Caindo na Real [Completo]

Capítulo 43

"Nunca sabemos o que nos espera..."

– O Curioso Caso de Benjamin Button

Às seis e meia, em ponto, fui para os bastidores do teatro improvisado que Anna conseguiu reservar para os meninos do Lar. Estou, desde o momento em que acordei, repassando metalmente uma lista de tudo que deveria ser feito, me certificando de que tudo está em seu devido lugar. Mas agora, às vésperas do ínicio do espetáculo, não me resta mais nada para fazer. Conclusão: estou há meia hora andando de um lado para o outro lançando olhares ansiosos para tudo e para todos.

Confesso que apenas 50% de toda a minha tensão e nervosismo é de responsabilidade da peça dos meninos. A outra metade é culpa de Luke. Ele não deu sinal de vida desde a última vez em que nos vimos. E tãopouco Tina ou Serena sequer tocavam no nome dele quando durante nossas conversas. Tudo isso só pode significar uma coisa: eu não fui perdoada.

Me pergunto se ele ao menos leu a nossa história.

– Será que você pode sossegar pelo amor de Deus? – Kelly pediu, me segurando pelos ombros. – Desse jeito você vai ficar toda descabelada antes de cumprimentar os nossos convidados.

Contra a própria vontade, sentei e deixei que ela amiga desse um jeito nas partes da maquiagem que exigiam algum retoque. Oito horas em ponto a cortina se abriu, obrigando-me a sentar. E, apesar do silêncio de Luke, foi impossível não passar os minutos iniciais da peça olhando atentamente para todas as entradas, procurando qualquer sinal de sua presença até ser capaz de aceitar que ele não virá.

Quando as luzes se acenderam todos aplaudiram de pé o trabalho feito pelos meninos do Lar Saint Peter. Até eu, que acompanhei o trabalho de perto fiquei impressionada com o desempenho dos meninos. Do texto ao cenário, nada havia deixado a desejar.

Aos poucos, todos na platéia foram em direção à recepção para parabenizar pessoalmente os pequenos astros envolvidos na produção. Fiquei em meu lugar, esperando que a multidão se dissipasse. Se não vou ver Luke, também não quero me dar ao trabalho de encontrar mais ninguém.

Passaram-se cerca de quarenta e cinco minutos até eu me levantar e ir em direção ao átrio principal pegar meu casaco para ir embora. Conforme me aproximava, passei a escutar um burburinho acompanhado de ruídos de flashes. Provavelmente a sessão de fotos com os meninos, mas algo parecia fora do lugar.

Só me dei conta do que era quando escutei alguém erguer a voz para fazer uma pergunta.

– Então, por que você está fazendo isso?

– Hum... Bem. -A voz de Luke veio flutuando até onde eu estava. 

Duas palavras bastaram para que eu tivesse certeza de que ele esteve aqui o tempo todo. Ele jamais perderia a peça de Tim. 

-Não é todo dia que você encontra alguém que tenha a habilidade de fazer seu coração bater mais rápido e mais devagar ao mesmo tempo. - Luke disse em resposta a pergunta feita anteriormente.

Senti meu estômago dar uma cambalhota enquanto me aproximava com cautela. Foi quando vi todos os repórteres reunidos no que parecia ser uma coletiva de imprensa. Uma mão se ergueu e Joe perguntou:

– Então porque você nos chamou aqui mesmo?

– Como você deve se lembrar, Joe, em nossa aposta, você disse que se eu realmente estivesse apaixonado eu deveria convocar uma coletiva de imprensa para que o mundo todo soubesse. E eu me senti compelido a honrar a minha última aposta – Luke levantou a cabeça, olhando em volta, esperando por novas perguntas.

– Por que você demorou tanto tempo para voltar? – Kelly perguntou se enfiando no meio dos jornalistas. Sua postura rígida dizia que a resposta de Luke para aquela questão teria de ser bem convincente, e verdadeira.

– Há algumas semanas atrás eu li um livro que me fez repensar algumas coisas. Todos sabem que eu nunca fui nenhum santo. Eu tive problemas com as mulheres com as quais eu me envolvi e com o álcool. E esse livro... Ele me fez perceber que eu vim culpando as pessoas erradas, justificando o meu erro com o dos outros. Eu estava me afogando em um mar de críticas.

"Eu não sei se isso aconteceu por culpa da mídia, ou o que fez com que todos ficassem assim. A única certeza que eu tinha era que eu não queria mais alimentar isso, que eu tinha que assumir total responsabilidade pelos meus atos. Talvez Joe não tivesse capotado se ele não tivesse bebido comigo, talvez eu não tivesse sido tão facilmente manipulado pela Olívia... Não era só a fama que me destruía... Era eu mesmo. Precisei de um tempo pra entender como tudo tinha começado pra poder descobrir como parar, e aí sim, poder retornar."

A sala ficou em silêncio, por alguns segundos não houve barulho de flashes pipocando.

– Vejo que tiveram suas dúvidas saciadas – ele disse, ao se levantar. – Agora me deem licença, pois uma dama está a minha espera. – Falou, caminhando a passos largos até onde eu estava parada.

Quando percebi que ele vinha em minha direção parei de encará-lo. Por mais que tentasse, não conseguia. Como se estivesse envergonhada demais por tudo o que fiz.

– Espero não ter demorado muito – Luke falou, segurando uma das minhas mãos, levando-a aos lábios em seguida.

– Não se preocupe. Valeu cada minuto de espera.

– Eu não poderia vir tão rápido sabe? Você merecia esperar um pouco depois de ter sumido quando nós brigamos. Agora você sabe. Mas também tínhamos algumas pendências para serem resolvidas – ele completou se aproximando de modo que apenas eu era capaz de escutar as suas palavras.

– Como quais, por exemplo? – perguntei, encurtando a distância entre nós.

– Como quem ganhou a nossa aposta no final das contas? – Disse, com um leve sorriso acariciando a minha bochecha.

– Acho que podemos declarar um empate – respondi com firmeza.

Luke analisou a declaração por alguns segundos até finalmente responder:

– Um empate me parece satisfatório. Mas acho que o que eu realmente quero saber é, qual será o seu prêmio então senhorita Waltts? – Ele perguntou enquanto erolava o dedo em uma mexa do meu cabelo. – Um livro talvez com muita aventura e, quem sabe, algumas cenas de romance?

– Acho que não. Já tenho tudo o que eu quero bem aqui. – respondi, puxando-o para um beijo. Um dos muitos que eu sei que ainda estão por vir.

FIM.