Capítulo Vinte e Dois - Bônus

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Sem correção...


Marcus

- O Senhor é meu pastor e nada me faltará. – Eu não tinha uma religião, mas em algum momento de minha vida tinha ouvido essas palavras.

Observei a cada um que se aproximava do pai... "meus sentimentos... Minhas orações, condolências...". – Se eu encontro mil abismos nos caminhos eu vou, segurança sempre tenho em suas mãos. – O homem continuava seu discurso tentando acalentar os corações ali presentes.

Um sentimento invadiu minha alma. Eu nunca tinha perdido alguém próximo, não saberia dizer ou comparar a dor de todos ali presentes.

As pessoas que sabiam quem eu era passavam por mim e me olhava sem reação alguma aparente. O que eu fazia ali? Não era da família! Era como se eu fosse um intruso. Ou se toda essa fatalidade fosse minha e tão somente minha culpa. E de certa forma até eu mesmo tinha essa sensação. Se eu não tivesse duvidado do que o dinheiro desperta no ser humano, poderia ter evitado tudo isso. Agora... Agora...

- Amados... A morte é uma realidade da vida, um caminho que todos nós faremos um dia. E esperamos que ao chegar ao banquete à casa do Senhor ocupemos nosso lugar de direito. Que não haja outro lugar de descanso à nossa alma. "Onde posso ir, se não para o Senhor?" – Então ele fechou seu caderninho de onde lia e observou pessoas que entravam no recinto amparando a senhora... A mãe.

- Não! – Ela se debruçou sobre a urna e se debulhou em lágrimas. Ela se aproximou da urna e se debruçou sobre o corpo... Começou a tocar o rosto frio, como se ainda tivesse vida e a falar sobre a gravidez, e da alegria ao descobrir que seria mãe... Então mencionou os outros filhos e não saiu mais de perto. Desesperada, ela não parava de chorar e de abraçar o caixão. – Nunca tivemos a intenção de sermos os melhores pais, mas queríamos que nossos filhos fossem apenas boas pessoas e tivessem mais do que eu e o pai deles.

Então o pastor se aproximou e tocou sua mão, enquanto todos nós ali presentes só observávamos.

- Quando Jesus se encontrou com a viúva de Naim, Ele conhecia seu coração, sabia a dor que a mulher sentia. Já havia passado pela perca do marido, e agora, perdia o filho. – Ela parecia não querer ouvir as palavras, uma vez que a cada proferida, o choro aumentava mais. Mesmo assim o pastor continuou... - Podemos dizer que era daquelas pessoas que poderiam reclamar direto por ter tido uma vida de perca, mas ela se encontrou com o mestre... – As pessoas então começaram a se apertar na sala pequena entorno do corpo, e eu fui obrigado a me afastar.

Do lado de fora, uma pequena confusão parecia se formar... Esse de fato não era minha realidade, mas a partir do momento em que me vi envolvido com a Alex, tinha que me acostumar.

- O senhor não pode estar falando sério. – A irmã parecia desolada.

- Não senhora. Não há como a funerária cumprir com seu papel se ninguém acertar as pendencias financeiras.

Isso era novo para mim... Não enterrariam o corpo por dinheiro? A cada dia mais me decepcionava com o ser humano.

Retirei minha carteira do bolso e me aproximei das pessoas. O Rick estava ali sendo solidário a todos.

- Rick... Pague o que tiver que pagar. – Ele chamou o homem de lado e acertamos tudo o que foi preciso.

Quando a funerária fez os últimos arranjos para fechar a urna, ouvi os gritos da mãe e por mais que eu tivesse meus próprios sentimentos sobre o momento, não houve como não me comover com seus lamentos.

- Dizem que nenhuma dor se compara a dor que sente uma mãe quando um filho se vai. Eu não aguento gente... Eu não aguento.

O cortejo foi feito até o cemitério e diante do túmulo ouvimos atentos a oração:

"Deus, nosso Pai amado, bendizemos o seu santo nome. Dai-nos conforto nessa hora, especialmente aos pais, amigos e familiares, por ser um momento extremo de tristeza. Se existe um conforto pai, sabemos que só poderá vir de ti. Console a cada um, fazendo-nos lembra de que há esperança além-túmulo, e não como os que acreditam que a morte é o fim. E assim poderemos ser livres do medo da morte. – Medo da morte? Eu nunca tinha tido até ver a Alex, ali caída no chão. E agora a dor tinha para mim outro significado. Nos ajude a lembrar que viemos do pó e haveremos de para ele retornar. Quando a nossa hora chegar de caminhar pelo vale da sombra da morte... Eu estava fadigado com as palavras do homem... - Que não temamos nenhum mal. Ajuda-nos a viver de tal forma que possamos ser enumerados com os justos, cujos corpos aguardam a ressurreição dos justos. Que possamos receber essa gloriosa imortalidade e viver contigo para sempre no céu. Sabemos que nesse dia, o Senhor vai enxugar todas as lágrimas dos nossos olhos. Lá Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, e não haverá mais dor, pois todas as coisas antigas terão passado distante.

Eu meditei cada uma daquelas palavras... E ao fim todos responderam... – Amém!

Quando alguém se aproximou da mulher tentando confortá-la seu choro se transformou em desespero.

- Não... Eu não entendo. Eu deveria ir primeiro que meus filhos. – Nesse momento a Carol veio e segurou minha mão.

Como podia um ser tão pequeno passar por tantas dificuldades em tão pouco tempo de vida. Na

- Marcus... – Abaixei-me para ouvir a Carol que puxava minha mão. – Por que as pessoas morrem? Meu papai morreu e agora...

Puxei-a e abracei-a tentando confortar seu pequeno coração. Mas não soube o que dizer... O que a mãe diria agora? Pensei um pouco e quando pensei em um bom argumento fomos interrompidos pela irmã da Alex.

- Acho melhor que as meninas fiquem com a gente até que...

- Até que nada. – Fui até brusco em minha resposta. – Fui até a mulher que segurava a Olivia e a tomei nos braços enquanto a Carol não desgrudava de minha camisa. – Elas ficaram comigo.

Elas haviam ficado com eles durante os primeiros socorros e tudo havia sido tão rápido e estranho que quando dei por mim, eles já haviam levado as duas para casa e como eu não tinha tido tempo de pensar em alguém para cuidar delas, acabei deixando, mas agora não era preciso.

- Nós somos a família. Marcus entenda que não tem sentido você ficar com as meninas sozinho.

- Agora... Eu também sou da família delas. E por mais que achem que poderão intervir... Não irão conseguir. A mãe pediu que eu cuidasse das crianças é o que irei fazer.

- Não ouviu o que disse minha filha? – O pai se aproximou todo arrogante e ignorante.

Verifiquei que as pessoas agora deixavam o local e o único que se aproximava era o Rick.

- Gente... Por favor. – Tentou acalmar os amigos.

- Por favor, não Rick. Minhas netas vão com a gente para casa e...

- A Alex pediu que o Marcus cuidasse das meninas... Deixem-no pelo menos até que...

- Rick, não tem que dar satisfação. Se eles ficarem com as meninas com certeza pedirão que eu faça a despesa da casa que custará no mínimo uns cinco salários mínimos, é para isso que as querem lá. Se não o fosse... Teriam ligado antes da tragédia.

O homem, o avô, poderia voar sobre mim naquele momento, mas simplesmente virou as costas e saiu resmungando. Estava incrédulo por eu achar que eles só pensavam em dinheiro.

O Rick me ajudou a leva-las para o carro e em seguida partimos.


Intenso - A Paixão avassaladora de Marcus Muller.Onde histórias criam vida. Descubra agora