Capítulo 1- Deveríamos fazer três coisas

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►Alice◄

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Alice◄

Há quem diga que, antes de partirmos deste mundo, devemos realizar três coisas importantes: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Não necessariamente nessa ordem, mas essas são tarefas que devemos cumprir. E por que estou mencionando isso? Bem, é simples. Descobri recentemente que estou enfrentando uma doença não tão rara, comum entre crianças e adolescentes. Dizem que é um câncer no sangue, exatamente como você leu. Por sorte, minha mãe me trouxe ao médico logo cedo e conseguiram diagnosticar precocemente, o que me dá uma chance de cura, desde que eu siga o tratamento corretamente.

No entanto, tudo tem sido extremamente difícil para mim. O tratamento é doloroso demais, e passo a maior parte do tempo sedada. Não é apenas devido à dor, mas também porque o tratamento é exaustivo, e isso me faz dormir a maior parte do tempo. Só à noite é que estou acordada. Após quase três anos de tratamento, ainda sinto dor. Não é apenas a dor física causada pelo tratamento, mas também a dor emocional de lidar com minha aparência. Meu cabelo está começando a crescer novamente, mas está fraco. A verdade é que eu não quero morrer, pelo menos não agora. Afinal, tenho apenas dezoito anos. Eu sei que talvez pareça um exagero dizer isso, já que me disseram que a chance de cura é de cem por cento. Mas, sinceramente, estou me sentindo muito cansada ultimamente, e a vida é imprevisível. Ela é cheia de incertezas. Eu realmente quero realizar essas três coisas e muitas outras, como qualquer jovem comum.

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Meu nome é Alice Vergas e tenho dezoito anos. Aos quinze, fui diagnosticada com leucemia, um tipo de câncer no sangue. Desde então, tenho enfrentado muitos desafios e passei meus últimos três aniversários no hospital. É realmente deprimente, para variar. Antes de descobrir essa doença, levava uma vida comum como qualquer outra adolescente. Eu tinha um namorado chamado Carlos, mas só depois percebi que ele era um babaca comigo. No início do meu tratamento, ele mal aparecia para me visitar e, quando vinha, sempre acabávamos discutindo. Hoje em dia, não somos mais namorados, por motivos óbvios. No entanto, a vida me presenteou com os melhores amigos que alguém poderia ter: Pedro e Suzana. Eles vêm me visitar diariamente e são verdadeiramente os melhores amigos do mundo. Eles me ajudam muito, principalmente a me distrair. Eles poderiam simplesmente seguir em frente e procurar outra amiga, alguém mais saudável, mas não, eles estão ao meu lado até o fim, como costumam dizer. Minha mãe, dona Cecília, é psicóloga e, sinceramente, ela está sendo a melhor mãe do mundo. Acredito que sua profissão a ajude a me entender e a me ajudar. No começo, ela parou de trabalhar para ficar a maior parte do tempo comigo, mas há um ano ela voltou a trabalhar meio período. Agora, com o fim do meu tratamento se aproximando, acredito que ela voltará a trabalhar em tempo integral. Fico aqui sozinha às vezes, mas tenho a companhia da enfermeira mais incrível que já conheci, Cassandra, e do melhor amigo que a vida poderia me dar aqui no hospital, o Ben. Ele também está internado devido a uma doença chamada fibrose cística. Apesar de não podermos nos abraçar, ele tem sido uma ótima companhia.

Quanto às despesas do hospital, tenho sorte de que meu pai banque tudo. Minha mãe também ajuda, é claro, mas ele é quem assume a maioria das responsabilidades. Não que isso seja o mais importante, porque para mim o mais importante é tê-lo ao meu lado, o que infelizmente tem acontecido poucas vezes. Meu pai, Antônio, não é rico, mas tem um bom trabalho e uma vida estável. Ele e minha mãe se separaram há uns oito anos, e ele até já se casou novamente. Fernanda, sua esposa, parece ser uma boa pessoa. Ela sempre vem me visitar, é super doce e meiga. Minha mãe continua solteira, pelo menos é o que eu acho. Ela sempre está trabalhando e cuidando de mim. Sempre digo para ela arranjar um namorado, mas ela sempre me repreende dizendo que esse assunto não me diz respeito. Ora essa! Como assim? Sou filha dela e acho que mereço opinar um pouco, não é mesmo?

Enfim, minha vida se resume a essa louca rotina. O hospital se tornou minha casa. Tratamento, muito sono, visitas que se resumem aos meus amigos, meu pai, Fernanda, o Ben, as enfermeiras e os médicos.

Esqueci de mencionar sobre uma voz misteriosa que sempre vem me visitar durante a tarde, mesmo quando estou dormindo após o tratamento. Ele sempre lê uma história para mim e, no final, se despede dizendo: "Já vou indo, Alice. Tenho outros para visitar. Te vejo amanhã. Tenha uma boa noite!" E então ele vai embora. Confesso que não presto muita atenção no que ele diz, apenas me envolvo na história e aguardo sua despedida. Não faço ideia de quem seja esse sujeito, mas imagino de várias formas. Porém, como posso ter certeza de que não é apenas uma alucinação causada pelos remédios? Um dia desses, acabei mencionando para minha mãe que os remédios estavam me afetando negativamente e que estava começando a enlouquecer. E, sinceramente, não deveria ter feito isso. Minha mãe surtou. Ela começou a gritar, correu pelos corredores para chamar os médicos e acabou desmaiando. Tudo aconteceu exatamente nessa ordem. Após alguns longos minutos, ela finalmente se recuperou

— Desculpe, filha. Acredito que estou sob muita pressão. Acabei surtando.

— Tudo bem, mãe, eu entendo perfeitamente - minha mãe detesta ser chamada de senhora ou dona, sério. Ela surta e sempre diz: "Senhora é a sua avó, Alice. Já falei para me tratar por você, poxa, sou sua amiga também." Desde então, comecei a chamá-la assim.

— O que deu em você para me assustar assim? Por que você disse que estava ficando louca? Que os remédios estavam te fazendo mal?

— Desculpa, mãe. É que estou com uma história e uma voz na cabeça. Só ouço quando estou dormindo.

— Durante a noite?

— Não, durante a tarde.

— Ah, filha! - ela suspira - Deve ser o rapaz que faz trabalho voluntário. Ele visita todos os quartos diariamente. Ele vem aqui, lê um livro para você, conversa um pouco, tira umas fotos que autorizei e vai embora.

— Sério?

— Sim. Esses dias ele parou de vir. Disse que estava ocupado com o trabalho.

— Espera aí, fotos? Minhas?

— Sim.

— Mãe, como você autorizou? Olha para mim?!!

— Ah, filha, para com isso. Você está e é linda - reviro os olhos ao ouvi-la - E não adianta reclamar, eu já autorizei e não vou voltar atrás.

— Quantos anos ele tem, mãe? - falo finalmente vencida.

— Não sei, filha. Aparenta ter uns vinte e dois. Sei lá!

— Hm. - resmunguei.

— Ele se chama Vinícius.

— Obrigada, mãe. Você me esclareceu muitas coisas.

— Imagina, querida - ela me dá um beijo na cabeça e sai.

Após descobrir tudo isso, fiquei pensando nesse rapaz, nesse tal Vinícius. Até que o nome dele é bonito. Quando eu melhorar e sair daqui - porque acredito que vou melhorar, mesmo tendo muito medo - vou perguntar o nome do livro para que eu possa comprá-lo. Tenho que acreditar que o tratamento surtirá efeito, é o que Ben diz e me faz repetir todos os dias.

Neste mesmo dia, os médicos me visitaram trazendo boas notícias, pelo menos foi o que eles disseram. Informaram que, daqui a dois dias, eu pararia o tratamento, pelo menos pararia de tomar metade dos remédios que tomo. Farei novos exames para verificar se os resultados são positivos ou não. Foi durante a tarde desse dia que ele apareceu. Sim, o Vinícius, mas eu estava dormindo, o que não é uma novidade.


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