Um

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Era um dia diferente e especial, meu aniversário de vinte anos. Ele não era especial por isso, mas porque meu pai iria me ver. Ele só vem nesta data, nós conversamos todos os dias, mas só posso abraçá-lo e ouvir sua voz grave, ver seus olhos verdes iguais aos meus, seus cabelos castanhos ondulados que já começam a ganhar fios brancos, neste maravilhoso dia. Eu não sei exatamente o que o impede de ficar comigo. Minha mãe que na verdade é irmã do meu pai, mas como foi ela quem me criou, pra mim ela é a minha mãe, diz que ele trabalha muito. E quando eu dou umas crises querendo saber a verdade ela grita dizendo que tudo que possuímos é ele quem providencia. Enfim, não possuo muitas alternativas, então aguardo esses dias ansiosamente e tento fazer com que eles durem bastante.

Minha mãe biológica morreu quando eu era um bebê. Infelizmente não tenho nenhuma foto, gravura, ou coisa parecida para que eu pudesse ter uma noção de como ela era. Meu pai uma vez me disse que era só olhar no espelho e eu a veria. Mas pra mim não era o suficiente, visto que eu tinha vários traços dele. Era um vazio bem estranho e profundo, que por mais que eu amasse minha mãe Sarah, por mais que ela me amasse, não preenchia. As vezes me repreendia por pensar assim, era muito ingrato da minha parte. Afinal minha tia deixou uma vida inteira de lado pra cuidar de mim. Não teve marido, nem filhos e me sinto imensamente culpada por isso. Mas segundo ela, eu era tudo que ela precisava. E eu sabia que aquilo não era verdade.

Levantei cedo a tempo de ver o sol nascer acima da serra que envolve toda a minha cidade linda. Morava num paraíso de águas cristalinas e muito verde, um verdadeiro paraíso.

Tomei um banho quente e relaxante, lavando meus cabelos com um shampoo doido que eu achei no quarto da minha mãe, com camomila e erva cidreira, era tão cheiroso...  Escolhi um vestidinho rodado verde, bem acinturado e com mangas princesinha. Depois de vestir a roupa, e passar meu perfume, desodorante e hidratante, tratei de pentear meus cabelos longos, longos demais, e deixarem secar naturalmente. Não sou do tipo vaidosa, mas sou apaixonada por meus cabelos. Na verdade é minha marca registrada por onde passo. Meu namorado Bernar diz que eles lembram um tapete persa. Nada haver, obviamente. Mas aceito o "elogio" de boa.

Desci para preparar o café, meu pai costumava chegar cedo e eu queria que tudo estivesse pronto pra ele. Parece estranho que eu possa o amar tanto convivendo pouco com ele, mas é o que sinto. Ele e minha mãe são a única família que eu tenho.

Minha mãe decorou a parede que acompanha a escada com fotos minhas em várias etapas da minha vida. Por ser meu aniversário, demorei um pouco mais observando cada uma. Assim que fitei minha foto no dia da formatura do ensino médio, onde eu estava miseravelmente suada e acabada de tanto dançar, mas tão feliz com minhas fiéis escudeiras Rebecah e Emilly, sentia que algo muito mais importante ia acontecer. Algo tão grandioso e misterioso que me deu até um frio na barriga.

O celular, com um toque horroroso, vibrou em minhas mãos. Logo a tela se iluminou mostrando uma foto minha com as meninas e minha mãe, era meu bloqueio de tela preferido. Uma mensagem de Bernar chegou, meu coração se alegrou e apressadamente abri para ler. O sorriso se espalhou por meu rosto, não que eu fosse loucamente apaixonada por ele. Mas eu buscava sentir isso, essa coisa arrebatadora que as minhas amigas diziam sentir, principalmente Emilly, " A romântica incurável" do trio. Apesar de Bernar ser incrivelmente sexy, descolado e bem humorado, eu não me sentia a vontade completamente com ele. Por que eu namoro com ele? Não sei, porque ele beija bem? Era a única resposta que eu tinha para mim mesma quando parava para refletir, mas ela nunca colou com minha mãe, muito menos com Emilly e Rebecah.

" GATA, TENHO UM COMPROMISSO HOJE! NÃO VAI DAR PRA TE VER! Ok?"

Oi? Como assim não vai me ver? Seu idiota, hoje é meu aniversário de vinte anos! Você é o meu namorado, deveria ficar comigo. Digito esta resposta, mas apago imediatamente e respondo um simples "Ok". Nem um parabéns aquele imbecil me deu. Mas não vou permitir que isso acabe com o meu dia, afinal Bernar nem é tudo isso pra mim. Não a ponto de estragar meu dia. Meu pai iria me vê e passar o dia comigo, e durante a noite minhas amigas me convidaram para ir ao barzinho mais movimentado da cidade, não era lá grandes coisas, mas como dizem: quem não tem cão caça com gato!

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora