozinhos vermelhos bem preso em minhas mãos?... Quem?... Eu não. Vi a cômoda e as gavetas, que fui abrindo uma a uma. Tive de remexer em todas as roupas alvas e engomadas para finalmente encontrar o que procurava.
Soltei um grito de triunfo! Embrulhadas num pé de meia, moedas de ouro reluziam diante dos meus olhos atônitos. Que surpresa eu ia fazer para a vovó Catarina, que surpresa! Agora tinha certeza de que havia sonhado com a romã durante a noite: o tesouro aparecera!
Amarrei o rico pé de meia com um cordãozinho vermelho na minha cintura, por debaixo da saia, e, quando vovó Catarina voltou da igreja, viu-me arrumada e pronta para sair:
20
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Menina Que Fez A América
Short StorySaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...