7 - 21 de março de 2016 - parte III

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Depois da minha experiência de quase morte, não reclamo quando Tricia coloca uma música que não conheço para tocar em sua caixa de som, mesmo que o silêncio da floresta faça com que a melodia se propague pelas árvores e ecoe até voltar novamente para onde estamos. E, com isso, forme um ritmo que me incomoda e faz minha cabeça latejar.

Eu até bebo alguns goles do suco de laranja que fizeram com vodka. Mas o cheiro, depois de alguns segundos com a garrada perto de mim, me deixa nauseada. Seth garantiu que isso me ajudaria a relaxar.

- Tá tudo bem? – Liam pergunta.

- Tá sim.

- Certeza? Estou te achando muito calada.

- Só um pouco enjoada. – Sorrio e me deito em seu colo.

Nós estamos bem perto da fogueira, que é nossa maior fonte de calor e iluminação. Embora tenhamos chegado suados e encalorados depois da caminhada de volta, agora está frio de novo o suficiente para que precise me encolher debaixo do casaco que Liam joga em cima de mim.

- Até que Tricia está empolgada, né?

Concordo com a cabeça. Ela e Seth estão pulando, dançando e bebendo em nossa frente.

E eu juro que tentei entrar no clima, mas parece que há um grande peso em mim que não me deixa nem ficar de pé.

- Talvez nós possamos voltar antes, se você continuar indisposta. – Liam diz. – O intuito é diversão, não você ficar tão caidinha assim. E, depois de tudo o que aconteceu, acho que você tem um motivo plausível para querer voltar pra casa.

- Não! Eu não quero estragar a viagem de vocês! Vai ficar tudo bem, eu prometo. Hoje andamos bastante tempo no sol e eu acho que bebi pouca água. Depois teve todo o estresse do penhasco, mas é só isso. Aposto que amanhã vou acordar bem melhor.

Ele, então, me conta os planos para amanhã. A ideia é explorarmos o lado oeste. Ele fala sobre um mirante que leu na internet, que algumas pessoas recomendaram que ficássemos até o pôr do sol, porque a caminhada à noite de volta ao acampamento valeria a pena pela vista que teríamos da parte mais bonita do estado de Washington.

Eu não falo que quero a maior distância possível de precipícios, mirantes e qualquer outro lugar que nos mostre a altura em que estamos, porque não quero estragar sua animação.

- Eu tenho uma estória pra contar! – Tricia grita em algum momento. – Vamos contar estórias de terror!

Ela e Seth sentam do outro lado da fogueira, dividindo o mesmo cobertor. Aposto que ela vai contar alguma estória besta que aprendeu quando ia naquelas colônias de férias para crianças ricas que seus pais a mandavam todos os anos.

- Vamos ver! – Seth ri, tomando a garrafa de vodka da sua mão e bebendo um grande gole.

- Era uma vez... – Ela começa.

E aí todos rimos. Quem em sã consciência começa uma estória de terror com "era uma vez"?

- Tricia, conta a estória direito! – Liam pede.

Confesso que estou com a mente mais ausente do que presente. Por causa da queda, eu acabei forçando minha mão, que piorou em níveis estratosféricos. Por isso, resolvi tomar outro comprimido de anti-inflamatório mais cedo e estou um pouco zonza.

- Deixa eu contar do meu jeito! – Ela grita. – Enfim, era uma vez, duas irmãs, a Hanna e a Alicia. A diferença de idade delas não era grande, apenas o suficiente para que Hanna pudesse facilmente assustar Alicia com sua sabedoria de uma menina de 12 anos. Hanna disse para Alicia que elas precisavam ficar muito quietinhas à noite, ou as sombras que dançavam no quarto delas contariam aos piratas que elas eram meninas más.

A Lenda de Noah [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora