I

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Eu me encontrava sozinho e desolado, apenas tratado como um animal que se sujeita a fazer o que os homens mandam. Nunca pensei que ser um animal era as vezes tão ruim, devo respeito aos elefantes e cavalos que tanto escravizei em minha vida de guerras e vitórias.

Minhas lutas! Minha vida! Meus Pais! Faz tanto tempo que estou preso ao corpo de tigre, que não me lembro como é ser homem outra vez, se é que terei essa oportunidade algum dia. E quando este dia chegar, não vou cometer os mesmos erros. Nunca mais.

Estava eu aqui, outra vez, fazendo mais truques no Circo, este até agora foi o único que não me maltratou e nem me deixou passar fome ou frio, as pessoas me respeitam aqui como um tigre, mas, nem sabem quem eu sou de verdade, e eu queria muito pedir ajuda, mas não posso.

Mais uma noite comum como as outras, espero ansioso para me buscarem e me levarem para o palco, onde me submeto às apresentações ao público. Quando anunciam meu nome, e me cutucam com uma vara, saio de minha jaula. O Domador chicoteia várias vezes o chão, me encorajando à executar os saltos, e me supero mais uma vez, pulando as banquetas e ultrapassando o arco com fogo. Como sempre para fechar o espetáculo, o domador coloca sua cabeça em minha boca, um tigre qualquer não suportaria isso e o devoraria, mais como não sou normal e não sou agressivo, e muito menos assassino, espero tranquilamente os segundos até ele retirar sua cabeça. Terminado a apresentação, recebo os devidos aplausos, estou calmamente esperando me tirarem do palco quando, percebo algo estranho, como se eu estive esperando alguém, estou sentindo uma esperança familiar, não sei explicar, devo estar ficando louco. Com esse pensamento, obedeço aos comandos e salto para a jaula, que em seguida é coberta com uma lona preta para que não me veem e partem comigo dali, e, num breve e curto momento, enquanto ultrapasso a saída da tenda do circo, uma leve e calmante brisa com o perfume, que, parecia pêssego e creme me envolveu, era um cheiro delicioso e que não senti nunca em minha vida de tigre e nem de homem, mais como veio, o cheiro rapidamente desapareceu no ar.

Chegando à minha jaula, trancada com muitas portas de aço, impedindo qualquer pessoa de invadir, ou de qualquer animal a sair, me serviram o jantar e me deixaram sozinho. Mas eu me sentia sozinho sempre, em qualquer momento, desde que perdi meus pais, e ainda mais depois que fui capturado. Toda vez me pergunto onde está o Kadam ou Kishan, e se estariam tentando me achar. Com esse pensamento eu sorrio, pois Kishan nunca que iria se preocupar comigo, só se importava com ele mesmo, mas o Kadam com certeza estaria, isso me dava um mínimo de esperança. Com isso, resolvi descansar o máximo, pois amanhã teria que fazer tudo novamente, entrei num sono profundo, um sono que nunca tive a muito tempo.

Acordei com uma manhã linda, mesmo eu não sendo capaz de aproveitar ou sentir, podia imaginar, pela pequena janela que existia em minha jaula, os raios do sol aquecia meu lugar. Foi no exato momento em que eu observava o sol que meu domador entrou em minha cela com uma garota, a garota mais linda que já vi em minha vida de mais de 300 anos. Ela me olhou, com olhos castanhos e redondos, bem redondos, possuía cabelos castanhos, que estavam presos em uma trança bem feita, no momento que meus olhos encontraram os delas, senti um tremor dentro de mim, como se alguma coisa presa e escondida escapasse, senti meu coração enjaulado se acelerar e perder o controle.

O Domador preparou meu "café da manhã'', mas nesse momento não conseguia prestar atenção nele, meus olhos era somente na moça bonita que estava em pé em frente à minha jaula. Ele instruiu a menina que fosse buscar meu pedaço de carne, e eu não queria que ela saísse dali, mais felizmente ela voltou em frações de segundos com meu lanche. Ela mesmo colocou a carne em meu recipiente, me olhando com o que parecia ser medo, eu também fiquei olhando-a, e me decepcionei com o que ela disse a seguir:

- Sr. Davis, esse tigre é macho ou fêmea? - Perguntou ela cautelosa.

Queria poder falar eu mesmo o que sou! Mas por motivos óbvios não posso fazer mais nada a não ser rosnar baixinho.

A maldição do tigre - Versão Ren // KishanOnde histórias criam vida. Descubra agora