XIV

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Entrei um pouco na barraca, e Kelsey se mexia descontroladamente embaixo da colcha. Estava preocupado, ela nunca teve um pesadelo assim. Ajoelhei perto dela, já na forma de homem e tentei acordá-la. Mas ela não respondia. Enquanto se remexia gritava:

— Ren? Onde você está? - gritava, diversas vezes.

Que tipo de sonho ela deve estar tendo comigo? Tenho que acordá-la. Ela continuava:

— Ren, volte! Preciso de você.

Precisa de mim? Enquanto refletia sobre essa frase eu a sacudia tentando acordá-la. Mas ela não acordava parecia que estava em um transe.

— Ren. Por favor, não me deixe - pediu.

Ela começou a chorar, e nesse instante um raio atingiu uma arvore lá fora, ela gemeu alto. Kells... Meus olhos estavam ficando marejados.

— Ren, por favor volte. Não me deixe, por favor.

Ela esta desesperada e, mais lágrimas descem pelo seu rosto. Mas o que é isso? Eu a sacudia mais forte. Uma lágrima cai de meus olhos e eu a seco rapidamente. Ela se sacode, e grita:

— Não! Não pode ser!

Deitei ao seu lado e a abracei com toda a força que podia. Fiquei assim, com ela nos meus braços por segundos. Até que ela parou de se mexer, gemeu e abriu os olhos, cheios de lágrimas. Ela olhou ao redor, para fora da barraca, viu a chuva e a árvore que o raio atingiu. Então seus olhos se voltaram até pararem nos meus.

— Ren? - perguntou baixinho ainda com lágrimas descendo.

Enxuguei suas lágrimas com os dedos. Estava assustada, dava para ver em seus olhos.

— Shh, Kelsey. Eu estou aqui. Não vou deixá-la, priya. Mein yaha hoon. (Tradução: Nunca irei permitir)

Ela agradecida, estendeu os braços e envolveu meu pescoço, se aninhando a mim. Deitei mais  para perto dela e a abracei com mais força. Vê-la nos meus braços aflita, me fez ver como ela era frágil. Fiquei acariciando seu cabelo.

— Quietinha agora. Mein aapka raksha karunga. (Tradução: Não se mexa meu amor) Eu estou aqui. Não vou deixar nada acontecer com você, priyatama - sussurrei.

Ficamos assim pelos minutos seguintes, a tranquilizava com palavras hindús, ficava acariciando seu cabelo e suas costas. Ela ficou quieta e pensativa, e me abraçou com muita força. Parecia que tinha medo de eu ir embora. O jeito desse abraço dela me fez refletir sobre algo: Kelsey me amava. De alguma forma que não conseguia entender, mas ela me amava, ela precisava de mim. E eu com certeza a amava e também precisava dela. Isso esclarecia e ao mesmo tempo me deixava mais confuso. Ela me abraçou com mais força, e ficamos assim. Até que meu tempo se esgotou.

— Obrigada por estar aqui - sussurrou em meu ouvido. - Fico feliz por você fazer parte da minha vida. Por favor, fique na barraca comigo. Não há razão para você dormir lá fora na chuva - pediu.

Ela beijou meu rosto e voltou a se deitar, cobrindo com a colcha. Me transformei em tigre e deitei ao seu lado, o mais perto possível. Ela passou o braço ao redor do meu pescoço e se agarrou ao meu pelo. Assim adormeceu, dessa vez sem mais sonhos.

Na manhã seguinte, acordei bem cedo e fiquei lá fora, pensando sobre o sonho de Kelsey. Ela precisa de mim, ela precisa de mim... fiquei repetindo isso na minha mente várias vezes. Talvez eu pudesse tentar de novo... ou não. Melhor não. A primeira tentativa foi falha. Como ela disse... fui antiquado demais. Passado um tempo, ouço kelsey acordar, eu já tinha assumido a forma humana. Ela saiu da barraca, se espreguiçou e disse:

— Nada de banho hoje - disse olhando para a cachoeira que agora caía arrastando pedras e troncos de árvores, por causa da tempestade.

— Não tem importância. Vamos ao encontro de Kadam. É hora de retomar nossa jornada - falei.

A maldição do tigre - Versão Ren // KishanOnde histórias criam vida. Descubra agora