Eu ainda estava no calabouço. Ele estava mais gelado, mais escuro, mais sombrio. E ninguém mais estava comigo, nem Eduarda, nem Claire. Por algum motivo, eu sabia que alguma coisa estava muito errada, mas simplesmente não conseguia me lembrar o que era.
De repente, a porta se abriu, e alguém me puxou pelo pescoço, e me jogou contra a parede, ainda me enforcando. Seu rosto estava coberto pelas sombras, mas pude reconhecer aquele sorriso que me dava náuseas.
- Tudo bem, amor. - ele sussurrou em meu ouvido; sua voz estava mais áspera que o normal- Ninguém vai te pegar aqui.
Em seguida, Rezende me jogou no chão, se ajoelhando em minha frente, e começou a desabotuar a calça. Eu sabia onde aquilo ia dar, mas não havia meios de fugir. Quando ele puxou com força minhas duas pernas em sua direção, eu gritei tão alto que minha garganta ardeu, e ele se inclinou sobre mim, com a testa franzida.
- Helena?- ele perguntou, mas eu me debatia com tanta força para escapar que minha visão começou a ficar turva- Helena! Lelena!
Lelena? Rezende não me chamava assim.
Abri os olhos, num sobressalto, me agarrando à dois braços à minha frente. Tive que me concentrar para estabilizar minha respiração, pois meus pulmões pareciam querer saltar para fora.
- Está tudo bem...- Luísa passou a mãos pelos meus cabelos, numa tentativa de me confortar.
- M-mas o... o Rezende...- olhei em todas as direções à minha volta, mas o que vi eram pessoas do acampamento. Algumas feridas, outras vigorosas, conversavam, riam, comiam ou descansavam.
- O Rezende não está aqui.
Meus olhos pararam em Bianca, que se aproximou lentamente. Minha irmã a cumprimentou e saiu, e a garota se sentou à minha frente. Seus olhos escuros me analisavam cautelosamente, como se eu fosse cair a qualquer momento. Os cabelos morenos estavam puxados para trás, presos num rabo de cavalo, e a pele cor de chocolate era marcada por cicatrizes. Bem, com a palidez e as olheiras, diria que ela estava péssima. Suas mãos só não tremiam mais que as minhas.
- Tudo bem- minha voz falhou, e eu passei as mãos pelos meus braços nus.
- Sim, Helena, vai... ficar tudo bem- Bianca me ofereceu um pequeno recipiente com uns biscoitos beges e um pedaço de pão sovado. Em outra mão, um copo cheio de café com leite.
- Não sei se consigo- murmurei, olhando fixamente para suas mãos. Devido ao descanso que o grupo havia me proporcionado, eu tinha melhorado. Maethe cuidara de minha perna, e a infecção tinha regredido. Ainda assim, não conseguia apoiar meu pé no chão. Mas meu estômago não estava bom.
- Consegue! Claire e Eduarda comeram tudo numa b...
- Elas não sonharam que quase foram estupradas pelo Rezende.- sussurrei, sentindo meus nervos à flor da pele. Respirei fundo, numa tentativa de me acalmar- Eu sei que foi só um sonho, mas... mas ainda me assusta. Eu não gosto nem de lembrar.
-Helena... tudo bem. Eu juro.- Bianca acariciou meus ombros e me entregou a comida- O Rezende não está aqui, e duvido que vá nos achar. Está segura agora.
Por fim, ela me lançou um sorriso terno e saiu. Encarei bem aquilo que ela tinha posto em minhas mãos, pensando se devia tentar comer. No final das contas, acabei devorando tudo aquilo em minutos, e só aí percebi o quanto estava faminta.
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No One Left
फैनफिक्शन"O mundo não era mais dividido em quem influenciava as pessoas e em quem era influenciado. Agora, o mundo era dividido em quem matava e sobrevivia, em quem morria, e em quem era fadado a permanecer no mundo como um monstro. Três anos atrás, o mund...