III

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O restante da semana é bem monótono, ligações dos meus pais, das amigas e atividade física. No sábado decido sair pra comprar algumas coisas pra casa – na verdade, minha casa tá mais pra um armazém velho que foi invadido. Odeio me mudar! - Passo por algumas lojas de decoração, fazendo pequenas aquisições.

Depois do almoço, estaciono o carro em frente uma loja de instrumentos musicais, uma guitarra me chama atenção. O vendedor tenta me empurrar milhões de modelos diferentes antes de entender em qual estou interessada – a guitarra com o escudo do capitão américa – o preço me desanima, mas vejo um piano no canto da loja –meus dedos coçam de excitação - pergunto se posso tocar, o vendendo diz que seria legal.

Sinto como se minha avó estivesse do meu lado me dando instruções quando sento no banco e me preparo pra tocar - "Vamos lá pequena Spencer, é só se lembra da sequencia: preto, branco, branco, preto, branco, preto" - ela sempre gostou de clássicos, mas nunca questionou minhas versões modernas. Coloco o fone de ouvido e começo a tocar...

You think I'm pretty without any makeup on

You think I'm funny when I tell the punchline wrong

Costumava cantar essa música com minhas amigas, depois com o babaca do Adam, todos gostavam da nossa versão. Abro os olhos no ultimo verso e percebo que atrai atenção do pessoal e dos clientes da loja. Faço uma reverência cumprimentando a todos e sorrio.

O vendedor se aproxima e me diz que foi uma bela apresentação, perguntando se tenho interesse pelo piano. Peço licença e ligo pra vovó, ela atende no primeiro toque.

- Olá querida, estava mesmo pensando em você, fiz seus biscoitos favoritos essa manhã.

- Vovó, é aniversário do Josh na próxima semana e eu estou numa loja de instrumentos musicais pensando seriamente em dar uma guitarra pra ele. O que acha?

Trocamos uns bons dez minutos de conversa sobre especificações do instrumento até por fim minha avó decidir que a guitarra é ruim.

- Compre um Playstation pra ele. Aposto que ele vai gostar muito mais.

- Acho que sim. – digo enquanto suspiro pelo piano. – Então é isso vovó, obrigada pela ajuda.

- Tudo bem querida, mas sinto que você quer me dizer algo mais. Vamos, me conte!

- Bom, estou em frente a um piano clássico maravilhoso, igualzinho ao que a senhora tem em casa. – tento conter a onda de ansiedade.

- Como você pode não me dizer uma coisa dessas, toque nossa melodia, quero ouvir.

Quando finalizo, minha avó está eufórica e pede pra falar com o vendedor. Alguns instantes de pois ele me entrega o celular e então me despeço – falar com ela sempre me deixa de bom humor.

Tento comprar o piano, mas o vendedor diz que não será possível, porque está reservado. Saio da loja feliz e triste ao mesmo tempo.

...

As meninas chegam em casa exatamente no horário, fico surpresa quando Amber não reclama do meu visual básico – salto, saia e minha blusinha de cetim azul marinho, cabelo solto pra completar – tiramos no palito quem será a motorista da vez, por sorte Judy foi escolhida – ainda bem quero encher a cara hoje.

A boate é nova e esta bombando, as meninas pegam nossa mesa e caímos na pista de dança, cinco musicas depois estou indo para o bar com Amber, ela pede seu drink cheio de especificações enquanto me atenho ao meu velho amigo cosmopolitan – bebida de mulherzinha, eu sei! – consigo identificar alguns rostos da multidão, são meus "colegas de classe", um grupo de deslocados ali, os pegadores atirando pra todos os lados, mulheres de idade querendo recuperar o tempo perdido e a grande maioria apenas desempenhando seu papel na vida noturna.

Metamorphosis - Em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora