XXV

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Se tem uma coisa que nunca será normal para mim é abrir a porta para o Will; fico parados deixando o constrangimento dele aumentar.

- E então, o que tinha para me dizer – falo me apoiando no batente.

- Nossa, você é ainda mais atraente de óculos – diz

- Desculpe, eu não entendi bem – não acredito que ele veio até aqui pra fazer isso.

- Eu disse que você ainda esta com raiva de mim – riso

- E me diga por que eu não estaria? Dá ultima vez que eu chequei você me ferrou bonito – cruzo os braços na ofensiva.

- É exatamente sobre isso que queria conversar e já que não vai me convidar para entrar, que tal irmos tomar alguma coisa? – convida.

- Não vou a lugar nenhum com você, pode entrar, mas não tente nenhuma gracinha. – abro caminho para ele passar.

- Nossa, acho que alguém andou se entupindo de doces por aqui, sobrou algum? – ele pergunta acenando com a caixa da loja de rosquinhas que estava jogada no sofá.

- Não ouse comer o muffin que está aí. Tenho certeza de que você é capaz de comprar seus próprios bolinhos – tiro a caixa de suas mãos.

- Vai logo, Will. Me diz por que veio aqui? – sento na poltrona a sua frente.

- Spencer eu fui um babaca e antes que zombe de mim ou me mate, me deixe explicar, está bem?

- OK!

- No dia que nos encontramos na boate, você mexeu comigo e confesso que fiquei desapontado quando você me deixou na mão e foi embora – um leve sorriso passa pelo seus lábios – mas perdemos contato e cada um seguiu seu caminho, até que você entrou na universidade. Você me parecia familiar, mas eu não conseguia juntar as peças do quebra cabeça, peças as quais você parece ter juntado bem antes de mim – ele me olha inquisidoramente.

- Quando o professor Harris me falou que queria que eu trabalhasse com uma caloura eu fiquei extremamente entediado, mas depois de acompanhar seu trabalho e conhecer um pouco da sua mente, posso dizer que fiquei encantado – ele passa as mãos pelo cabelo – agora vem a parte mais difícil .... Da ultima vez que vim aqui tive a confirmação de que você era a mesma garota da boate, que aquela garota que fez meu sangue ferver era a mesma que estava fazendo o meu cérebro trabalhar de forma divertida. Naquela noite, nossos instintos venceram e eu deixei que as coisas quase fossem longe demais, por isso sai correndo daqui.

- Se acha que isso ai que você acabou de falar, muda alguma coisa está totalmente enganado – falo tentando não oscilar na voz.

- Eu ainda não terminei, apenas escute. Eu fiquei confuso com o fato do que poderia acontecer caso ficássemos juntos, meu cérebro começou a emitir sinais de perigo, fazendo com que a opção de me afastar se tornasse ainda mais atraente, mas nada disso justifica a merda que fiz a seguir. Depois de sair da sua casa eu fiquei andando de um lado para outro, procurando maneiras de me afastar de você e foi nessa hora que decidi tirar você do projeto. Eu sei que fui um idiota e desde o seu telefone soltando os cães do inferno em cima de mim eu não consigo parar de me sentir culpado – ele olha para baixo e por um instante, acredito que ele pode estar arrependido.

- Will, isso não muda nada. O que você fez mudou as coisas de forma drástica, você poderia não falar comigo, mas não tinha o direito de me tirar da pesquisa. Era pra eu ter sido um dos dez alunos a presentar seus projetos de iniciação e você simplesmente não pensou nisso – um turbilhão de palavras passava do meu cérebro para minha boca e eu sentia que a qualquer momento eu poderia explodir – Você pensou nisso enquanto se auto vangloriava e apresentava a pesquisa da sua vida pra todos e principalmente para mim e meus pais?

- Spencer me desculpe, eu sei que o que fiz foi imperdoável, e que te privei de mostrar pro seus pais o que você pretende fazer aqui, Eu fui egoísta, mesquinho e eu mereço que você pense dessa forma sobre mim, não quis me vangloriar para ninguém, tenho orgulho do que faço e foi justamente o seu olhar no congresso ontem que me fez estar aqui hoje. Por favor, vamos deixar esse episódio infeliz de lado e sermos colegas de laboratório, se quiser falo pro Harris voltar a ser seu tutor, garanto que o Gibbs vai entender – ele soa esperançoso.

- Sabe Will, eu notei sua surpresa quando descobriu que meus pais eram advogados, com certeza isso deu um nó na sua cabeça. É meus pais são advogados, grandes advogados na verdade e eles me viram crescer imaginando o quão bem sucedido eu seria como advogada trabalhando ao lado deles – dessa vez sou eu que o olho inquisidoramente – Agora imagina o tamanho da frustração deles quando eu decidi abandonar o curso de advocacia. Imagine o quão frustrada eu fiquei quando você ferrou com tudo, quando diversos alunos tinham suas pesquisas para mostrar a suas famílias a amigos e eu não tinha absolutamente nada para mostrar a eles que eu não sou uma completa inútil – nesse exato momento eu explodo, sinto que as lagrimas vão romper as barreiras e abaixo a cabeça.

- Spencer, está tudo bem? – ele se aproxima de mim e busca meus olhos.

- Não está nada bem Will, ontem além de parecer uma inútil, descobri que eles se sentem culpados por eu não ter escolhido ser um reflexo deles e agora você está aqui se oferecendo para ser meu amigo, não percebe o quão ridículo isso é?

- Spencer, deixando de lado toda a merda que é culpa minha, você não deveria se sentir assim a respeito do que seus pais acham ou não sobre suas ações, você já é adulta e sabe muito bem o que quer para sua vida. O fato de você se abalar tanto com isso me deixa irritado – ele se levanta e vai até a cozinha e volta com um copo com agua.

- Será que eu sei mesmo? Ou estou apenas me enganando? – digo depois de beber agua.

- Olha, eu entendo um pouco do que você está passando e te garanto que todas as pessoas no mundo passam por isso, você só tem que descobrir uma maneira de lidar com isso de forma positiva – ele me encoraja.

- Obrigada! – digo.

- Percebi que você ainda esta ressentida comigo e não tiro sua razão, mas não vou desistir da ideia de sermos amigos. Você tem meu numero, meu e-mail e sabe onde me encontrar na universidade. Você precisa digerir e processar tudo isso que aconteceu, vou aguardar seu contato, leve o tempo que for. Você me acompanha até a porta? – pergunta.

- Claro – sigo-o

- Will, obrigada por aquilo e por conversar comigo, sinto que meu ódio está mais bem alimentado agora- rimos – Obrigado mesmo!

- Estou aqui pra isso e o que precisar Spency – beija minha testa e vai embora.

Metamorphosis - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora