A Lenda de Noah [COMPLETO]

8 - 22 de março de 2016 - parte I

Não preciso que ninguém me acorde hoje.

Minhas mãos e meus pés estão suando dentro do saco de dormir e algo está se revirando dentro de mim como um bebê aliem em forma líquida.

Mas, por mais que eu tente me mexer, cada osso do meu corpo parece que não entende os comandos que eu tento dar.

Ainda estou me acostumando com a ideia de já ser de manhã quando percebo o que me tirou o sono tão cedo – aliás, presumo que seja cedo porque sinto a mão de Liam em cima de mim e não ouço barulho nenhum.

Eu preciso levantar o mais rápido possível para vomitar se não quiser fazer isso em cima de mim mesma.

Não dá nem tempo de calçar o sapato e sinto a bile subindo pela minha garganta.

Não, não, não, não! Que saco! Eu odeio vomitar. Odeio muito.

Então, quanto mais sinto esse gosto azedo nojento na boca, mais rápido preciso me esforçar para, pelo menos, sair da barraca.

Eu não suporto nem o cheiro do vômito por causa dos episódios de bebedeira da minha mãe. E aqui estou eu, cópia esculpida dela.

No processo, acabo pisando em Liam sem querer, que obviamente acorda.

- Tina? – Ele pergunta.

Mas não tenho nem tempo para responder Liam, porque eu ­preciso urgentemente vomitar.

- Tina, o que aconteceu? – Ele pergunta de novo.

É claro que ele não pergunta baixinho, só para eu ouvir. Ele praticamente grita e, se metade da floresta de Stainville ouviu, Seth e Tricia também acordam.

Eu queria poder dizer para todo mundo ir embora e me deixar sozinha, mas estou concentrada demais em não me engasgar e deixo que Liam segure o meu cabelo e me apoie contra seu corpo quando ele me encontra curvada há uns três passados da barraca.

Também quero morrer por ter meus amigos me vendo nessa situação tão deplorável. Eu sabia que não deveria ter bebido ontem à noite. Eu sabia. Agora preciso reviver todo o gosto nojento de tudo misturado indo e vindo pela minha garganta.

- Está melhor? – Liam pergunta quando eu tento erguer um pouco o corpo para tomar ar.

Ainda sinto a morte em forma de bile querendo sair pela minha boca, mas engulo algumas vezes até ela se acalmar e mexo a cabeça lentamente para cima e para baixo para assentir.

Eu percebo a careta de Tricia, mas não me importo. Não tenho forças para me importar.

- Tina, olha pra mim. – Seth pede, segurando meu rosto.

Mas também não quero olhar. Eu só quero voltar para o meu saco de dormir, me encolher em uma bola e definhar até a morte. Garanto que ela deve ser menos indolor do que esse mal-estar generalizado que estou sentindo.

Eu posso lidar e tentar acalmar qualquer pessoa doente. Mas, quando sou eu, não consigo manter o eixo no lugar

- Tina, por favor. – Ele pede de novo.

Eu me esforço para abrir os olhos porque a claridade incomoda.

- Tá tudo bem. – Falo com a voz fraca. – Eu só não estou acostumada a beber. E devo ter desidratado um pouco. Alguém pode me dar um pouco de água?

- O que você está sentindo? – Liam pergunta.

- Estou cansada. E preciso de água. – Repito.