XLI - Will

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Mais uma vez tive que me despedir dela sem querer, isso está ficando cada vez mais difícil. Chego em casa e me jogo no sofá, não perco tempo ligando a TV, apenas tiro os sapatos, me deito e fecho os olhos.

" Como posso deixar as coisas mais sérias com a Spencer, sem assusta-la? Sei que ela quer experimentar um relacionamento comigo, mas ao mesmo tempo percebo que ela também tem alguma espécie de gatilho ligado com o passado. Talvez seja o lance com os pais, ou até mesmo um namoro de colegial. Não posso perguntar para ela, porque se fosse o contrario eu não seria capaz de ser franco – droga! Odeio o fato de me sentir impotente nessa situação"

Pego um almofada do chão e percebo que o perfume dela não está só na almofada, agora que presto atenção, sinto seu cheiro pela casa toda. Vou ate o quarto e a cama esta desarrumada, evidenciando o que tínhamos feito ali. Deito na cama, abraço um travesseiro e mal percebo quando caio no sono.

Acordo com o celular tocando, - seis da manhã – coloco no soneca e desfruto da sensação de sonolência. Levanto e tomo uma ducha rápida, espio pela janela da cozinha e o sol dá seus primeiros sinais de vida; coloco minha roupa de corrida e saio pra correr.

Correr sempre foi algo que me acalmou, me ajuda a colocar as ideias em ordem e o melhor de tudo, sempre me ajudou a nunca para de comer bacon. Desde o ensino médio, cuidar do corpo era algo obrigatório na minha agenda, mas sempre gostei de comer bem – o fantasma da criança gordinha e do nerd magrelo, sempre me assombraram.

Poucas quadras depois chego na universidade e como sempre, sou o primeiro dos corredores habituais. Pego uma garrafa d'água na máquina da arquibancada e a deixo numa arvore que fica estrategicamente na metade do percurso da pista. Me alongo e começo a correr.

Depois de longos 7km, sento nas raízes da arvore e termino minha garrafa d'água, o suor escorre pelo meu corpo, mas não é algo que me incomode – gosto da sensação – me recosto e fico olhando enquanto os corredores mais tardios iniciam sua caminhada.

Estou quase indo embora quando vejo de longe uma silhueta feminina que tenho certeza ser da Spencer, abandono o conforto da arvore e me aproximo discretamente mantendo certa distancia, - afinal assistir da plateia o alongamento de uma dama em trajes esportivos é um espetáculo e tanto.

Sua roupa é discreta, mas contorna cada uma de suas curvas com perfeição, quando ela vira a cabeça alongando o pescoço, torço para que meu esconderijo não seja descoberto e noto que ela esta com fone de ouvidos. Penso em interrompê-la, mas seria muito egoísmo privá-la da corrida e oferecer outra forma de exercício onde o foco fosse outro. Quando saio do meu devaneio erótico percebo que ela já esta correndo e a bons metros de distancia, noto que sua garrafa d'água ficou na arquibancada, saio do meu esconderijo e me sento ao lado da garrafa, esperando que ela não demore muito para sentir sede.

Considerando que estava impaciente para falar com Spencer – mais especificamente colocar minhas mãos nela – demorou uma eternidade até que ela sentiu sede.

- Ora, ora, - ela diz tirando os fones – não esperava te encontrar aqui.

- Não consegui ficar muito tempo na cama – digo entregando sua garrafa.

- Nunca entendi como as pessoas podem ter dificuldades em ficar na cama – ela joga a garrafa no lixo e me surpreende com um beijo casto de bom dia – Quais são seus planos pra hoje?

- Pra falar a verdade estava tentando não pensar nisso, mas você arruinou meu plano – começo a ajudá-la com o alongamento – tenho que analisar umas amostras hoje, por quê?

- Então é melhor não perdemos tempo. Vem, vamos tomar café, mas dessa vez eu pago. – diz e me dá as costas.

Jurava que Spencer tinha proposto o café da manhã na cafeteria da universidade, mas para minha tortura ela me arrastou até a esquina da sua casa. Assim que abri a porta, o velho barulho do sininho de boas vindas e o cheiro de café da manhã caseiro invadiu meu cérebro. Sentamos numa mesinha perto da janela e uma garçonete nos entregou o cardápio.

- Acho que vou querer uma porção de panquecas com morango, ovos com bacon e um cappuccino grande – disse fechando o cardápio e a julgar pela sua expressão, eu sabia que estava de boca aberta – O que foi Will?

- Você não existe – risos irrompiam de mim – você passou as ultimas horas correndo como uma louca e agora vai comer isso?

- Posso saber o que você vai comer senhor geração saúde? – pergunta completamente irritada.

Como num passe de mágica a garçonete aparece na nossa mesa e para provocar Spencer eu abro o cardápio e escolho itens extremamente gordurosos e finalizo o pedido com um café preto sem açúcar - B-A-B-A-C-A, leio em seus lábios – pisco retribuindo a brincadeira. Spencer faz seu pedido e como um motivo de birra adiciona um donut de chocolate.

- Você é impossível – digo jogando o guardanapo na sua direção.

- Não se esqueça Will, de que essa cafeteria é meu campo de jogo, não venha querer barganhar depois – adverte.

Quando nossos pedidos chegam eu realmente invejo a pilha de panquecas, Spencer fica abismada com o fato do meu omelete ser feito só de claras. Começamos a comer e tudo estava indo maravilhosamente bem até que os gemidos de satisfação da Spencer fazem com que eu comece a me retorcer no banco. Tenho certeza que ela percebe isso, um leve brilho passa por seus olhos.

- Então Will, o que me diz do café da manhã? – pergunta.

- Me sinto culpado, mas extremamente satisfeito – confesso – de agora em diante, considero a cafeteria do campus um pulgueiro.

Nos encaminhamos para o caixa e surpreendentemente ela pega uma caixa de donuts para viagem. Assim que saímos da cafeteria, fico tentado a acompanha-la até sua casa, mas mantenho meu foco no dia maçante que terei no laboratório.

- Considerando que eu te apresentei o melhor hambúrguer da cidade outro dia, posso dizer que você empatou o jogo com esse café da manhã maravilhoso – digo.

- Ah cala a boca Will, tenho certeza que suas melhores cartas na manga foram a hamburgueria e o restaurante – ela me entrega o saco com donuts e se abaixa para amarrar o cadarço – meu pau reage na hora – Estamos perto de casa e eu também vou para a faculdade, se quiser te dou uma carona.

Atado pelos meus próprios pensamentos e me controlando ao máximo para que minha ereção não fique tão evidente, aceno afirmativamente. Poucos passos depois estamos parados na porta enquanto ela procura as chaves.

O telefone toca e não consigo identificar do que se trata a ligação, ela entra no quarto e fecha a porta, ligo a TV me sento na cozinha e pego um donut de chocolate, quando estou na terceira mordida ela volta.

- Ah então é assim, o gato sai por alguns segundos e o rato faz a festa – ela diz se aproximando e para na minha frente.

- Não posso negar que sua analogia está correta – provoco. Ela come o ultimo pedaço de donuts que resta e lambe os dedos.

- Demorei no telefonema, você comentou que tem um dia cheio, - ela começa a contornar com os dedos o desenho da minha regata – se quiser posso te levar pra casa ou – suas mãos estão no meu pescoço agora – você pode tomar banho aqui.

Com toda certeza eu estou jogando com o diabo, mas não vou me deixar vencer tão fácil

- Isso seria fantástico, se ao menos eu tivesse uma roupa limpa – digo.

- Mas por outro lado eu posso te emprestar um roupão e você pode economizar tempo indo a sua casa apenas para se vestir. – diz, suas mãos voltaram para a minha cintura e ela começa a tirar minha regata.

- Pensando bem, você tem razão – passo os braços pela sua cintura – todo mundo sai ganhando.

Ela me beija e segundos depois ela esta no meu colo subindo as escadas.

Metamorphosis - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora