XXXIX - Will

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Todos temos direito há dias ruins, hoje o meu começou bem, mas está se revelando uma grande merda. Já perdi a conta de quantas amostras tive que jogar fora por não darem certo. Frustrado com o fracasso, desligo os equipamentos e lavo as vidrarias, na tentativa de colocar a cabeça no lugar, fecho o laboratório e vou tomar um pouco de ar fresco.

Sento na escadaria e fico olhando os pombos comendo as migalhas do chão, alguns estudantes indo e vindo e a forma como as nuvens brincam no céu. Quando olho no relógio percebo que passei tempo demais sentado e que é melhor ir para casa, meu cérebro – definitivamente – não vai cooperar comigo hoje. Volto para o laboratório pego à mochila no armário e como recompensa a pilha de jalecos, cai sobre mim. Um a um, vou dobrando e colocando de volta na prateleira, no começo odeio cada pedaço de pano, mas depois a lembrança do dia que emprestei o jaleco para Spencer invade minha mente.

Pequena, desajeitada, tímida, mas em nenhum momento pareceu inofensiva. Só de pensar quão otário fui naquela época, mesmo com ela me dando tantas dicas, - que burro. Pego o celular e mando uma mensagem para ela, segundos depois ela me responde. Parece que meu dia vai melhorar novamente.

Depois de meia hora encostado na moto, Spencer aparece na escadaria, ela e Ammy caminham tranquilamente na minha direção. Um grupo de alunos as para no meio do caminho e ficam conversando animadamente. – cada segundo é uma tortura – não aguento mais ficar olhando a distancia tentando decifrar o que a faz rir tão descontroladamente. Coloco o capacete no braço e vou de encontro ao grupo animado de calouros.

- Posso saber o motivo de tanta farra? – pergunto passando a mão pela cintura de Spencer.

- Aí – dá um pulinho – caramba Will, você me assustou –diz me beliscando.

- Spencer, não vai nos apresentar seu amigo? – uma menina loira com uma saia extremamente curta pergunta.

- Prazer, Will. Namorado da Spencer – digo antes que Spencer tenha a chance de dizer algo.

Quase todas as meninas do grupo arregalam os olhos, Ammy me cutucou sem que ninguém percebesse e sorriu diabolicamente. Vagarosamente um a um dos calouros foi inventando desculpas para ir embora o mais depressa possível.

- Will, eu tenho que reconhecer, você o máximo. Desbancar a nojenta da Jess foi incrível. Obrigada por ter feito isso na minha frente – Ammy me da um hifive.

- Realmente foi incrível, mas agora terei atenção redobrada sobre mim, ela e seus súditos não vão sossegar – Spencer reclama enquanto tenta não cair na risada.

- Não se preocupe, eu te salvo do perigo – digo – Agora, vamos dar o fora daqui.

- Hey! hey! hey! Como assim dar o fora, combinamos de estudar na sua casa hoje Spencer. – Ammy lembra.

- Eu sei, e tenho certeza que Will me deixara em casa bem a tempo de estudarmos todos os itens do seu resumo de sobrevivência para a semana de provas – Spencer olha para mim com olhos suplicantes.

- Exatamente, então o quanto mais cedo você nos deixar ir, mais cedo posso levar Spencer de volta para casa. Tchau Ammy – digo subindo na moto.

- Will Campbell estou de olho em você! Não me faça odia-lo. – Ammy fala por cima do barulho da moto. Spencer sob na garupa e saímos do estacionamento.

O sol deixa o céu com um toque avermelhado, do jeito que eu sempre amei. Quando criança ficava pensando que esse rastro vermelho que ele deixa no céu era um rastro de fogo que servia pra deixar as noites quentes.

Metamorphosis - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora