- E como é PANE na língua do Brasil?
- PÃO - dizia meu avô Vincenzo com dificuldade.
E eu também achava difícil pronunciar essa palavra. Porque o som tinha de sair pelo nariz e era complicado. Mas eu brincava de cornetinha de soldado, apertando as narinas e me fazendo de fanhosa:
- PÃÃÃÃÃÃO...
E achava engraçado quando vovô Vincenzo me explicava que, para dizer VINHO, eu tinha de pensar em GNOCCHI, porque o som NHO das palavras do Brasil era igual ao som GNO das parole da Itália. Só que ele não conseguia me explicar por que o som se escrevia diferente, se era igualzinho ali e lá...
- STELLA? ESTRELA - repetia eu, enrolando a língua.
- LUNA? LUA! - traduzia, desta vez com o cuidado de não deixar o som sair pelo nariz, só pela boca, como me ensinava vovô Vincenzo.
E as minhas amiguinhas, para quem eu ia correndo contar a novidade das palavras que aprendia, me arremedavam em coro: SOL, PÃÃÃO, VINHO, ESTRELA, LUA... E íamos gritando pelas ruas, como um bando de louquinhas, como se, com as palavras do Brasil, traduzidas das parole italianas, estivéssemos viajando para além do mar Mediterrâneo, em busca de terras e céus distantes das terras e céus da Saracena.26
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A Menina Que Fez A América
Short StorySaracena, Itália, final do século XIX. Pequenas aldeias de camponeses e artesão. Seus sonhos: sótãos repletos de alimento para o próximo inverno. O cotidiano interrompido pelos dias santos e festas populares. Aqui e assim viveu Fortunatella. Morre...