10 - 22 de março de 2016 - parte III

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Parece uma pegadinha do destino, mas hoje é o dia que anoitece mais cedo desde que chegamos aqui.

Liam ilumina o caminho com uma mão e me apoia com a outra, conforme vou tentando descer as ribanceiras do jeito menos estabanado possível.

O caminho de volta não é mais fácil do que o da vinda e eu ameaço me desequilibrar várias vezes.

- Desculpa. – Falo quando já estamos há muito tempo calados.

- Por quê?

- Você sabe, pelo término repentino da viagem. Você planejou tudo tão direitinho, queria tanto vir pra cá. Aí me sinto meio mal que tenhamos que ir embora rápido assim, por minha causa.

- Deixa de ser boba, Tina. Eu não pensaria duas vezes se tivesse que tomar essa decisão de novo por sua casa ou de Seth ou de Tricia. Vocês são mil vezes mais importantes do que uma trilha idiota. Na verdade, talvez o erro tenha sido meu mesmo de ter arrastado vocês para cá. Mas, de qualquer forma, a culpa não é sua, você não tem mesmo com o que se preocupar, ok?

De acordo com o relógio, já estávamos andando por umas 2 horas.

- Cuidado com essa pedra aqui. – Liam aponta para uma rocha particularmente pontiaguda.

- Pode deixar, estou vendo.

Mas eu tropeço mesmo assim e nós dois rimos.

Eu preciso parar por alguns segundos para retomar o fôlego e conseguir andar mais um pouco. A caminhada da vinda, apesar da pausa quando me machuquei, definitivamente foi muito mais rápida e fácil do que agora.

Estou usando uma camiseta por baixo da camisa de flanela e o meu casaco, e ainda assim estou tremendo de frio.

- Eu preciso parar um pouco. – Peço, quando tenho que respirar fundo algumas vezes seguidas.

Liam assente e assovia para que Seth e Tricia parem para nos esperar.

- Você consegue vê-los? – Ele pergunta.

Mas, por mais que eu force a vista e olhe para onde a lanterna aponta, onde eles deveriam estar, não consigo ver nada.

- Não...

- Seth? – Ele chama. – Tricia?

Algo dentro de mim liga o alarme de que algo está errado e instantaneamente eu começo a hiperventilar. Veja bem, eu costumo ser bem calma e centrada no meu dia-a-dia. Eu não me impressiono tão facilmente assim. Posso até mesmo manter a expressão blasé diante de uma pessoa que perdeu algum membro em um acidente trágico. Mas esse lugar mexe comigo de um jeito que eu não sei explicar. De repente, eu sou de novo a menininha medrosa de 3 ou 4 anos que costumava se assustar a cada grito que os pais davam dentro de casa quando brigavam.

- Pelo amor de Deus, Liam, onde eles estão?

- Tricia! – Ele grita novamente. – Seth!

Nenhuma resposta.

Eu me agarro com toda força que tenho no braço livre de Liam e faço coro quando ele chama nossos amigos novamente.

Por dentro, estou com bastante medo, mas me esforço para controlar a respiração e tento forçar a vida para todos os lados, numa tentativa frustrada de enxergar qualquer sombra que possa vir a ser Tricia ou Seth.

- TRICIA! – Grito. – SETH!

Liam se afasta um pouco de mim, sem nunca soltar minha mão.

Mas eles não estão em lugar nenhum.

A Lenda de Noah [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora