Capítulo 10

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LINDA


"Já chega de escuridão, já

chega de se esconder, já chega

de caverna! Qual o sentido de tudo

isso? Seguir a luz!" – Os Croods


– Então você está tentando me convencer que a saga Crepúsculo seria o equivalente a Romeu e Julieta dos dias de hoje? Por favor, me diga que eu estou em coma e que tudo não passa de uma alucinação! – eu respondi à Kelly, quando saímos da última aula do dia. Nela havíamos debatido sobre os temas e personagens de livros para jovens adultos. 

– Ah, nem vem! Você anda por aí com o seu ar superior, mas eu já fui ao seu quarto, e sei que você tem a coleção completa dos livros na sua estante!

Kelly apontou o dedo na minha cara usando um tom tão acusatório, que fez parecer que, na verdade, eu escondia um cadáver embaixo da minha cama.

– Já fui apaixonada pelo Edward e não nego. Mas eu tinha doze anos! –  Assinalei. –  E não saio por aí comparando com Shakespeare.

– Ponto para a Linda! – Andrew disse passando os braços ao redor de nossos ombros. Um contato íntimo demais e sem nenhum pingo de consentimento.

A revirada de olho que Kelly deu, quase fez com que eu me arrependesse de ter levado a discussão pra fora de sala de aula.

– Dois contra um não é justo – ela acusou, fazendo beicinho como uma criança.

Mas eu tenho um pressentimento de que a manha dela não vai durar muito tempo. Eu vi o jeito como seus olhos  brilhavam enquanto caminhávamos até o Webster Hall, passando pelo ponto na Mercer com a oitava. Ela estava fazendo a cara que costumava fazer enquanto assistia às comédias românticas.

– Aconteceu alguma coisa? – Andrew perguntou, sem entender meu silêncio ou o ar sonhador de Kelly.

– É esse o ônibus, não é? O ônibus mágico em que tudo acontece – ela disse, com a voz cheia de esperança.

A expectativa dela me deixava angustiada e um pouco enjoada também. Kelly adora me acusar fugir do mundo real nos livros, mas o tipo de expectativas que ela cria em cima da minha relação(não que realmente exista alguma) com Luke é tão real quanto as aventuras que eu vivo através dos livros.

– É apenas o ônibus do Ernesto, e não tem magia nenhuma nele. Só algumas pichações e chicletes mascados.

– Você acha que ele estará lá agora?

– Acho que não. Ele deve ser ocupado demais para ficar no mesmo ônibus o dia todo esperando por mim. Por mais que seja irresistível.

E mesmo sabendo que é ridículo, quando vi o ônibus passar por nós, eu não consegui evitar me sentir um pouco desapontada por não vê-lo lá, incomodamente sentado em meu lugar favorito.

Infelizmente, a ausência dele não abalou Kelly, que me forçou a reencenar todas as conversas que tive com Luke, utilizando Andrew como dublê de corpo do ator. Às vezes ela interrompia a dramatização para me dar um tapinha no ombro ou para dizer o quanto tudo isso é surreal e incrível. Andrew, por outro lado, fica mais sério a cada diálogo e faz cara de dor de barriga cada vez que me escuta dizer o nome de Showalzer.

Nós não precisamos nos aproximar muito do Webster Hall para perceber que o lugar estava lotado. Filas gigantescas de adolescente histéricos contornavam o quarteirão. Todos carregavam, faixas, bandanas e pôsteres de um dos filmes que estrearia. Ao me deparar com o caos, me amaldiçoei por ter concordado em ir.

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora