Capítulo 48

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Estava um calor incomum, não sei se era causado pelo sol ou pelos meus hormônios. Meus pés estavam inchados, eu mal conseguia vê-los por causa da imensa barriga. Caminhava a passos de tartaruga em direção ao rio. Só conseguia pensar no alívio que seria me banhar nas águas límpidas daquele lugar.

Faltavam poucas semanas para o bebê enfim nascer, e eu não via a hora de ver o rostinho do novo membro da família.

Meus pés tocaram a água transparente e refrescante, e foi impossível não suspirar de alegria. Puxei o vestido simples e florido pela cabeça, ficando apenas com minha calcinha e sutiã. Cauê havia levado Lucas para a roça da tribo, era dia de colheita e todos estavam atarefados. Logo mais a noite haveria a festa da lua, a aldeia estava agitadíssima por conta do evento. Infelizmente eu não podia ajudar muito, primeiro porque Cauê havia me declarado uma inválida, e segundo porque eu realmente estava uma inválida.

Nesta gravidez eu passei muito, mais muito mau. Vomitar? Era de lei. Pelo menos três vezes por dia. Sentia dores nas pernas e nos quadris constantemente. As atividades mais simples do dia a dia me deixavam cansada demais. E sono. Nossa, eu tinha muito sono. Fora as mudanças bruscas de humor. As vezes me dava pena de Cauê que fazia de tudo para me agradar, mas meu humor era de veneta e difícil de controlar.

Minha mãe por outro lado estava radiante. Sua pele está linda, assim como seu cabelo. Ela também havia inchado bastante e sofria de enjoos constantes. Mas a cada vez que ela acabava de vomitar, um sorriso surgia em seus lábios. Por algum tempo me perguntei como ela podia ter essas reações diante de tanto mal estar. Aí lembrei, lembrei dos abortos, e dos bebês que nasciam mortos pelo peso da maldição. Meu irmão ou irmã era um milagre. Meu pai não sabia o que fazer para aliviar as coisas para ela, a tratava como uma verdadeira rainha. A mimava de todas as formas, e eu estava imensamente feliz por ver tanto amor entre aqueles dois.

- Espere por mim. - ouvi a vós de Kaolin um pouco perto da margem. - Jaci nos trouxe fertilidade, mas Guaraci pretende  nos torrar com seu calor hoje.

- Céus, achei que era só eu quem estava sentindo tanto calor assim. - respondi me sentando na areia do fundo do leito, ficando com a água na altura dos seios.

- Não minha filha, é a ira de Guaraci, tenho certeza que brigou com Jaci, e nós que sofremos as consequências. - ela resmungou de volta tirando seu vestido solto.

- Seja lá qual for o motivo, eu simplesmente agradeço por ter esse maravilhoso oásis. - falei afundando por inteiro dentro daquela refrescante água.

Voltei a superfície e observei enquanto minha mãe acariciava o barrigão lindo, enquanto andava em minha direção. Ela abriu os braços e fitou o céu azul, falou algumas palavras na sua língua e soltou um suspiro acompanhado de um sorriso. Depois mergulhou nas águas do rio, se deixando refrescar também.

- Faltam poucas semanas para esses bebês nascerem. Espero que não esteja tão quente. - comentei sentando um pouco mais para a margem do rio, ficando com a metade da barriga para fora.

- Oh minha linda, sinto lhe informar, o tempo quente está apenas começando. Na verdade está tudo trocado, o clima é imprevisível ultimamente. - ela comentou sentando-se de frente para mim.

- Se continuar quente assim voltarei para a fazenda. Minha mãe Sarah virá na próxima semana trazendo minhas amigas.  Talvez eu vá e fique. - falei jogando água na minha barriga protuberante.

- Eu até iria com você, mas acho que aqui ficarei mais confortável. É a minha terra, minha gente, quero que seu irmão tenha as primeiras conexões ao nascer aqui. - acariciava sua barriga com um sorriso singelo.

- Então acha que se trata de um menino? - questionei erguendo uma sobrancelha.

- Sim. E não se engane, você carrega uma menina. - ela sorriu ao fitar minha cara de espanto.

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora