Capítulo 5 - Um Truque de Mestre

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  Quando eu era criança, sempre que eu podia eu tentava nas poucas vezes que eu via o meu pai impressioná-lo. Eu me esforçava ao máximo possível para lhe envolver em minhas fantasias. Daí eu tive a brilhante ideia de criar um jogo, chamado Um Truque de Mestre. No caso o mestre seria eu e, o truque era mentir para ele sendo o mais convincente possível. Afinal ele nunca descobriu que a maioria das coisas que eu encobria eram as mentiras. Mas antes disso, eu tinha que criar um padrão, como um perfil inventado para ele saber quando deve suspeitar de que eu estarei mentindo e quando deve ter a certeza da verdade. E era exatamente isso que eu planejava para aquela mulher.

  -Vai funcionar da seguinte maneira. -Ela disse firme como se mandasse em mim, pena que eu estou amarrado! -Eu lhe perguntarei, e se eu sentir que você mentiu lhe darei a consequência!

  -Certo. Mas acontece que quando eu perguntar, se você mentir como lhe darei a sua consequência? -Perguntei.

  -É simples, você não perguntará nada. Eu até poderia falar, mas não sou tão boazinha assim! -Ela disse severamente.

  -Isso é injusto, mas eu prefiro isso do que ser chicoteado até a morte. Então se puder, pergunte-me! -Eu disse, com a voz um pouco mais firme do que antes.

  -O que você estava fazendo caminhando em direção do território dos Lordes? -Perguntou com um tom autoritário. Ela mal sabe que eu sou um mestre nisso. E que eu estou no comando da situação.

  -Não é óbvio? Achei que você fosse a que sabe de tudo aqui! -Falei irônico.

  -Não me provoque! Responda logo ou arcaique com a consequência.

  -Calma, eu disse brincando. Eu estava procurando um abrigo. -Falei esperando com que, logo ela percebesse esse padrão.

  Afinal todos dizem que as verdades são mais reveladas em tons de brincadeira. Eu espero que ela pense isso também.

  -Você é um espião? -Ela perguntou.

  -Ah claro, com certeza! Como se um espião fosse espionar um lugar, entrando nele pela porta da frente. Genial não acha? -Ela apenas ficou em silêncio, e por um segundo achei que ela não fosse acreditar.

  -De onde você é então? -Ela perguntou caminhando até ficar de frente a mim. E foi ai que eu percebi, eu precisava mentir.

  -Eu sou de uma aldeia humilde. Ou você acha que eu simplesmente apareci? -Eu disse rezando para que ela acreditasse, porque a aldeia era apenas um chute que eu havia dado. Eu nem sabia o que tinha neste lugar ou em qualquer outro.

  -Interessante a sua resposta. E engraçada também, porque até hoje eu nunca soube de nenhuma aldeia. -Ela disse voltando a sua posição anterior, e antes que ela me chicotea-se novamente eu pensei rápido.

  -Claro que não soube. Afinal seu povo a estraçalhou até restar apenas um sobrevivente. E advinha só quem foi o sortudo? -Eu disse tentando mostrar o máximo de naturalismo em minha resposta.

  -Hum... Para quem você trabalha? -Eu pensei bem, e eu não tinha a mínima idéia de como responder a essa pergunta. Então eu simplesmente vou deixar-lá achar que eu menti.

  -Não sei. -Eu disse, me preparando para ser chicoteado a qualquer momento.

  -Pare de mentir. Diga-me a verdade agora! -Ela falou em um tom alto e autoritário.

  -Eu já disse. Eu não sei. -E antes de mais nada, minhas costas estremeceram causando uma dor insuportável.

  -Aceite a consequência! -Ela disse. -O que você quer por aqui?

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