Capítulo 7

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LUKE

"O que determina o legado de um

homem é, muitas vezes, o que não é visto!"

- J. Edgard


Eu senti estava prestes a recobrar a consciência. Beeps eletrônicos e resmungos abafados se arrastavam para fora de meus sonhos, alertando-me do que estava a minha espera. Era como se uma corda, aos poucos, me puxasse do fundo do oceano.

Eu conseguia sentir os ruídos flutuando ao meu redor, se agarrando ao meu corpo. Mas eu queria resistir.

Somente quando os sussurros se tornaram gritos, meu cérebro desistiu de me manter submerso, mas eu não deixei os outros perceberem que eu estava consciente. Fazendo um esforço sobre-humano, tentei relaxar e ignorar a mistura de perfume amadeirado e charutos que Carson exalava.

– Pare de fingir que está dormindo, eu não sou como as suas namoradas!

Continuei imóvel, representando o mesmo papel que encarnava quando era criança e tinha que acordar para ir para o colégio.

– Anda logo, garoto!

Ignorando completamente meus machucados e toda a dor que eu estava sentindo, Carson começou a me cutucar com força. Seus dedos, grossos feito salsichas, atacavam minhas costelas e rosto sem dó.

– Estúpido! – Quando finalmente abri os olhos a cara bolachuda do meu agente pairava sob a minha de maneira ameaçadora. – Por que não tentou me acordar com um beijo?

– Um desastre! – ele recomeçou ignorando a minha piada. – Em todos os jornais de todos os canais – Carson andava em círculos, jogando jornais e revistas pelo chão do quarto do hospital. – E você ainda deve levantar as mãos para o céu e agradecer que não descobriram que fomos expulsos de mais um hotel. Você tem noção do trabalho que me deu conseguir que alguém nos aceitasse?

– E porque eu deveria ligar? – Dei de ombros, enquanto acendia um cigarro e dava uma profunda tragada. O alívio trazido pela nicotina era imediato. – Esse quarto me parece excelente.

Com um pouquinho de esforço e imaginação, os hospitais de luxo podem ser pequenos paraísos. As macas são mais confortáveis que camas de vários hotéis em que já estive, a temperatura ambiente é perfeita, e o serviço de quarto vem até a minha cama, com direito a aviãzinho na hora de comer. 

– É claro que você não liga. – Carson, arrancou o cigarro da boca minha boca com tanta força que, por uns segundos, pensei que tivesse arrancado um dente junto. – Você não liga que quase foi processado por destruir o quarto do Plaza. – Tentei falar que, na verdade, quem fez isso foi Olivia, mas Carson não parecia estar disposto a escutar. – Você tem ideia do quanto de dinheiro eu tive que dar naquele hotel para que ninguém abrisse o bico para a imprensa?

– Eu não fiz nada disso, a única coisa que eu fiz foi sexo. Não me parece que você tenha tido que pagar alguém por isso, amigo.

– Continue assim seu idiota. Se todos acharem que você só quer saber de gandaia, ninguém vai querer te convidar para fazer filmes. Você quer mesmo ficar naquela seriezinha adolescente de merda até o fim da sua vida?

– Espero que a minha vida não seja tão curta.

Fechei meus olhos e respirei fundo. Não conseguia encarar ninguém. Apesar de discutir, eu sei que estou errado. Mas é mais fácil gritar com ele do que perguntar coisas como: "como eu vim parar aqui?", "por que Joe deu aquela declaração?" ou "Alguém que não era da imprensa ligou para saber como eu estou?". Milhares de pessoas sabem quem eu sou, o que eu fazia e com quem eu fazia. E todos parecem preocupadíssimos com o rumo que a minha vida está tomando, mas onde estão essas pessoas agora? O que aconteceu com a preocupação deles agora que eu preciso de alguém?

Discutir com Carson me mantém ocupado, me ajuda a canalizar a minha energia em outras coisas. É o único jeito de eu não ficar preso em um espiral de sentimentos e sensações que só fazem com que eu me sinta pior comigo mesmo.

– Pare de beber feito um porco. Ou você se endireita, ou vai ficar sem namorada, sem amigos e sem agente. – Ao ver o sorriso de deboche nascendo na minha cara completou: – Eu falo sério. Mais uma dessas gracinhas e eu desisto de você para sempre. Eu devia ter aceito o Zac Efron quando tive a chance.

Dei de ombros, me sentindo mais estúpido que uma criança emburrada.

– Pode apagar essa expressão metida da cara! Sabe o comercial da Ferrari? Bem, pode dar adeus a ele. Quando eles souberam que o Joe estava precisando de um carro novo, não hesitaram em oferecer para ele. E não se esqueça de que agora você só utiliza o transporte público.

Me joguei com força contra os travesseiros, pesando se tem como esta situação piorar. As dores que senti por todo corpo responderam dizendo que isto estava apenas começando.

Transporte público. Eu sequer me lembro de como funcionam as coisas em Nova York. A última vez que precisei do transporte público na cidade, estava na primeira metade do meu curso de teatro na NYU.

Eu provavelmente vou me perder várias vezes, chegar atrasado para vários compromissos. E é claro que Carson vai brigar comigo por causa disso.

No fim, tudo volta para o instante em que Olivia e eu aceitamos participar desse relacionamento de mentira, a todas as merdas que fizemos um para o outro desde que a farsa começou.

–  Você sabe o que o ajudaria, não sabe? – Meu agente perguntou.

Senti meu sangue ferver, de verdade, pela primeira vez. Sempre que a situação parece irreversível e minha carreira fadada a desaparecer, Carson acha que pode me sugerir isso... Como se eu fosse ceder... Vender todos eles por quinze minutos de boa publicidade.

– Não. – Minha firmeza e raiva assustaram Carson pela primeira vez. Não que eu me importe.

Vários rostinhos sorridentes passaram pela minha cabeça, dançando em meio a todas as manchetes que a imprensa criaria assim que descobrisse tudo. Algumas boas, outras ruins, quase todas mentirosas.

O monitor que mostrava meus batimentos cardíacos começou a apitar feito louco.

– Eu não vou envolvê-los nisso! Eu gosto deles, eles conseguem tudo o que precisam a partir de mim ou de nossos amigos. Não preciso explorar a imagem deles!

– Eles são a sua salvação, imagina o que a imprensa diria quando soubesse que você...

Não permiti que ele terminasse.

– Eu não vou usá-los, pare de insistir.

– Isso seria bom para eles também, você sabe, não é?

Eu discordo completamente. Se outras pessoas souberem da existência daquela casa vão usá-los como isca. Irão até lá apenas para colher mais histórias de um lado da minha personalidade que ninguém conhece. Destruirão a única coisa boa que me resta.

Eu nunca permitirei isso.

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