Capítulo 43

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Minha mente foi envolvida por uma nuvem densa de dor, mas não havia tempo pra isso. Então com muita dificuldade me pus de pé ouvindo o tiroteio que continuava forte na sala, assim como o choro do meu filho em cima da minha cama. Quando consegui me por completamente de pé, tentando não pensar na dor alucinante passeando por meu corpo, caminhei o mais rápido possível pra a porta do quarto e a tranquei. Depois com esforço empurrei a cômoda ao lado contra a porta para bloquear a passagem. Coloquei também um dos criados mudos dá minha cama e uma poltrona, a minha intenção era impedir a passagem daqueles monstros, ou pelo menos conseguir um tempo maior para pensar. Quando me dei por satisfeita, ouvi um baque contra a porta e corri até a cama enrolando meu pequeno Lucas que estava vermelho de tanto chorar e aquilo partiu meu coração.

- Xii, a mamãe está aqui meu amorzinho! - sussurrei tentando acalma-lo. Mas ele continuava chorando.

Os baques foram substituídos por tiros que me fizeram tremer. Corri para o closet e fechei a porta, joguei algumas coisas de bebê perto da porta para despistar quem quer que fosse. Depois corri em direção ao banheiro e me tranquei lá dentro com o Lucas. Empurrei um armário contra a porta e me sentei dentro da banheira vazia. Continuei ouvindo tiros e aquilo assustava ainda mais o meu pequeno. Na tentativa de acalma-lo, lhe dei de mamar, mas ele se assustava com cada disparo, então tentei tapar seus ouvidos e ele parou de chorar e abriu os olhos verdes me encarando. Me permiti chorar e beijar cada pedacinho seu. Inalei profundamente seu cheiro delicioso de bebê.

- A mamãe e o papai vai te tirar daqui, filho. Nós te amamos, muito. - sussurrei com a voz embargada pelo choro.

Os seus olhinhos continuavam em mim, pareciam visualizar minha alma, assim como os do seu pai. Por mais que a cor deles fossem iguais aos dos meus, a intensidade era a de Cauê, com certeza. E sorri ao constatar isso.

- André! Na escuta? - perguntei segurando o microfone colado entre meus seios.

- Maya, graças a Deus. Estou tentando falar com você a um tempo. Achei que estivesse morta. Onde você está? - a voz dele demonstra toda a tensão gerada pela situação perigosa em que nos encontramos.

- Acho que desliguei o transmissor na hora em que caí. - respondo olhando para meu filho que agora estava mamando com os olhinhos fechados. - Estou no meu quarto, estou com o bebê!

- Como? Está um tiroteio danado aí. Como eles ainda não te acharam? - sua voz estava meio ofegante, parecia estar em movimento.

- Passei pelo tubo de ventilação e cai dentro do meu quarto. Coloquei vários móveis contra a porta. E no momento estou dentro do banheiro trancada com o meu filho. Me tirem daqui. - respondi ficando mais nervosa a cada segundo.

- Estamos a caminho, Cauê e os outros iniciaram este tiroteio para dar tempo dá polícia chegar. - ele responde mais ofegante.

- O quê? Cauê está no meio desse tiroteio? E meu pai? - minha voz sai mais alta que o planejado e isso assusta Lucas por alguns instantes, mas eu o balanço suavemente e ele fecha os olhos novamente.

- Sim, os dois estão aí! - ele responde e e ouço os tiros através de seu microfone. - Fique aí, não saía por nada, está me ouvindo?

- Sim, mas e os outros? - minha voz está trêmula só de imaginar alguma coisa acontecendo com eles.

- Não se preocupe com isso agora. A polícia está a caminho. - ele responde depois de um tempo.

Não respondo, pois sabia que ele estava ocupado e precisava se concentrar. Por um instante considerei a possibilidade de tentar sair dali. Mas as constantes batidas na porta me jogava na cara que isso estava fora de cogitação. Não sei quantos minutos se passaram, mas os tiros não haviam cessado e para meu desespero a porta do quarto havia sido arrombada. Meu coração pulou até minha garganta e o pavor tentou me dominar.

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora