A Lenda de Noah [COMPLETO]

6 - 21 de março de 2016 - parte II

A queda da cachoeira forma uma espécie de piscina, onde tomamos banho.

O tempo todo tentamos fazer com que Tricia realmente mergulhe, mas ela insiste que não quer molhar o cabelo.

Eu tento tomar cuidado só para não ficar muito tempo com a mão dentro d'água. Apesar dela estar devidamente segura por uma luva de látex, não quero arriscar que entre nenhum tipo de microrganismo, infeccione e eu venha a óbito no meio desse lugar porque fui burra o suficiente de criar uma colônia de micróbios dentro do meu corte.

Se por um lado a copa das árvores forma uma sombra mais gelada do que agradável, por outro ela também forma um desenho no paredão de pedras por onde cai o feixe d'água.

Analisando a paisagem por um momento, enquanto boio na calmaria, me sinto até abençoada por ter o privilégio de presenciar tal cena.

Eu quase esqueço da vontade que tive de ter ido para a Califórnia.

Em meio a tanto estresse de antes, me sinto como se estivesse em uma espécie de paraíso no caos. Não tem nenhuma música alta, ou as gargalhadas espalhafatosas de Tricia, e nem mesmo as piadas sem graça de Liam. Nada. Somos só nós e um silêncio muito reconfortante.

Os meninos só interrompem essa paz para propor uma brincadeira em que eu e Tricia precisamos subir em seus ombros e então tentar derrubar uma à outra. Mas ela logo embarreira porque não quer mesmo estragar a trança perfeita que fez. E, mentalmente, eu agradeço.

Um tempinho depois, Liam me puxa por baixo d'água até um lugar que, por conta do barulho da cachoeira, ninguém pode nos ouvir.

- Posso te fazer uma pergunta? – Peço, antes que ele fale alguma coisa.

- Se não for muito difícil de responder, quem sabe? – Ele ri.

- Nós não temos papas na língua, certo?

- Certo.

- E eu não preciso ter vergonha de ter falar nada, né?

- Não.

- Então tá... – Respiro fundo, tomando coragem. – Você não gosta de mim, né?

Eu falo tão rápido que talvez ele nem tenha entendido nada, então complemento devagar:

- Quer dizer, você não gosta romanticamente de mim, né?

Liam dá uma sonora gargalhada e me joga água no rosto.

- De onde você tirou isso, Tina?

De repente, acho minha pergunta tão boba que também tenho vontade de rir. E, talvez, de afundar minha cabeça debaixo de uma pedra qualquer para morrer afogada, e não de vergonha.

- Ah, você sabe... Tricia veio me perguntar se já... se já transamos. – Finjo uma careta de nojo.

Eu me entrego à gargalhada agora que estou mais aliviada por ter certeza de que tudo não passou de uma ilusão na cabeça fértil de Tina.

- Sinceramente, Tina, eu amo você. Mas é como se fosse minha irmãzinha mais nova, minha melhor amiga.

Os astros já podem voltar aos seus devidos lugares. Esse é basicamente o mesmo sentimento que tenho em relação a ele, então está tudo bem.

Nós ficamos até perto do entardecer, quando a fome apertou e o sol, que já era escasso nessa parte, deixou de aquecer o ambiente.

A parte de vestir a roupa novamente é complicada porque não conseguimos nos secar completamente. Isso e o fato de que fomos de short e camiseta, e o tempo já pede uma roupa mais quentinha.