XVII

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A música sempre me ajudou nos meus piores momentos, os últimos dias estavam sendo um tormento; meu foco foi instinto, abandonei minha rotina de corrida, ignorava as ligações de todos e hoje fazia três dias que eu não ia pra universidade. Minha vida miserável se resumia a comer porcarias, tocar piano e as aulas de dança.

Todas as noites meu cérebro – a parte racional – me repreendia: - IDIOTA!

De certa forma ele tinha toda razão, eu não estava doente, a causa do meu maldito problema era Will, eu não queria voltar pra universidade e ter que olhar na cara dele. Eu não tinha medo de cair numa conversinha fácil de desculpas, eu tinha medo de que meus frágeis pedaços recém-colados pela segunda vez – num curto período de tempo, diga-se de passagem – caísse morro abaixo. Eu precisava me fortalecer um pouco mais, antes de enfrentar tudo isso de frente. Essa foi minha desculpa durante uma longa semana.

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- Triiiimmm

Apalpo em falso até encontrar o maldito despertador, derrubo-o no chão, mas o barulho ensurdecedor na minha orelha não cessa. Ouço risadas e abro os olhos, sou surpreendida por Ammy.

- Acorda bela adormecida, está na hora de você ressuscitar dos mortos, ninguém mais acredita que você está com uma simples gripe,.... – diz enquanto puxa os cobertores.

- Fala que evoluiu para tuberculose – digo puxando o edredom de volta.

- Eu até poderia usar essa desculpa se você tivesse atendido um de meus telefonemas na sexta, mas o professor Kevin precisar falar com você com urgência, então levanta dessa cama porque já estamos atrasadas.

Com um golpe final ela rouba meu edredom e só sai do quarto quando já estou de pé. Odeio segunda-feira. Realmente estou atrasada, mas não deixo isso me irritar ainda mais. Tomo uma ducha demorada, lavo os cabelos e escolho roupas bem surradas – jeans, botas, camisa xadrez e casaco. No caminho da faculdade Ammy me põe em dia com as novidades e trabalhos da faculdade, me alertando que já tenho uma cópia de tudo no meu e-mail. Despedimo-nos no primeiro degrau da escadaria do prédio de exatas quando o professor Kelvin me chama.

- Spencer, posso falar com você? – diz ao me alcançar.

- Professor Kelvin, claro. Estava indo a sua procura – finjo simpatia.

- Vamos ao meu escritório. – diz tomando a dianteira dos passos.

Dois lances de escadas e algumas dezenas de portas depois, chegamos ao escritório, ele se senta e indica que eu faça o mesmo.

- Spencer, eu espero que tenha se recuperado do resfriado, Will e Ammy me colocaram a par da doença. – disse enquanto o computador ganhava vida – te chamei aqui, porque queria esclarecer pessoalmente o assunto do seu ultimo e-mail.

- Ah sim claro, - respirei fundo e me empertiguei na cadeira – professor como o senhor já avaliou, Will entregou a primeira fase da pesquisa e a mesma se mostrou satisfatória, todavia, eu não tive nenhuma participação na elaboração final desse trabalho, cerca de dois dias antes da entrega, não consegui contato com Will ,logo em seguida fui notificada pelo mesmo sobre a entrega e posteriormente recebi um e-mail do senhor, que indicava que Will insinuou/sugeriu minha mudança na pesquisa, sendo que em nenhum momento falei isso.

- Compreendo, já tive casos parecidos no passado. Presumo que você e Will não queiram trabalhar juntos, então eu só tenho duas alternativas, me dê um instante – diz e se encaminha para o final da sala.

O sentimento de raiva e repulsa que tentei reprimir voltam com força total, cerro as mãos em punhos e a dor das unhas ferindo minha pele impedem que imagens daquele infeliz perturbem minha sanidade. O professor volta com o telefone à orelha e perde uns bons minutos conversando e acessando algum site no computador, quando termina a ligação seu rosto tem um semblante cauteloso.

Metamorphosis - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora