A Lenda de Noah [COMPLETO]

22 - 26 de março de 2016 - parte III

Liam se esforça para abrir a mão de Raymond e retira a pequena medalha da Virgem Maria.

- Por que ele tirou isso de você? – Ele pergunta. – Não era proteção? E porque só você conseguiu enxergar o Noah? Você disse que sabia o que ele queria...

- Tenho um palpite.

- Qual? – Seth pergunta.

Eles estão tão perto de mim que não consigo respirar direito, então me levanto e ando de um lado para o outro.

Como posso começar a explicar? Eu não tenho certeza de absolutamente nada. Mas sinto. E é uma sensação estranha, como se eu conhecesse a história no fundo do meu âmago. Mas como posso saber de algo a minha vida toda quando estou ouvindo e vivendo pela primeira vez?

- Vocês se lembram da foto que Raymond mostrou na cabana? Eu sou igual a Katherine, simplesmente igual. Não sei se temos alguma relação além disso, mas... Pouco antes dele morrer, Noah partiu em nossa direção, e eu sinto que ele queria a mim, sabe? Não sei como, mas sinto que ele queria me matar. Talvez a medalha fosse o elo de ligação? Ou talvez ela só fortalecesse esse elo, já que eu cheguei a sonhar com ele, lembra?

Os dois assentem com a cabeça e eu continuo:

- De qualquer forma, foi a sensação mais bizarra que já tive na vida. E agora Raymond, que era o único que sabia como sair daqui, está morto.

- Nós vamos dar um jeito, eu prometo. – Liam aperta minha mão.

Seu toque é gelado, e só então percebo que ele está sem casaco desde que me dera o seu para vestir. Tiro e estendo para ele, que recusa até eu insistir pela décima vez.

- Vista logo! Não está mais chovendo, mas ainda está frio. Eu vou ficar bem com meu casaco se souber que você não está passando frio.

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Nós caminhamos relativamente devagar. Todo o meu corpo dói e eu menciono várias vezes que estou muito perto do meu limite.

- Tina, vamos lá, pare de chorar. – Liam abre um sorriso amarelo para mim. – Vai dar tudo certo, eu vou te proteger até o final.

- Eu não estou chorando! Só quero ir logo embora daqui.

- Nós estamos indo, não se preocupe.

Mas as árvores parecem todas iguais. Por mais que estejamos andando relativamente em linha reta, eu não me espantaria se descobríssemos que na verdade ainda estamos ao lado da cabana de Raymond.

Liam pega minha mão e eu, com a que me restou, pego a de Seth. O corte reclama um pouco pelo aperto, mas não ligo. Sentir os dois junto de mim é mais importante do que qualquer outra coisa.

Se ainda queremos ter qualquer chance, precisamos estar juntos um do outro. Física e emocionalmente.

- Vai dar tudo certo. – Seth repete algumas vezes, como um mantra.

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- Olhem só! – Seth grita.

Só então ele solta minha mão e corre um pouco adiante.

Em nossa frente se estende o rio, com toda a sua força e violência.

Liam não precisa dizer duas vezes e já estou em suas costas. Se com toda a energia e vigor do primeiro dia eu precisei da sua ajuda, não posso nem imaginar o que aconteceria se eu me atrevesse a passar sozinha por entre as pedras.

A correnteza é bem mais forte do que da primeira vez e, talvez pela escassez de alimento combinado com a situação toda de modo geral, nem mesmo a força de Liam o impede de quase desequilibrar algumas vezes. Por isso, Seth se mantém atrás de nós, quase colado em minhas costas.