Trinta e sete 💚

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Os minutos iam de arrastando perto das batidas frenéticas do meu coração. Mesmo que eu tentasse, tentasse mesmo, não ia rolar. Não dava pra fugir. Me senti uma criminosa mega procurada pela federal. Três homens comigo na Hilux preta e mais dois carros, um Corolla na frente e a Ranger Rouver, que eu roubei dos bandidos, atrás de nós. Assim que alcançamos a pista principal, o idiota responsável por meu sequestro me amarrou as mãos e colocou um capuz na minha cabeça.

Eu nunca, nunca imaginei que um dia fosse passar por algo parecido com isso. Minha vida era pacata, tranquila e sem grandes complicações. Mas enfim, o destino resolveu me dar os maiores problemas, na minha concepção. Era estranho pensar que a quase um ano atrás, estava tranquila, curtindo minha vida sem muitos perigos. E der repente ali estava eu, grávida de um índio que era filho do meu padrasto, que era o chefe de uma tribo e responsável por grande parte dos meus problemas, meu marido um prostituto com um cafetão tão louco e obsessivo. Descobri que meu pai tem outra filha que não é nem um pouco amigável e que andava fuxicando minha vida. Minhas amigas estavam longe assim como minha tia mãe. Meu bebê estava condenado a morte antes mesmo de nascer, e seu pai, o amor da minha vida, estava morto. Sinceramente ainda não entendo como foi que consegui aguentar teu tudo isso. Talvez eu fosse mais forte do que pensava ser.

Quase uma hora depois, ouvi o barulho dos pneus em contato com o paralelo. Seja lá onde estavam me levando, não era o mesmo lugar que fiquei confinada com Vivá. Um cheiro repugnante de esgoto começou a me rondar, um barulho constante de água caindo entre pedras e o calor me davam ânsia de vômito. Pouco tempo depois o carro parou e um celular tocou.

- Sim, acabei de chegar com o pacote. - a voz grave e com sinais de longos anos de uso de cigarros, falava bem aflita. - Sim, está bem! Por enquanto.

A gargalhada do imbecil me deixou imóvel e congelada de medo. O carro voltou a andar me fazendo desenvolver uma fobia extrema. Meus músculos estavam doloridos de tanta tenção vivenciada em pouco tempo. Eu não conseguia ver nada, apenas sentir e ouvir. Uma vontade enorme de gritar fez minha garganta criar um bolo e o ar não saía nem entrava. Era o pânico me dominando rapidamente.

Preciso ficar calma! Preciso ficar calma!

Repeti essa frase como uma espécie de mantra. Minha pressão sanguínea devia estar bem alta uma vez que minha nuca estava com um peso terrível. Eu precisava controlar os meus nervos ou então minhas chances de escapar seriam nulas, mais do que já eram. Meu bebê não tinha nada haver com isso, e era meu dever proporcionar o direito de nascer para ele. Meu Lucas, minha única maneira de me manter sã diante de tanta maluquice, loucura e doidera.

- Ela até que é bonitinha não acha André? - a voz do careca ao meu lado me tirou do meu mantra. - Podíamos nos divertir com ela enquanto os caras não chegam.

A mão dele subiu vagarosamente do meu joelho até minhas coxas e meu instinto começou a lança adrenalina para o meu corpo mais uma vez. Me sacudiu tentado livrar meu corpo de seu toque tão podre quanto um esgoto.

- Você é louco porra? - o meu sequestrador oficial berrou e senti o vento de sua mão passando por mim e empurrando o filho da puta que tentava subir em cima de mim. - Ela tá grávida!

- Os dois vão morrer de qualquer forma! - o outro rebateu furioso.

- Que se foda! Recebemos ordem claras de traze-la com vida. - o grandão gritou e senti meus tímpanos zunirem. - Não toque nela!

- Você não é meu chefe! E eu não vou matá-la. Só me divertir um pouco. - ele respondeu voltando a colocar suas mãos em mim só que com mais força e sem nenhum pudor.

Ouvir o destravar de uma arma, e senti a presença dela a pouco centímetros do meu rosto. A tensão estava tão evidente que eu jurei que o meu sequestrador tinha atirado. Mas não. Ele apenas ameaçou e o outro me soltou imediatamente, se afastando o máximo possível dentro daquele carro.

- Desce do carro Toni. - a voz era tão ameaçadora que me fez arrepiar cada pelo do meu corpo.

- Ei, eu já parei, caralho! - a voz do careca pervertido era suplicante e temerosa.

- Desce dá porra do carro agora, Toni. - dessa vez ele berrou e senti até um pingo do que eu achava ser baba cair no meu braço desnudo. - Não vou falar de novo.

- OK! - ouvi a porta destravando e a presença do homem nojento se afastar de mim.

Pensei em pular do carro e sair correndo. Mas três motivos me prenderam no lugar. O primeiro, eu poderia cair e machucar meu filho, já que não conseguia enxergar nada. Segundo, o careca pervertido chamado Toni estava do lado de fora e me pegaria facilmente, e Deus sabe o que ele faria comigo. E por último, tinha uma arma engatilhada bem na frente do meu rosto. Por esses perfeitos e convincentes motivos permaneci quieta como uma boa menina.

A porta do carro se fechou novamente e ele seguiu mais alguns minutos até parar. Ouvi as portas se abrirem, um homem e não sei se o motoristas ou o "poderoso chefão", que me tirou dá mata, me fez descer do carro e ainda com o capuz na cabeça guiou-me por um caminho desconhecido. O barulho de água correndo era tão perto que parecíamos estar às margens de um rio. Andei por alguns minutos até que o barulho fosse diminuindo e quase se extinguindo. O som de uma tranca ecoou muito alto, logo após, o som dos passos e enfim paramos. Provavelmente estávamos em um lugar bem deserto. O cheiro de mofo invadiu com pressão minhas narinas, assim como o cheiro de sujeira acumulada. Me empurraram mais e desfizeram o nó dá corda que estava atando minhas mãos, e antes que eu conseguisse tirar o capuz, fecharam e trancaram uma porta grande de ferro.

Uma luz forte fez meus olhos arderem, e tive que comprimi-los até que se acostumassem. Com desespero e como de praste corri para a porta socando-a. Tolice, mas eu esperei mesmo que alguém ouvisse meus gritos de socorro e viesse me resgatar. Depois que meu papel como a pobre vítima se encerrou, comecei a vasculhar o local para reconhecer minhas possíveis rotas de fuga. Paredes acolchoadas, apenas uma janela horizontal dá largura da minha coxa, e a cada característica evidenciada, meu peito disparava. Eu estava trancafiada em um manicômio desativado no meio do nada.

Lugar perfeito para toda a loucura vivenciada.

Os tecidos amarelados, antes brancos, começaram a se transformar em borrões. O ar estava tão denso que meus pulmões não conseguiram absorver a massa que não penetrava meu nariz. A velha sensação de desmaio veio com tudo trazendo com ela uma dor alucinante na cabeça e antes que eu caísse como a Branca de neve depois de ser envenenada, soltei um grito desesperado colocando todo o ar restante para fora. Com medo que minha queda fosse de frente, me apoiei na parede e deixei o corpo descer até que estivesse completamente jogado no colchonete imundo e tão fino como uma folha de papel.

Minhas pálpebras estavam tão pesadas, mas lutei pra ficar acordada quando ouvi a porta se abrindo. O sorriso sádico do cafetão maníaco surgiu na minha frente. E então, não aguentei, apaguei.

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora