Vinte e Seis

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Estávamos deitadas na minha cama assistindo "A once Upon a time" com um balde de pipoca e o bolo de nutela.  Quando meu celular vibrou, e a foto de Cauê apareceu, ignorei umas três chamadas dele. Na quarta não resisti e atendi.

- O que foi? - sussurrei para não chamar a atenção das meninas com nossa conversa.

- Nossa cabocla achei que não ia conseguir falar com você. - a voz de Vivá me irrita profundamente.

- O que você quer? - pergunto sem paciência.

- Só te mandar uma foto de onde estamos. Se alegre com a felicidade alheia. - o deboche era evidente, ela desligou na minha cara e segundos depois recebo uma mensagem. Preciso me conter, olhar isso só me deixará mais chateada, sei disso.

Jogo o telefone no criado mudo depois de silencia-lo. Bloqueio os pensamentos sobre a maravilhosa lua de mel que aqueles filhos da puta estão tendo.

As meninas adormecem e eu continuo acordada olhando para o teto por longos e intermináveis minutos. Desisto de dormir, e levanto do meio das duas que repousam serenamente, desligo a TV que emite uma série que eu nunca vi, apago os abajures e saio do quarto fechando a porta.

Preâmbulo pela casa, vou até a cozinha pego uma xícara, branca com detalhes em preto e dourado, e despejo leite, achocolatado e um pouquinho de açúcar. Com licença, eu gosto das coisas bem doces! Coloco no microondas por alguns segundo para deixar a mistura apenas morna.

E volto a andar pela casa, passo pelo quarto de hóspedes que vive vazio, tem a decoração bem parecida com a do meu e é tão grande quanto ele. Passo pelo escritório e mexo em alguns livros da estante e duvido muito que ele tenha lido pelo menos um desses. Continuo revendo toda a casa com a xícara nas mãos até que me pego no quarto dele.

Na verdade, acredito que eu andei esse tempo todo para não parar aqui. Mas veja como tudo foi em vão. E as vezes é assim que me sinto em relação ao meus sentimentos por ele. Apesar de ter decidido esquecer esse amor que só me causa mal, sempre acabo voltando os meus pensamentos para ele. É incrível e doentio esse sentimento. Se ainda fosse recíproco, mas nada passa de uma ilusão que meu coração plantou para que eu não sofresse tanto quando a verdade aparecesse assim sem mais nem menos.

Tudo aconteceu muito rápido. O destino, a lua, ou seja lá o que não me deu a opção de não me apaixonar por Cauê. Tantas situações horrendas aconteceram, por exemplo ele tranzar com uma índia na beira do rio, em frente à nossa cabana, o que eu Maya Landut, teria claramente criado repúdio por ele. Mas essa nova pessoa em quem me transformei é fraca e dependente da migalha de afeto que me oferecem. Isso é tão vergonhoso e deprimente.

Entro no closet que exala seu perfume, e até me faz pensar que ele realmente está ali, ou que aparecerá atrás de mim como da minha primeira vez aqui. As roupas estão bem organizadas, a não ser por algumas peças espalhadas pelo chão. Passo a mão pela arara, que mantém os cabides de madeira suspensos, e faço as roupas balançarem liberando mais perfume. Fecho os olhos e inspiro lentamente, e posso ver cada traço de seu rosto, seu corpo e até o som do sua voz me chamando de cabocla. Pego uma blusa branca jogada no chão e só então noto algumas roupas femininas no outro lado, onde antes ficavam as minhas. Meu coração treme, me sinto uma imbecil por amar e odiar tanto ele assim. Volto para o quarto e tenho uma vontade enorme de quebrar tudo, rasgar cada tecido que eu encontrar, revirar tudo e colocar fogo. Mas vontade dá e passa. Além do mais isso não adiantaria nada, só mostraria para os dois o como estou afetada por esse triângulo. Sinto a garganta fechar, e sei que estou chorando. Vou até a enorme janela e abro as cortinas pesadas apenas para ver a lua crescente.

- Por quê fez isso com a minha vida? - pergunto para o astro brilhoso no céu. - Eu era feliz! Eu tinha a minha família, minhas amigas por perto, meu trabalho e uma vida estável. Por quê tirou tido isso de mim e me abandonou aqui sem ter como fugir? - respiro fundo e sussurro com a mão encostada no vidro frio. - Isso é crueldade.

Foi mais um monólogo, afinal a lua não fala. Mas senti um alívio em colocar a culpa em alguém. Principalmente em alguém que não teria como rebater. Dou mais uma olhada em minha volta, sinto um enjôo forte só de imaginar ele fazendo tudo que fez comigo, com ela. No mesmo lugar, do mesmo jeito.

Está vendo coração, estou te dando motivos para desencantar!

Volto para o quarto e deixo a xícara vazia no criado mudo, deito entre as minhas amigas mais uma vez. Nicoly levanta os olhos pra mim e depois volta a dormir, fecho os meus na expectativa de um sono profundo sem grandes interferências. E então durmo.

**-**

O dia de hoje está bem movimentado, Helena apareceu cedo e passamos a tarde inteira conversando, comendo e comprando. As meninas, como o previsto, adoraram a maluca. E eu até esqueci de Cauê, realmente esqueci dele por alguns momentos. Fui ao salão também é cortei os cabelos até na cintura novamente, mas dessa vez em camadas. Meus meio cachos ficaram lindos neste corte. Helena programou nossa noite. Segundo ela, iríamos conhecer o melhor da cidade durante a noite.

Estávamos todas nos arrumando, conversando e ouvindo música. Pense em um bando de meninas juntas, mais maquiagem, mais roupas, mais sapatos, igual a uma noite incrível por vir. Como minha barriga ajnda não estava muito grande, coloquei um vestidinho colocado nas coxas e solto na parte de cima com um enorme decote nas costas, era verde com detalhes de correntes douradas. Nicoly optou por um preto de uma alça só bem justo no corpo todo de renda. Emilly colocou um azul Tifany bem rodado e alegre, a cara dela, mas com um decote enorme na frente. E Helena colocou um vermelho frente única. Estávamos lindas e parecíamos invencíveis. Assim que as portas do elevador se abriram, o rosto de Olívia surgiu, logo ao seu lado David com um menino no colo, soube na hora que era seu filho, eram idênticos. A cara de Olívia, vestida em seu vestido nude e batom vermelho, era de surpresa e logo mudou para desdenho.

Revirei os olhos e entrei seguida pelas outras meninas. David me cumprimentou com um beijo em cada bochecha e Olívia pegou a criança do colo dele, virou a cara pra mim. Então ela era a ex esposa dele? Minha nossa, eu não fazia ideia. Por isso ela estava aqui aquele dia. Pronto, havia beijado o ex marido da minha meia irmã dentro deste mesmo elevador e ele acabou de piscar pra mim, e lançar seu sorriso de cretino.

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora