Blood haunts u.

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Minhas pernas já doíam, meu corpo todo tremia e a chuva parecia pesar toneladas sobre mim.

Agora eu realmente me arrependo de não ter comido por causa daquele idiota.

Me sentia um zumbi, juro que se tivesse um bando deles, eu me enturmaria facilmente pelo modo que estou andando.

Sinceramente, eu não tenho respostas de nada na minha vida, mas de uma coisa eu sei, nunca vou chegar a cidade desse jeito, definitivamente, NÃO.

Eu disse: Não.

N ã o.

Olhei pro céu e vi alguns raios solares atravessando aquelas nuvens cinzas, pelo menos a chuva estava diminuindo, não que hoje seja meu dia de sorte por isso.

Quando voltei a olhar para estrada, era tarde demais, tropecei em uma pedra e cai de cara na lama.

Fantástico, que maravilha.
Adoro marrom.
É realmente minha cor, realça minha cara de trouxa.

Levantei e passei a mão no rosto tentando me limpar.

— A chuva tinha que parar agora, não é mesmo? — Reclamei olhando pra cima.

— Tendo um dia ruim? — Uma voz grossa surgiu atrás de mim.

Me virei ficando frente a frente com o homem, consideravelmente alto, que aparentava ter por volta dos 40 anos.

— Eu diria que ruim é elogio pra esse dia. — Apontei pra lama sobre todo meu corpo e ele riu pelo nariz.

— Pra onde você tá indo? — Disse assim que viu minha mochila.

Hesitei um pouco, mas por fim, respondi:

— Pra cidade.

Ok, e agora? Vai me sequestrar?

Ele sorriu ajeitando o boné em sua cabeça, pôs a mão no bolso e logo retirou a chave de um carro.

— Quer uma carona?

— É.. Seria ótimo.. — O alívio era claro em minha voz.

Nós caminhamos até a casa dele enquanto conversávamos sobre a vida (Sem entrar em detalhes, claro).
Ele era tão gentil e educado que até esqueci o que tinha dito para mim mesma sobre não confiar em ninguém.

Até parece que o cara vai chegar anunciando que é encrenca. Ah tá.

Chegando lá, eu não diria que tomei banho, mas limpei aquela lama de mim e vesti outra roupa.

Assim que terminei, Ethan me levou até seu carro (eu sei que ele se chama Ethan porque não iria tomar banho na casa de alguém que eu não conheço, então perguntei o nome, pra ser uma pessoa que não conheço, mas que sei o nome.)

Entramos no carro e ele deu partida, seguindo estrada afora.

Os minutos passavam e nós dois seguíamos em silêncio apenas encarando a estrada.
Notei uma pequena foto caída no chão do carro e me abaixei para pega-la.
Era uma mulher, corpo bronzeado, cabelos encaracolados e um sorriso grande, ela era maravilhosa.
Ethan me lançou um olhar e logo voltou a olhar para frente.

— Quem é..? — Indaguei ainda olhando a foto.

— É minha esposa. — Informou. — Deve ter caído da minha carteira.

— Ah, sim..

Depois de algum tempo chegamos a cidade.

— Você pode me sugerir algum lugar pra comer? — O olhei.

— Claro. A uma quadra daqui, tem um restaurante chamado Higgins, eu vou lá mais pela bebida, porém tem uma comida maravilhosa. — Ethan sorriu. — Até te levaria, mas tenho que fazer uma coisa.

— Imagina, obrigada. — Sorri. — E obrigada pela carona também. — Acrescentei.

Sai do carro, fechei a porta e acenei pra ele. Atravessei a rua e segui andando.

Nos próximos minutos eu sei o que irei fazer, comer. Mas depois disso, eu não faço a mínima ideia.. E quer saber? Eu não to nem aí, eu to morrendo de fome.

Cheguei ao restaurante depois de um tempo, mais do que a distância pedia na verdade, pois estava meio tartaruga atropelada.

Entrei no restaurante e olhei em volta, um segundo de distração e um garçom se chocou contra mim derrubando suco na minha roupa.

— Eu preciso me benzer. — Passei a mão sobre minha roupa como se fosse resolver algo.

— Me desculpa, eu tropecei e..

— Tá tudo bem. — Interrompi o garçom. — Onde tem um banheiro?

Ele explicou onde ficava apontando a direção.
Fui até o banheiro e entrei no mesmo.

Foi impossível conter o grito, ao abrir a porta, dei de cara com uma garota loira jogada em cima da pia, com uma fita adesiva em sua boca. O sangue escorria pelo seu braço que estava pendurado para fora da pia, as gotas percorriam toda extensão e caiam no chão, formando uma pequena poça de sangue.

Por um tempo fiquei olhando, eu não sabia o que fazer.
Eu deveria chamar alguém? Pedir socorro? Sim, porém meu corpo não recebia meus comandos, minha boca até abriu mas nenhum som foi emitido. Parecia aqueles pesadelos em que você não consegue gritar.

Meus olhos começaram a ficar embaçados e uma voz mansa abafada veio ao meu ouvido, pedindo socorro.
Agora eu já soluçava, chorando descontroladamente.

"Não, não, não", Repeti para mim mesma enquanto saía rapidamente daquele banheiro me direcionando a saída do restaurante.

THE BOXOnde histórias criam vida. Descubra agora