Epílogo

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Fazia um mês que ela se foi. Um mês que ela partira sem dizer adeus, me deixando aqui, sozinho. Após sua partida eu fiquei alienado andando pela casa. Kadam tentava me aquietar, mas eu simplesmente não conseguia. Eu a amo! Foi o que eu disse para ele, mas claro, ele não podia fazer nada.

Kishan fazia questão de tentar me vencer em lutas que Kadam nos empenhava. Lutávamos vezes como tigre, vezes como homens, e nas duas versões eu me distraia pensando nela, na verdade, eu penso nela todos os minutos do dia. Kelsey é como uma droga, uma droga que vicia e te faz implorar por mais.

Eu já me acostumei que ela não voltaria, já virou uma rotina entrar em seu quarto e sorrir ao lembrar da primeira noite que passamos juntos ali, eu penteando seus cabelos. Mas depois lembro da última... Acabo sempre derramando lágrimas. Eu queria poder toca-la, sentir seu cheiro de pêssego e creme que me deixa embriagado, até mesmo ouvir seus sermões. Por que que você tem que ser tão azarado Ren? É a segunda mulher que te deixa, de uma forma ou de outra isso se repetiu.

Algumas semanas se passaram, e Kadam estava nos ensinando a manusear armas novas, que Kishan e eu não conhecíamos. Também nos ensinava novas fomas de luta. Não pude deixar de perceber que Kishan levava tudo aquilo como uma briga pessoal, não como uma aula de aprendizagem. Dois dias, duas semanas, dois meses... se eu dizer que estou bem, irei estar mentindo.

Kadam faz ligações semanais para Kelsey, nesses poucos minutos posso aproveitar para matar a saudade de sua voz que tanto amo. As vezes quero arrancar o telefone de Kadam e implorar para que ela volte, mas sei que não adiantaria.

Em uma tarde de lutas, eu e Kishan lutávamos corpo a corpo. Eu ansiava para aquele momento. Sentir dor, por um tempo limitado, me fazia esquecer dela. Ele estava bastante empenhado em quebrar meu nariz, e eu bastante empenhado em apanhar, era uma combinação perfeita. Ele avançava com rapidez, enquanto eu só recebia os golpes. Mas de repente ele parou, o que era estranho, geralmente ele só para quando me vê no chão ou ao contrário - o que ultimamente é raro.

Um soco, foi o que ele deu. Dois socos. Três socos. Eu cai no chão com um baque alto. Kadam não estava por perto, e por um momento eu pensei que Kishan não pararia. Mas ele parou e esperou eu me recuperar. Me levantei cambaleando e ergui os braços na frente do corpo, eu devia absolutamente, estar com algum osso quebrado, minha aparência nesse momento deveria estar patético.

  — Vai mesmo fazer isso? Deixar que te esmurrem sem nem ao menos fazer esforço? - berrava - Levanta e faz alguma coisa! Está tão infeliz ao ponto de se deixar ser espancado! - ele riu debochadamente - O poderoso príncipe do Império Mujulaain, o Sumo Protetor do Povo, o campeão da Batalha dos Cem Cavalos, herdeiro do trono, fora abatido por uma garota. Isso é patético. - ele lançou sua arma no chão ao meu lado. - É repugnante vê-lo assim no chão, não se da conta de quanto isso é ridículo? - continuou - Não há nada mais patético que um tigre covarde lambendo suas feridas. Por que isso que você é! Um covarde! Um covarde que nossos pais teriam vergonha de ter como filho.    

 Kishan rosnou e berrou. Disse verdades que me machucaram, mas eram apenas verdades. Suas palavras adentraram tão fundo dentro de mim que eu sai de meu transe interno. Era tudo mais claro agora. Tudo o que eu precisava ouvir, Kishan mesmo de seu jeito torto, me ajudou a clarear a mente.    

Ele estava ofegante e me lançou um último olhar. Eu me aprumei e devolvi o olhar de agradecimento pela "ajuda". Finalmente Kishan servira para alguma coisa.

A maldição do tigre - Versão Ren // KishanOnde histórias criam vida. Descubra agora