Trinta

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Cheguei em casa cansada e bem animada também, afinal tinha acabado de saber que meu bebê é um menininho. Senti uma alegria tão grande em vê-lo formadinho, saudável e enorme. Ele se escondeu nas três ultras passadas, e a Drª. Let achou até que era menina, porque geralmente menina se esconde, fica mais difícil ver o sexo. Mas no meu coração eu sabia que era um menino, e depois de longos sete meses, enfim meu coração estava certo. E eu já sabia o nome que eu queria. Não quero nada indígena, não que tenha vergonha da minha origem, mas pelo amor de Deus eles queriam matar meu filho! Ainda tinha que lhe dar com Vivá que estava mais insuportável que nunca. Segundo ela, o sonho de Cauê era ter uma menina e adivinhe, o bebê dela é uma menina. Mas isso não me abalou, estou muito bem na verdade.

Consegui fazer uma rotina que eu não desse de cara com eles a cada instante. As vezes sentia que estava sendo vigiada durante a noite, mas não via nada. Ou quando estava deitada no grande sofá do escritório lendo os livros de Kiera Cass. Decidi passar a maior parte do meu dia na área da piscina, fazendo as atividades da faculdade que eu freqüentei até o mês passado, lá também terminei o último livro do box de Kiera Cass, A Seleção, e fiquei completamente apaixonada pelo romance conturbado de América e Maxon. Iniciei "A maldição do tigre" de Colleen Houck. E de cara gostei do Ren. As vezes quando sua vida tá uma merda, a melhor solução é focar na vida de um personagem, sei que é um conselho horroroso, mas acredite, alivia pra caramba.

As vezes andava pelo shopping vendo as lojas de artigos infantis e até comprei umas roupinhas brancas. Um macacão lindo de urso polar, um body de coelhinho, tinha um pompom na parte de trás a coisa mais linda. Comprei chupeta, fraldas, lenços, e até um berço que eles chamam de Moisés. Comprei tudo neutro por não saber se de fato meu bebê era menino, mas agora que sei já planejo minha próxima comprar. Quero tudo verde escuro com dourado. A maioria é azul, eu quero algo diferente.

Passo por Vivá que está de short e top jogada no sofá, vendo um programa qualquer alisando a barriga redonda de oito meses. Ouvi ela dizendo a Cauê que o bebê pode nascer a qualquer momento. Ela revirou os olhos quando me viu e fitou a TV novamente, a desgraçada só tinha barriga, continuava magra. Eu por outro lado engordei uns doze quilos.

Claro, comendo doce igual uma formiga, queria o quê?

Cala a boca, sua chata. Ah claro, fiquei mais louca também.

Fui para o meu quarto e tomei um susto enorme, Cauê estava deitado na minha cama dormindo sereno agarrado ao meu travesseiro. Achei fofo, mas tratei logo de subir a barreira que eu criei ao longo destes meses. Entrei, fui pro closet e peguei um vestido verde limão soltinho e deixei minha bolsa lá. Voltei para o quarto e ele continuava a dormir, a sua respiração estava pesada, eu via seu peito subir e descer demoradamente, aqueles músculos, OMG. Os hormônios estão mais atacados a cada semana. Balancei a cabeça para desfazer os pensamentos carnais que eu tive com ele, e fui para o banheiro. Tirei a Leggin preta e a blusinha de alças finas vermelha. Soltei os cabelos que já estavam uns quatro dedos abaixo da cintura. Entrei de baixo da água fria e fiquei pensando na conversa que eu tive com minha mãe, Sarah, que desde o quinto mês passou a me visitar todo fim de semana.

- Querida, seu pai conseguiu um iate. Assim que você completar nove meses, iremos te levar daqui. Procure ficar calma e não se estressar com eles. - ela dizia enquanto acariciava minha barriga pontuda. - Não deixe que descubram nosso plano.

- Mas pra onde vamos? - perguntei sabendo que os Kenuês são quase como fantasma, sempre aparecem.

Inclusive, Kaolin veio me visitar também, quando me neguei a ir pra tribo novamente. Desta vez Cauê não me obrigou e foi com Vivá, dois dias depois voltou com Kaolin. Desde que eu descobri o que eles planejavam contra meu filho, passei a olhá-los da mesma forma. Apesar de saber que ela era tão vítima quanto eu e ser minha mãe, eu não consegui ficar a vontade com ela como antes. Ela estava preocupada com essa maldição, me contou sobre suas teorias do que seria o cipó da vida. O que de certa forma me deixou pior do que eu já estava, uma vez que havia bloqueado esses pensamentos.

- Um dos amigos de seu pai tem uma ilha querida. - ela disse sorrindo me puxando dos meus pensamentos.

- Que amigo? - perguntei curiosa. Afinal meu pai não tinha um poder aquisitivo tão grande assim, a ponto de se envolver com gente desse porte.

- Digamos que seu pai já salvou a vida dele. E eu também não sei quem é, só sei que emprestou e que vamos ficar lar até que se esqueçam de nós. - ela disse contente batendo palmas.

Suspirei triste, eu não queria que Cauê se esquecesse se mim. Você é a pessoa mais louca que eu conheço, Maya Landut Kenuê! Uma hora quer, outra hora não. Decide querida, não quero ter que ficar te lembrando o tempo tudo que ele já fez. Minha consciência gritava pra mim.

- Você ainda o ama, não é? - ela pergunta pegando minhas mãos.

- E amarei pra sempre. - respondi convicta da minha conclusão.

Aquele plano poderia me dar liberdade e também ao meu pequeno.

Saí do banheiro já vestida, penteada e pronta pra fazer as provas finais da faculdade, online, graças a Deus. Cauê ainda dormia profundamente. E meu peito se apertou, e fui caminhando em sua direção passo a passo, chegando cada vez mais perto. Parei na beira da cama e o fitei por alguns segundos até que involuntariamente toquei seu rosto, tirando seus cabelos de sua face. Ele se mexeu um pouco e eu tirei a mão. Ele continuou dormindo, e eu dei um beijo em seu rosto tranquilo.

- Sempre te amarei, mesmo que você não mereça. - sussurrei tão baixinho que nem eu ouvi.

Fui me afastando mais a mão dele puxou meu pulso, seus olhos procuravam os meus e eu olhava pra todos os lugares possíveis, menos pra ele. Levantou e ficou sentado na minha cama alta e me puxou para o meio das suas pernas. Pousou a cabeça na minha barriga e apertou-me pela cintura. Beijou toda a extensão do meu ventre fazendo-me suspirar e fechar os olhos. O neném começou a mexer muito, e era possível ver ele passando de um lado para o outro.

- Ei bebê, papai está te esperando aqui do lado de fora. Louco pra te beijar. - ele sussurrou contra a minha barriga, e o bebê mexia muito me fazendo perder o ar.

- É um menino. - digo quando o ar volta.

- Um menino? - ele pergunta olhando pra mim com um sorriso gigante no rosto. E eu sorri afirmando. Ele me apertou mais. - Ei filhão, vai me ajudar a tomar conta da mamãe hein? - ele beija os bolos que se fazem em minha barriga sorrindo feito criança. - Qual nome pretende colocar nele?

- Lucas. - digo me afastando ao ver sua expressão de decepção.

- Não vai colocar um nome indígena? - ele diz ficando de pé.

- Não, acho que a parte indígena da família dele o quer morto. Então porque homenagea-los? - disse seca. Ele balançou a cabeça e me fitou com raiva.

- Eu não o quero morto. Sua mãe também não. Ninguém quer. Pela Lua, acha que somos tão desprezíveis assim? - ele explode passando as mãos pelos cabelos compridos que ele cortou semana passada, quando foi a tribo.

- Sim, acho. - digo cruzando os braços abaixo do peito. - Seu pai é o chefe, o representante da tribo, se ele quer, significa que todos querem.

- Está louca? Eles só querem o fim da maldição que já tem afetado outras famílias. - ele tenta se explicar exasperado.

- Tirando a vida do meu filho? - grito irritada.

- Claro que não. Casa dia que passa penso que cortar o cipó da vida nao irá matá-lo. - ele diz andando de um lado para o outro. - Sua mãe me disse que talvez se trate do cordão umbilical.

- E você acredita nisso? - pergunto descrente.

- Tenho colocado toda a minha fé nisso. - ele responde se aproximando, me abraça e eu quero empurrá-lo, mas não faço. Apenas o deixo me abraçar. - Sei que você não acredita, mas eu te amo.

Suas palavras me queimam e sem pensar muito tomo seus lábios em um beijo desesperado e exigente. Ele me aperta mais e segura meus cabelos molhados aprofundando o beijo. Mordo deu lábio inferior e o empurro quando a imagem dele e de Vivá juntos explodem na minha mente.

- Preciso ficar longe de você. - sussurro ser ar. - Eu não posso te amar.

- Sim, você me amará mesmo que eu não mereça. - ele repete minha declaração. - Pra sempre!

Elo Perfeito #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora