A Lenda de Noah [COMPLETO]

21 - 26 de março de 2016 - parte II

Ando na frente novamente, guiada pela gigante vontade de colocar um ponto final nisso tudo. Agora, mais do que tudo, eu quero chegar em casa o mais rápido possível.

Ninguém ousa abrir a boca ou questionar o caminho que faço. Liam e Seth estão concentrados em manter Raymond em movimento, sem que ele perca mais sangue ou faça mais esforço do que o necessário.

Posso não ter certeza absoluta, mas algo me diz que ele é o nosso passaporte para sair daqui e eu não quero deixá-lo escapar por entre os dedos.

Sou tomada por um vigor momentâneo, como se todo meu corpo trabalhasse arduamente agora para me manter em movimento. Isso é bom, porque não me sinto prostrada ou prestes a desmaiar. Mas sei que, uma hora ou outra, ele vai cobrar o seu preço.

Todas as necessidades ficam em segundo plano. O principal é sair daqui.

Meu coração falha uma batida toda vez que lembro que deixamos Tricia deitada sobre uma cama de folhas secas.

Conforme avançamos, o tempo esfria novamente e o céu volta a escurecer. Ainda não está chovendo, mas o cheiro característico e o vento gelado anunciam que o temporal vai voltar a qualquer minuto.

- Tina, vai mais devagar!

A voz de Seth está tão longe que só então eu percebo como eles ficaram para trás e uma parte de mim é dominada pelo medo.

Existe uma distância entre nós que pode ser facilmente usada por Noah, ou qualquer que seja a força mística que nos atormenta, para nos separar.

E talvez nossos pensamentos realmente tenham força, porque na mesma hora que tal ideia passa pela minha cabeça, sinto as folhas começarem a dançar mais nervosas em meus calcanhares.

Não demora muito para o vento uivar por entre as árvores, cortando os galhos com uma força feroz.

- TINA! – Liam grita.

É impossível não pensar na outra vez em que isso aconteceu e no resultado final.

- LIAM! – Grito de volta.

Não consigo ver muita coisa porque a todo momento preciso proteger meu rosto de um galho ou pedrinhas que voam de um lado para o outro.

Preciso voltar para eles, mas tenho medo de me mexer para o lugar errado e acabar colocando uma distância ainda maior entre a gente.

- Tina, fala alguma coisa! – Seth pede.

Sua voz está mais próxima, mas ainda não consigo ver onde eles estão. Uma névoa extremamente densa dessa pela copa das árvores até o chão.

- Onde vocês estão? – Pergunto.

Mas, por mais que eu vire para todos os lados e tente identificar qualquer forma móvel, o branco predomina em todos os lugares possíveis.

E eu os sinto antes de poder enxergar alguma coisa. Quando Liam toca meu braço, meu primeiro instinto é o de repelir, mas sua voz logo me alcança e o alívio me domina quase por completo.

Nesse momento, a ventania é tão forte que só tenho tempo de agarrar a mão de Liam com toda a minha força, embora seja muito difícil não soltar.

Ele tenta se aproximar, mas o vento o joga para trás novamente e quase nos separa de vez.

A essa altura do campeonato, Raymond está caído sobre nossos pés, o sangue escorrendo do seu pescoço em um fluxo que aposto todas as minhas fichas de que seja irreversível.