Metamorphosis - Em revisão

I - Spencer (revisado)

"Sabe quando você está assistindo um filme de ação, daqueles com bombeiros que de repente recebem um chamado e saem num carro vermelho a mil por hora, com aquela sirene insuportável?

Você precisa saber que essa sirene sempre me irritou, principalmente porque eu a ouço desde os meus sete anos, a cada cinquenta minutos, em todas as manhãs, que tive desde então, mas hoje é diferente. Hoje é o primeiro dia, do ultimo ano que vou escutar essa porcaria.

"Pêéééééééééé'..."

Você sabe como é uma sala de aula, certo? Inúmeras carteiras enfileiradas em frente a um quadro branco que fica próximo de uma mesa grande – sempre achei injusto não ter uma mesa daquelas -pois bem, desde o ensino fundamental meu lugar sempre foi a carteira que ficava exatamente em frente ao quadro na primeira fileira, mas resolvi mudar isso, eu e minhas amigas seremos do fundão este ano."

Bom, este foi meu pensamento no primeiro dia de aula do ano passado. Hoje, aqui estou eu encarando um edifício enorme com uma placa dizendo "Prédio de humanas."

- Faculdade, aqui vou eu!

Conforme eu avançava os andares percebia que o clima do ensino médio não iria me abandonar. O dia estava nublado, eu estava com meu confortável moletom e minha mochila esfarrapada, enquanto esbarrava em meninas perfeitamente maquiadas às sete da manhã, que pareciam chaveirinhos de seus machos.

Finalmente chego no quarto andar, confiro o número da sala no meu celular e vejo uma mensagem da Judy me desejando sorte, respondo com uma carinha feliz.

Já que meu subconsciente resolveu me assombrar com lembranças patéticas hoje, resolvo não me sentar na primeira fileira, muito menos no "fundão" escolho um no meio. Nos próximos minutos os alunos chegam e tomam seus lugares, dando início a um leve burburinho.

Um senhor grisalho entra na sala e se apresenta como Sr. Gibbs e coloca o título "Introdução ao direito" no quadro. Um grupo de alunos chega atrasado e se dirige para o fundo da sala.

Algumas horas se passam e o Sr. Gibbs continua empolgado descrevendo como a carreira de um advogado é fantástica – besteira, todo mundo sabe que é um saco decorar leis!

Prometi ligar para os meus pais assim que acabasse a aula, mas não estou a fim de ouvir um advogado me perguntando de uma aula que eu odiei. Fico olhando minha lista de contato e paro no nome do Kurt, resolvo ligar. Faz tempo que não falo com ele, na verdade faz meses. Ele sempre foi meu amigo, devido ele ter se mudado, não nos vimos mais, sinto falta da sua risada escandalosa. Depois do quinto toque cai na caixa postal, desligo.

Ainda tenho uns vinte minutos antes do próximo módulo; vou até a cafeteria comprar um cappuccino, mas parece que todo mundo teve a mesma ideia, esta uma fila gigantesca. Faço o pedido e aguardo no balcão, pego meu copo fumegante e volto para o prédio.

Sentada na escadaria observo o gramado verde, o vai e vem de pessoas que se cumprimentam e se dirigem apressadas para algum lugar, pelo minha visão periférica noto que tem um rapaz se aproximando.

- Com licença, sou novo aqui, me mandaram pro prédio de humanas, estudo direito - enquanto escutava o bonitinho balbuciar as palavras, fiquei decidindo se ajudaria ou não essa pobre alma, "afinal, quem me ajudou?" – estou no lugar certo– meu lado bonzinho ganhou essa briga, dei um sorriso amigável e levei ele até a sala.

O dia passou num borrão, fiz algumas anotações, não falei com ninguém a não ser com a moça da cafeteria e com o bonitinho. Chego em casa exausta, checo minha secretaria eletrônica e tenho uma mensagem dos meus pais surtando, porque acharam que eu tinha matado meu primeiro dia de aula.

Decido ligar para eles.

- Oi mãe, tudo bem? Como está o papai?

- Tudo bem, estamos todos bem, mas isso não importa quero saber de você. Como foi seu primeiro dia?

O resto da conversa foi uma avalanche de perguntas, ou melhor, um interrogatório. Depois de dez minutos de conversa tive que inventar que precisava sair pra comprar o jantar. Deixo o celular na mesa e vou tomar banho, me permitindo pensar sobre o dia.

A faculdade é exatamente como imaginei que seria: TEDIOSA, apenas uma versão maior da escola, garotas descoladas, atletas e claro os excluídos - nerds com óculos, espinhas, muitos livros e zero de vida social. E a garota que me olha no espelho só me diz uma coisa...

- Prazer, sou Spencer. Uma nerd que exterminou as espinhas ano retrasado e que esconde seus óculos de aros grossos com uma lente de contato.