- Há estrelas que viajam pelo céu, Fortunatella. São os cometas. Têm caudas e cabeleira.
- Como um animal, vovô?
- Como um animal do céu. Eles demoram muito para aparecer. E, depois que aparecem, demoram para voltar.
Eu ficava maravilhada. Será que também entre os astros haviam emigrantes, querendo transplantar-se para outros céus?
- Vovô, eu quero ver um cometa!
Ele me levava até a janela. E me fazia voltar os meus olhos para o alto, onde o Sol reinava sobre Saracena.
- Não há nenhum visível no momento. Mas você há de ver um deles, o mais conhecido, que, muito tempo atrás, passou no céu da Itália.
Muito tempo atrás... Atrás de onde? Atrás da minha memória daquele tempo.
E vovô Leone continuava:
- Um dia, você há de estar mocinha, e eu já estarei morando junto das estrelas. E você há de ver a volta do grande cometa, lá pelo ano de 1910...
Eu me agarrava à cauda daquele tempo que meu avô astrônomo me mostrava com os olhos do futuro e saía de sua casa. Na rua, com a cabeça nas nuvens, meus olhos brilhavam como as estrelas errantes. Só baixavam a terra quando chegava à casa de vovô Vincenzo, o camponês.
Era preciso limpar os pés antes de entrar...16
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A Menina Que Fez A América
ContoSaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...