Todos nós temos fantasmas na vida...
Os de Caroline Waters são a confiança nos homens. Desde que foi deixada grávida pelo pai de seu filho, tem se dedicado a cria-lo com ajuda de seus pais e com muito esforço e dedicação. Caroline cursa publicidade...
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Curitiba/PR, janeiro de 2014.
"Estávamos juntos, abraçados, no Jardim Botânico, meu lugar favorito aqui em Curitiba. Os olhos dele sempre me passavam confiança e eu me sentia segura nos seus braços. De repente ele começou a se afastar, foi para longe, mais longe, mais longe. Tudo o que eu ouvia era ele gritando: Eu vou voltar! Ele é meu!"
- Mamãe... - Eu escutei alguém me chamar e fui aos poucos abrindo os olhos.
- Eu estou aqui.
- Vovó disse que está na hora de acordar se não vamos nos atrasar.
João Vitor era meu despertador, com apenas 3 anos já estava animando a casa antes de todos acordarem pela manhã.
- Vamos então.
Meu filho foi direto para a cozinha me esperar, enquanto eu tomava um banho, havia tempo que eu não sonhava com o Fernando e o banho seria essencial para me acalmar. Desde o incidente com ele e sua mãe, eu não durmo direito, sempre penso que ele pode aparecer e levar meu filho embora. Meus pais não sabem desse episódio, não sabem que sua mãe me ofereceu dinheiro, me recusei a contar–lhes esta parte. A versão os meus pais conhecem, é a tradicional: Ele não queria assumir e fim da história. Meu pai ficou arrasado e minha mãe ainda mais desolada.
Entrei em depressão nos primeiros dias, meus pais ficaram preocupados e deram graças à Deus quando surgiu uma nova oportunidade de emprego na filial onde meu pai trabalha. E decidimos que era melhor nos mudarmos e entrarmos de cabeça nessa nova oportunidade e estamos aqui em Curitiba já a três anos.
Hoje eu vou começar no segundo ano da faculdade de Jornalismo na PUC, estou animada pois terei uma entrevista de estágio em uma grande empresa de publicidade.
Desci e todos estavam me esperando no café.
- Que bom que acordou filha. Você vai levar o João Vitor para o jardim hoje? – Questiona minha mãe, observando meu filho.
- Vou sim.
- E depois vai na entrevista?
- Sim, está tudo certo. – Afirmei entre a mastigação do pão.
- Então vamos terminar de escovar os dentes, não é amor? – Minha mãe dizia a João Vitor.
- Está tudo bem filha? – Meu pai disse quando minha mãe saiu.
- Está sim. Devo estar nervosa com a entrevista.
- E com a faculdade?
- Sim com a faculdade também.
Nem acreditava que estava indo para o segundo o ano. Nem preciso dizer que eu era uma pessoa com poucos amigos, não é mesmo? Assim que eu falava a palavra "filho", normalmente as pessoas se afastavam de mim quase que instantemente. Eu tinha uma única amiga, Lúcia, ela me ajudava em tudo. Ela era melhor amiga do Pedro também, um amor de pessoa comigo e apaixonado por Lucia desde sempre. Já que os dois são amigos de infância, ele tem medo de se aproximar e acabar estragando a amizade dos dois. Agora eu, Carolina Waters, não me apaixonava. Não mais.
Sério! Desde o acontecimento com Fernando, parece que uma peça dentro de mim entrou em curto. Não consigo confiar em homem algum, claro que eu ficava com um ou outro, mas não passava disso.
Eram quase 8 da manhã quando eu deixei meu pequeno no jardim. Ele estava animado como sempre.
- E meu beijo? – Pedi ao vê-lo ansioso para sair logo do carro.
- Desculpa mamãe... – Ele disse voltando e eu o beijei em seu rosto.
- Já sabe né, obedece a professora. – Ele sorriu e já saiu correndo do carro.
Minha entrevista estava marcada para às 9h30, eu podia dirigir calmamente até o local e assim o fiz. Estacionei meu carro, dei uma conferida em meu look e me dirigi até o local da entrevista.
Uma jovem me recepcionou, verificou se minha entrevista estava agendada e me encaminhou até o andar onde a faria.
Ao chegar no andar da entrevista, outra recepcionista me recebeu.
- Bom dia, eu vim para a entrevista com o senhor Ferreira. – Afirmei com todo meu tom profissional.
- Você é a senhorita Waters?
- Isso mesmo.
- Só aguardar.
- Tudo bem.
Fiquei de pé mesmo, aguardando naquela recepção. Em volta haviam algumas portas de salas bem elegantes. Eu observava tudo, quando de repente, um jovem abriu uma das portas e era acompanhado por um senhor, que ia atrás dele.
Eu juro que eu não queria escutar, mas era impossível.
- Erick, você tem se tornar homem, meu filho! – O senhor gritou em alto e bom som.
- Se me tornar homem significa assumir a sua empresa, eu não quero, obrigado! – E foi com passos acelerados, em direção ao elevador.
Eu estava no meio do fogo cruzado, mas permaneci de pé no mesmo local — no meio da recepção — Foi quando me virei para ver o tal jovem que estava aguardando o elevador abrir e como um imã, ele se virou e me olhou. Haviam chamas em seus olhos, mas além disso eu via tristeza neles também.
- Erick Ferreira, volte aqui! – O senhor gritou novamente, ao ver o jovem entrar no elevador e as portas fecharem.
Eu permanecia atônita vendo aquela cena.
- Desculpe senhorita Waters. – A recepcionista disse.
- Sem problemas. – Eu disse, mas na verdade é que numa situação dessa eu não sabia o que dizer. – Se quiser, podemos marcar a entrevista para amanhã!
- Vou ver como estão às coisas e já vemos isto.
Nisso o tal senhor Ferreira, que tinha voltado a sua sala, apareceu novamente e disse com uma calma que até estranhei.
- Vamos para entrevista senhorita Waters?
- Senhor, eu estava conversando com a senhorita Waters sobre remarcar a entrevista. – A secretária respondeu por mim.
- Não tem necessidade Ana, por favor. – Disse a ela e depois me fitou, gesticulando com os braços, indicando a sala da entrevista. – Desculpe pelo inconveniente, às vezes é impossível controlar os filhos.
Eu apenas sorri. Sabia que iria passar por isso mais para frente.
- Eu entendo.
Ao entrarmos na sala, fui surpreendida com "a pergunta".
- Você tem filhos senhorita Waters? – Não tinha para onde escapar.
- Sim, tenho.
- Você é muito nova para ter um filho. – Disse, enquanto analisava meu currículo.
- E não me arrependo, pode acreditar.
- Pois bem, você está indo para o segundo da faculdade de Jornalismo isso.
- Sim.
- Mora com os pais?
- Isso, eles sempre estão comigo, quer dizer me ajudam com meu filho.
- Você não tem muita experiência, não é? – Ele estava sendo rápido na entrevista.
- Não, mas aprendo rápido, sou comprometida e não tenho compromissos com relacionamentos. A não ser meu filho.
- Vocês sempre moraram em Curitiba?
- Não senhor. Morávamos em Florianópolis e meu pai viu uma grande oportunidade em uma filial da empresa em que ele trabalha, e viemos para cá.
- Ah sim, eu tenho mais algumas entrevistas para fazer e acredito que até o final dessa semana eu já tenha uma resposta.
- Obrigada mais uma vez. – Me despedi e me retirei da sala.
Sai da Angels Publicidade um pouco desanimada, não fui muito bem como gostaria de ter ido. Mas eu precisava do estágio, iria ajudar muito em casa.
Me resta apenas esperar e torcer para que eu o consiga.
A única coisa que insistiu em invadir minha mente naquele dia, além da entrevista, foi o olhar do filho do senhor Ferreira. Quando ele me olhou eu senti algo, era como se os olhos dele quisessem gritar, se libertar de algo. Era um verdadeiro enigma. Que seja, apenas desejo sorte e que eu consiga aquela vaga de estágio.