LINDA
"Minha mãe sempre dizia: a vida
é como uma caixa de chocolate.
Você nunca sabe o que vai encontrar" – Forrest Gump
Para garantir que eu não teria que me levantar, me cerquei de meus manuscritos, alguns livros e meu notebook recheado de séries e filmes. Eu estava escrevendo em um de meus cadernos quando uma batida na porta me interrompeu.
- Sua avó disse que eu poderia entrar - Luke, colocou a cabeça dentro do quarto, como se quisesse verificar se sua entrada estava mesmo liberada. Ao ver que eu estava trabalhando disse: - De certa forma eu imaginei que você faria exatamente isso. Você se importa se eu der uma olhada? – Perguntou, se jogando do meu lado. Ele viu a percebeu em meus olhos, então resolveu facilitar tomando-o de minhas mãos.
- Não é tão bom – falei tentando em vão pegá-lo de volta. - Tem uns errinhos aqui e ali, mas nada que não tenha conserto.
- Se você ficar me interrompendo, eu nunca vou conseguir terminar.
Roí todas as unhas enquanto observava as reações que Luke esboçava ao ler o meu texto. Para me deixar ainda mais angustiada, quando ele percebeu que eu estava tensa, começou a camuflá-las, para que eu não tivesse ideia do que se passava por sua cabeça. Por sorte, eu já tenho praticamente mapeada cada linha facial dele, só para não correr o risco de perder uma expressão que seja.
Cinco minutos se passaram até que Luke virasse a última folha do capítulo e se voltasse para me encarar.
- Então, o que você achou?
- A história é realmente boa, e os personagens são muito bem construídos. Toda a agonia, todo o medo, é quase como se essas pessoas fossem de verdade. É como se eu pudesse ver a protagonista sendo abandonada pelos pais. Seja o que for, continue fazendo. Isso é muito bom – ele disse, devolvendo o caderno. - Você deveria mostrar para alguém, ou quem sabe, me deixar mostrar para alguém. O mercado cinematográfico é meio fechado para iniciantes, mas você sempre pode tentar uma we série. Usar isso como uma espécie de vitrine pra tudo o que você tem para oferecer.
Comecei a suar frio, só de pensar em ver minha história sendo transmitida livremente pela internet. Esse texto é meu e apenas meu.
- Desculpe, mas isso está fora de cogitação. Tem algumas coisas aqui que eu não estou disposta a dividir com ninguém.
- Se você diz... Eu continuo achando um verdadeiro desperdício. Mas eu não vim aqui para ficar te irritando.
- Correndo o risco de parecer grossa, por que você veio?
- Porque, além do tédio gigantesco que eu estava sentindo, acabei de ser informado que vou ter que voltar para a Califórnia quarta-feira. E sabe-se lá quando eu vou voltar a ver você depois disso. Então... eu pensei em passar por aqui e alegrar a sua vida mais um pouco.
Tão rápido? Engoli as palavras que meu cérebro e meu coração gritaram em uníssono e continuei nossa brincadeira tradicional de troca de provocações.
- E o seu tédio não teria nada a ver com isso, não é mesmo?
- Para provar que você está errada vou pegar um dos musicais mais entediantes da sua prateleira para assistirmos juntos.
Enquanto Luke procurava o DVD, acabou esbarrando em um exemplar da Teen Vogue que trazia sua foto na capa.
- Eu sabia que um dia você ia acabar se rendendo – Ele pegou a revista e mostrou para mim como se fosse um troféu - Vamos ver o que diz a manchete. – falou, levantando a revista o mais alto que conseguia para que eu não a tirasse de suas mãos. - "Descubra qual tipo de garota deixa o astro Showalzer maluco! Em entrevista exclusiva, Luke falou como a fama mudou a sua vida, e o que você pode fazer para tentar conquistá-lo".
- Isso não é meu!
- Claro que não é seu. Aposto que faz parte do arsenal de coisas que Kelly trouxe para que você me conhecesse melhor – ele completou, voltando a se jogar do meu lado. - O que não muda em nada o fato de que você ainda a guarda - ele adicionou casualmente. - Vamos ver o quanto disso é verdade e o quanto é mentira.
Um aviso de e-mail que piscava incessantemente na tela do computador, acabou desviando a minha atenção de Luke.
- O que houve? Essa ruga de preocupação não apareceu aí por eles terem errado o meu prato favorito.
- O Callaway foi convidado para ser jurado em um festival de filmes de Hollywood, e por isso vai viajar essa semana.
- Mas isso é bom, não é? Significa uma semana de folga.
- Seria, se ele não nos tivesse deixado a missão de escrever um roteiro romântico de trinta páginas em uma semana. Você tem alguma ideia do quanto isso é impossível?
- Não tem nenhum mistério, todas as histórias de amor são iguais. Garoto se apaixona pela garota, eles ficam juntos por um tempo, se separam e depois ganham seu final feliz em definitivo. Não tem mistério.
- Se você não se importar em receber um F por falta de criatividade.
- Então o que você quer?
- Eu quero escrever sobre coisas de verdade, histórias de verdade. Mas como eu faço isso sem nunca ter amado ninguém antes?
- Você tem duas opções: Ou se apaixona e vive um amor tórrido em três dias para terminar o seu trabalho, ou explora o mundo ao redor e pega emprestadas algumas histórias.
- A segunda opção me parece mais racional. Por onde eu devo começar?
- Bom, como você está em uma das cidades mais incríveis do mundo. Pessoas diferentes com histórias inesperadas em cada esquina. Precisamos de uma pesquisa de campo. Me passa o notebook.
Não consegui conter meu sorriso. É engraçado ver Luke se empenhando tanto para ajudar com um trabalho bobo. Eu quase consigo esquecer o quão idiota ele foi no piquenique.
- Nós temos três dias para explorar essa cidade ao máximo, a tempo de você escrever o seu trabalho. Precisamos ser organizados.
- E eu que pensei que eu fosse nerd – disse, até compreender o significado das palavras de Luke. - espera aí, nós?
- Alguém precisa garantir que você não vai perder personagens interessantes enquanto estiver com a cara enfiada nos livros. E você não devia subestimar a minha inteligência quando nunca me viu de óculos.. Nós temos: Central Park, The Place, B.B. King Blues Club & Grill, Carlyle Café, The Botton Line Cabaret, P.J.Clarke's, Broadway e o Highline Park. Mas, como eu sei que você é ansiosa e espera começar tudo hoje à noite, escolhi um filme ideal para o cenário de sua história.
- Tudo bem... Não é como se a minha avó fosse me deixar sair nesse frio com febre mesmo. Em que você pensou?
- "Harry e Sally: Feitos um para o outro." – Luke pegou a caixinha do filme em uma das estantes e colocou o DVD dentro do aparelho.
Ele dormiu nos primeiros minutos do filme, mas acabou que isso foi a melhor coisa que ele podia ter feito. Pois, ao vê-lo deitado e indefeso, uma enxurrada de ideias me atingiu. Mais que depressa peguei meu caderno rosa e continuei escrevendo a história que comeceio no dia em que nos conhecemos. Se for boa o suficiente, talvez eu a entregue para o professor Callaway no fim das contas.
Por um segundo, parei para observar uma das cenas finais do filme e me perguntei se, algum dia, encontraria esse tipo de amor. O tipo que torna as manias mais irritantes no real motivo da adoração.
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Caindo na Real [Completo]
Roman d'amourSinopse: Linda faz faculdade de cinema na Tisch School of the Arts, e sonha com o dia em que finalmente vai ter coragem de mostrar seus roteiros para alguém além de seu professor. Ela têm medo de magoar as pessoas com os desabafos que coloca em suas...