Capítulo 38

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LUKE

"O medo é o caminho para o lado negro.

O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio,

o ódio leva ao sofrimento." – Star Wars

Batidas fortes na porta indicavam que as pessoas que estavam do lado de fora não desistiriam de entrar tão cedo. É de se esperar que depois de mais de doze horas eles teriam se dado conta de que eu não vou a lugar algum, física ou metaforicamente. Eu sou uma piada esperando pra ser contada.

- Luke, abra a porta! – Carson berrava feito um trovão. – Você precisa sair desse quarto, nós temos que rodar um comercial hoje!

Uma risada esquisita escapou por meus lábios. Tão estranha que eu demorei a notar que era minha.

Talvez eu tenha enlouquecido de vez.

Senti a porta tremer sob o impacto dos murros e pontapés do meu agente, mas, ainda assim, permaneci imóvel. Torcendo para que ele desistisse e finalmente me deixasse em paz. 

Não sei porque ele ainda insiste...

Mentira. Sei sim. Seu único objetivo é me tirar daqui para me enfiar dentro da primeira limousine que encontrar e me arrastar até o set de "A Agenda". Ele provavelmente justificaria suas ações com a sua frase favorita: "será que nunca ouviram a expressão 'o show tem que continuar'?".  

A raiva e angústia efervesciam em meu estômago. Me peguei imaginando o que aconteceria se Carson conseguisse arrombar a porta do meu quarto para cumprir seu objetivo de me arrastar de volta à rotina de trabalho. Fiquei feliz com a imagem mental do que eu faria e de  exatamente onde mandaria meu agente enfiar seu maldito show. 

Ele que se vire sozinho! Não me importo mais com nada. 

E por que deveria?

Silêncio.

Sem gritos ou socos, apenas ruídos distantes e indistintos. Abri e fechei os olhos tantas vezes que já não tenho mais nenhuma noção de tempo.

Há quantas horas eu estou sentado nesta poltrona? Ou seriam dias? Semanas? Eu não sei

Senti meu queixo incomodar um pouco, coçando. Levei a mão ao rostou e senti que pinicava um pouco. Barba. Posso cuidar disso depois.

Agora somos apenas eu, este quarto, minha poltrona e a TV (fora de sintonia desde o acidente de Joe).

Chacoalhei a cabeça tentando expulsar as imagens do acidente da minha mente, mas elas se tornam mais vivas coforme eu me esforço para esquecê-las. Eu nem preciso fechar os olhos para ser bombardeado por elas.

Joe preso dentro de uma gaiola de ferro retorcido.

Presenciei apenas alguns segundos, mas as cenas que vi foram suficientes para que meus joelhos cedessem e, de uma só vez, o chão viesse ao meu encontro. Só dei por mim novamente quando estava em meu quarto. Eu imediatamente liguei a TV, e os canais que antes classificavam meu melhor amigo como beberrão, mulherengo e de má índole, agora, o exaltam como se fosse algum Deus, um mártir que serviu de exemplo para todos na Terra. Então me lembrei da cena do acidente e do miserável fotógrafo que se esticava para obter os melhores ângulos do ferro vermelho retorcido a que se resumia a Ferrari de Joe.

Na hora, fui invadido por uma onda de nojo e ódio e arremessei um cinzeiro de mármore contra a tela plana. A televisão não teve chance alguma. Feito isso, peguei todas as garrafas de bebida alcoólica que consegui encontrar em casa e (depois de beber todo o conteúdo) quebrei-as (uma a uma), jogando-as contra as paredes do quarto. Depois tranquei a porta e fiquei olhando de modo hipnótico para a TV até Carson chegar e começar seu showzinho particular no meu corredor.

Não aguento mais. Não aguento mais ser tratado como lixo/monstro pela mídia. Estou cansado de ser alvo de mentiras, esquemas e manipulações. Por causa de pessoas intrometidas como aquele paparazzo e Andrew eu perdi a confiança de Linda e, pelo que vi, perdi Joe também.

- Luke querido, abra essa porta! – Jessie suplicava.

Em algum lugar distante, uma parte minha se lembra de ter ligado para ela logo que recobrei a consciência. As batidas continuaram, mas eu não me movi ou não falei. Apenas encarei a tela destruída da TV.

– Jessie – sussurrei. – Você viu o que aconteceu com o Joe?

- Luke, você está bem? – Perguntou, com a voz carregada de preocupação.

- Jessie, você acha que isso tudo vale apena? Eu estou perdendo tudo Jessie...

- Oh querido, não diga isso – ela disse com ternura, tentando me acalmar.

- Eu estou me perdendo Jessie... Você ainda acredita em mim não acredita?

- Claro que sim, querido.

- Eu estou perdido Jessie. Estou perdido.


Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora