Capítulo 29

2.2K 336 7
                                    


LINDA

"Minha mãe sempre dizia: a vida

é como uma caixa de chocolate.

Você nunca sabe o que vai encontrar" – Forrest Gump


Para garantir que eu não teria que me levantar, me cerquei de meus manuscritos, alguns livros e meu notebook recheado de séries e filmes. Eu estava escrevendo em um de meus cadernos quando uma batida na porta me interrompeu.

- Sua avó disse que eu poderia entrar - Luke, colocou a cabeça dentro do quarto, como se quisesse verificar se sua entrada estava mesmo liberada. Ao ver que eu estava trabalhando disse: - De certa forma eu imaginei que você faria exatamente isso. Você se importa se eu der uma olhada? – Perguntou, se jogando do meu lado. Ele viu a percebeu em meus olhos, então resolveu facilitar tomando-o de minhas mãos.

- Não é tão bom – falei  tentando em vão pegá-lo de volta. - Tem uns errinhos aqui e ali, mas nada que não tenha conserto.

- Se você ficar me interrompendo, eu nunca vou conseguir terminar.

Roí todas as unhas enquanto observava as reações que Luke esboçava ao ler o meu texto. Para me deixar ainda mais angustiada, quando ele percebeu que eu estava tensa, começou a camuflá-las, para que eu não tivesse ideia do que se passava por sua cabeça. Por sorte, eu já tenho praticamente mapeada cada linha facial dele, só para não correr o risco de perder uma expressão que seja.

Cinco minutos se passaram até que Luke virasse a última folha do capítulo e se voltasse para me encarar.

- Então, o que você achou?

- A história é realmente boa, e os personagens são muito bem construídos. Toda a agonia, todo o medo, é quase como se essas pessoas fossem de verdade. É como se eu pudesse ver a protagonista sendo abandonada pelos pais. Seja o que for, continue fazendo. Isso é muito bom – ele disse, devolvendo o caderno. - Você deveria mostrar para alguém, ou quem sabe, me deixar mostrar para alguém. O mercado cinematográfico é meio fechado para iniciantes, mas você sempre pode tentar uma we série. Usar isso como uma espécie de vitrine pra tudo o que você tem para oferecer.

Comecei a suar frio, só de pensar em ver minha história sendo transmitida livremente pela internet. Esse texto é meu e apenas meu.

- Desculpe, mas isso está fora de cogitação. Tem algumas coisas aqui que eu não estou disposta a dividir com ninguém.

- Se você diz... Eu continuo achando um verdadeiro desperdício. Mas eu não vim aqui para ficar te irritando.

- Correndo o risco de parecer grossa, por que você veio?

- Porque, além do tédio gigantesco que eu estava sentindo, acabei de ser informado que vou ter que voltar para a Califórnia quarta-feira. E sabe-se lá quando eu vou voltar a ver você depois disso. Então... eu pensei em passar por aqui e alegrar a sua vida mais um pouco.

Tão rápido? Engoli as palavras que meu cérebro e meu coração gritaram em uníssono e continuei nossa brincadeira tradicional de troca de provocações.

- E o seu tédio não teria nada a ver com isso, não é mesmo? 

- Para provar que você está errada vou pegar um dos musicais mais entediantes da sua prateleira para assistirmos juntos. 

Enquanto Luke procurava o DVD, acabou esbarrando em um exemplar da Teen Vogue que trazia sua foto na capa. 

- Eu sabia que um dia você ia acabar se rendendo – Ele pegou a revista e mostrou para mim como se fosse um troféu - Vamos ver o que diz a manchete. – falou, levantando a revista o mais alto que conseguia para que eu não a tirasse de suas mãos. - "Descubra qual tipo de garota deixa o astro Showalzer maluco! Em entrevista exclusiva, Luke falou como a fama mudou a sua vida, e o que você pode fazer para tentar conquistá-lo".

- Isso não é meu! 

- Claro que não é seu. Aposto que faz parte do arsenal de coisas que Kelly trouxe para que você me conhecesse melhor – ele completou, voltando a se jogar do meu lado. - O que não muda em nada o fato de que você ainda a  guarda - ele adicionou casualmente. -  Vamos ver o quanto disso é verdade e o quanto é mentira.

Um aviso de e-mail que piscava incessantemente na tela do computador, acabou desviando a minha atenção de Luke.

- O que houve? Essa ruga de preocupação não apareceu aí por eles terem errado o meu prato favorito.

- O Callaway foi convidado para ser jurado em um festival de filmes de Hollywood, e por isso vai viajar essa semana.

- Mas isso é bom, não é? Significa uma semana de folga.

- Seria, se ele não nos tivesse deixado a missão de escrever um roteiro romântico de trinta páginas em uma semana. Você tem alguma ideia do quanto isso é impossível?

- Não tem nenhum mistério, todas as histórias de amor são iguais. Garoto se apaixona pela garota, eles ficam juntos por um tempo, se separam e depois ganham seu final feliz em definitivo. Não tem mistério.

- Se você não se importar em receber um F por falta de criatividade.

- Então o que você quer?

- Eu quero escrever sobre coisas de verdade, histórias de verdade. Mas como eu faço isso sem nunca ter amado ninguém antes?

- Você tem duas opções: Ou se apaixona e vive um amor tórrido em três dias para terminar o seu trabalho, ou explora o mundo ao redor e pega emprestadas algumas histórias.

- A segunda opção me parece mais racional. Por onde eu devo começar?

- Bom, como você está em uma das cidades mais incríveis do mundo. Pessoas diferentes com histórias inesperadas em cada esquina. Precisamos de uma pesquisa de campo. Me passa o notebook.

Não consegui conter meu sorriso. É engraçado ver Luke se empenhando tanto para ajudar com um trabalho bobo. Eu quase consigo esquecer o quão idiota ele foi no piquenique.

- Nós temos três dias para explorar essa cidade ao máximo, a tempo de você escrever o seu trabalho. Precisamos ser organizados.

- E eu que pensei que eu fosse nerd – disse, até compreender o significado das palavras de Luke. - espera aí, nós?

- Alguém precisa garantir que você não vai perder personagens interessantes enquanto estiver com a cara enfiada nos livros. E você não devia subestimar a minha inteligência quando nunca me viu de óculos.. Nós temos: Central Park, The Place, B.B. King Blues Club & Grill, Carlyle Café, The Botton Line Cabaret, P.J.Clarke's, Broadway e o Highline Park. Mas, como eu sei que você é ansiosa e espera começar tudo hoje à noite, escolhi um filme ideal para o cenário de sua história.

- Tudo bem... Não é como se a minha avó fosse me deixar sair nesse frio com febre mesmo. Em que você pensou?

- "Harry e Sally: Feitos um para o outro." – Luke pegou a caixinha do filme em uma das estantes e colocou o DVD dentro do aparelho.

Ele  dormiu nos primeiros minutos do filme, mas acabou que isso foi a melhor coisa que ele podia ter feito. Pois, ao vê-lo deitado e indefeso, uma enxurrada de ideias me atingiu. Mais que depressa peguei meu caderno rosa e continuei escrevendo a história que comeceio no dia em que nos conhecemos. Se for boa o suficiente, talvez eu a entregue para o professor Callaway no fim das contas.

Por um segundo, parei para observar uma das cenas finais do filme e me perguntei se, algum dia, encontraria esse tipo de amor. O tipo que torna as manias mais irritantes no real motivo da adoração.

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora