9 - 22 de março de 2016 - parte II

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Então eu lembro do sonho e do garotinho com seu carrinho de madeira.

Lembro de como ele estava vestido com meias até os joelhos e roupas que não pareciam nem da última década.

E me lembro da estória de Liam, a lenda de do menino Noah.

O grito que dou faz minha boca ressecar e eu engasgo.

As marcas no meu braço são reais demais para eu achar que tudo não passou de um sonho bobo, mesmo que meu lado cético não pare de me achar uma tremenda idiota de ter medo de estórias inventadas justamente para afastar turistas e atrair loucos.

Ignoro os olhares dos meus amigos e começo a passar a unha nas marcas. Se foi alguma brincadeira de algum deles, eu estou disposta a descobrir para ter uma desculpa e socar a cara do culpado na pedra mais pontiaguda que encontrar.

Mas a marca só vai ficando cada vez mais vermelha e dolorida conforme eu esfrego e arranho.

- Tina, para com isso! – Liam então segura tão forte meus braços que mal consigo me mexer.

- Isso só pode ser brincadeira! – Grito.

Eu preciso provar a mim mesma que é só uma brincadeira estúpida.

- Calma, Tina, calma.

A voz de Seth normalmente costuma ser como um calmante natural. Mas nem ele consegue me tranquilizar.

Tricia está encolhida do outro lado da barraca, agarrada em uma manta que divide com Seth.

- Tina, por favor! – Ela pede com a voz embargada.

- Calma? Olha isso! – Grito, não exatamente para nenhum deles, mas para o universo.

Liam estica meu braço e lá estão elas, as quatro marcas em forma de dedos. Por um minuto, apenas fecho os olhos e tento controlar minha respiração. Eu não quero descontar neles a frustração que estou sentindo.

Mas, parece uma missão impossível. Meu peito sobe e desce no mesmo compasso em que meu coração bate dolorosamente.

Sinto a mão de Seth em meu punho, tentando achar a pulsação para contar os batimentos cardíacos.

- Seth, para com isso, pelo amor de Deus! Eu te digo agora mesmo que meu coração tá batendo muito mais rápido do que deveria.

- Tina, faz o seguinte, respira fundo 5 vezes e solta o ar muito lentamente, por favor. – Ele me ignora.

Sem saber muito bem o porquê, obedeço, ainda que minha respiração saia completamente tremida.

Quando solto o ar pela quinta vez, sinto que meu coração já acalmou um pouco e agradeço a Seth mentalmente. Agora, é só a queimadura em meu braço que me incomoda. Ela arde constantemente como um lembrete para que eu não esqueça da sua existência.

- O que foi isso? – Tricia, do outro lado, pergunta.

- Não foi nada, Tricia. – Seth a tranquiliza. – Foi só uma taquicardia.

Liam senta atrás de onde estou sentada para que eu possa encostar em seu peito. Ele é meio bobão às vezes, mas pode ser bastante confortador quando preciso.

- E a mão dela? – Tricia pergunta novamente para Seth.

Ela agora está mais perto, segurando minha mão boa.

- Posso?

Faço que sim com a cabeça e estendo a mão.

Quando Seth retira a bandagem o corte está bem feio, expelindo bastante pus. A região toda também está muito vermelha e dolorida.

A Lenda de Noah [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora