25 - 18 de março de 2017

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Hoje é um raro dia de calor aqui em Seattle. E é também o primeiro dia do recesso de primavera desse ano, o famoso Spring Break.

Faz quase um ano desde aquela fatídica viagem para Stainville. Apesar do sol esquentar minha pele, sinto todos os meus pelos se eriçarem ao me lembrar do nome da floresta. Não que seja algo que eu consiga esquecer por um só dia sequer. Mas, especificamente agora, sinto meu coração apertar.

Eu e Lena estávamos sentadas no jardim da casa de meu pai. Quer dizer, da nossa casa.

Depois que saí do hospital, nós duas nos mudamos para cá e minha mãe finalmente aceitou se internar em uma clínica de reabilitação para se tratar. E Bob voltou para sua cidade natal, um distrito pequenininho no interior do estado de Washington.

Não posso dizer ainda que me dou perfeitamente bem com a esposa do meu pai. Mas, enquanto ela cuidar bem de Lena e não fizer nada absurdamente estúpido, acho que podemos viver em paz.

Nós estamos esperando Seth para embarcarmos para Orlando. Dessa vez, aceitei os conselhos inteligentes da minha irmãzinha e nós vamos passar o feriado na Disney.

Eu espero que o Reino Mágico de Mickey e companhia consigam tirar meus pensamentos de Liam e Tricia. Os dois andam comigo diariamente, aonde quer que eu vá.

Até mesmo porque Liam costumava morar há três duas de distância da casa do meu pai. E Tricia, bem, a presente de Tricia sempre foi tão marcante em minha vida que era de se esperar que eu não conseguisse esquecê-la assim tão cedo.

- Cadê o Seth? – Lena pergunta emburrada.

Ela está tão ansiosa para finalmente conhecer as Princesas que sua alegria não cabe em si mesma.

- Ele já está chegando. – Sorrio. – De qualquer forma, nós só vamos pegar o avião mais tarde.

- Nós vamos de avião?!

Quando vejo os olhinhos de Lena se arregalarem, a puxo para um abraço. Dou graças a Deus por ela ter preservado sua pureza e ingenuidade, mesmo com todas as lacunas que nossa mãe deixou em branco em sua vida.

Seth chega em seu próprio carro, com apenas uma mala pequena e uma mochila nas costas. Por mais que esteja sorrindo, eu sei exatamente o que se passa em sua cabeça. É impossível não pensar que há um ano estávamos arrumando as gigantescas mochilas de acampamento. Seu olhar encontra o meu e preciso me concentrar para não chorar.

A maior parte das pessoas pode achar que um ano é tempo suficiente para viver o luto e se recuperar completamente dele. Mas os sentimentos não são uma ciência exata e parte de mim se sente agradecida por não ser a única a se sentir da mesma forma.

Algumas vezes Seth e eu nos encontramos apenas para relembrar histórias antigas e curtir juntos um pouco da eterna fossa em que a morte de Liam e Tricia nos deixou.

- Prontas? – Ele pergunta ao estender os braços para Lena pular em seu colo.

- Sim! – Ela grita.

Eu não tenho tanta certeza assim, mas confirmo com a cabeça e sorrio.

- Você vai amar as Princesas! – Seth sorri para Lena.

E então ele a coloca no chão novamente e se senta ao meu lado, passando um braço pelos meus ombros e me puxando para recostar em seu peito.

- Tina, Tina, Tina... Será que estamos fazendo a coisa certa?

Não sei se é uma pergunta retórica ou se ele espera realmente uma resposta. Mas falo mesmo assim:

- Se é certo ou errado, não tem como a gente fazer agora. Mas, o que eu sei, é que precisamos aproveitar. É o que Liam e Tricia iriam querer que fizéssemos, se estivessem aqui.

- Você sabe que, se eles estivessem aqui, nós nunca estaríamos nessa situação, né?

Dou de ombros porque sei que é verdade. Se nossos melhores amigos ainda estivessem vivos, provavelmente nossa realidade seria outra e nós não estaríamos indo juntos passar o feriado na Disney. Liam com certeza ia sugerir um destino inusitado para ir com Seth e eu provavelmente ficaria sozinha em casa enquanto Tricia se bronzearia nas praias do Caribe. Ou então os três concordariam em ir esquiar no Canadá e eu inventaria uma desculpa qualquer para continuar em casa, talvez lendo ou estudando.

Seth me aperta contra si, possivelmente imaginando o que estou pensando.

Nossa sorte é que não temos muito tempo. Meu pai e a esposa saem de casa com as malas no minuto em que o táxi para em nossa porta. De jeito nenhum ele me deixaria fazer outra viagem sem ele nos próximos anos.

Eu mal tinha percebido que havia ficado tanto tempo absorta em pensamentos com Seth, mas já está na hora de partirmos.

- Estão prontos, meninos? – Meu pai pergunta.

De novo, Lena é a primeira a gritar que sim.

Então eu me levanto com a ajuda de Seth, que estende a mão para segurar a minha.

O toque áspero dos seus dedos calejados contrasta com a pele fina e esbranquiçada onde um dia houve um corte. É uma marca física que vou carregar para sempre, como uma pequena lembrança de tudo que aconteceu.

Mas me sinto segura enquanto estou com Seth, e principalmente quando ele me envolve com os braços e seu corpo está tão junto do mim que meu coração sincroniza as batidas com o dele.

- Vamos? – Ele pergunta.

- Vamos.

FIM 


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Oi oi gente!

Então, chegamos ao fim. O que acharam?

Eu queria muito agradecer por todo mundo que chegou até aqui comigo, que aguentou meu período de bloqueio e mesmo assim não me abandonou ❤

To aqui disponível se tiverem alguma dúvida, crítica ou sugestão!

E, momento jabá, queria também apresentar os contos que escrevi recentemente ou ainda estou escrevendo! 

No perfil @NRAlives vocês podem conferir meu conto da coletânea NOSSAS Mulheres, Segundas Chances, e aqui no perfil os dois contos que escrevi, E Agora? e Não namore o cara do crossfit. Todos são de um gênero completamente diferente de Noah, mas espero que gostem!

Um beijinho, e até o próximo livro!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 06, 2017 ⏰

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