LINDA
"Já chega de escuridão, já
chega de se esconder, já chega
de caverna! Qual o sentido de tudo
isso? Seguir a luz!" – Os Croods
– Então você está tentando me convencer que a saga Crepúsculo seria o equivalente a Romeu e Julieta dos dias de hoje? Por favor, me diga que eu estou em coma e que tudo não passa de uma alucinação! – eu respondi à Kelly, quando saímos da última aula do dia. Nela havíamos debatido sobre os temas e personagens de livros para jovens adultos.
– Ah, nem vem! Você anda por aí com o seu ar superior, mas eu já fui ao seu quarto, e sei que você tem a coleção completa dos livros na sua estante!
Kelly apontou o dedo na minha cara usando um tom tão acusatório, que fez parecer que, na verdade, eu escondia um cadáver embaixo da minha cama.
– Já fui apaixonada pelo Edward e não nego. Mas eu tinha doze anos! – Assinalei. – E não saio por aí comparando com Shakespeare.
– Ponto para a Linda! – Andrew disse passando os braços ao redor de nossos ombros. Um contato íntimo demais e sem nenhum pingo de consentimento.
A revirada de olho que Kelly deu, quase fez com que eu me arrependesse de ter levado a discussão pra fora de sala de aula.
– Dois contra um não é justo – ela acusou, fazendo beicinho como uma criança.
Mas eu tenho um pressentimento de que a manha dela não vai durar muito tempo. Eu vi o jeito como seus olhos brilhavam enquanto caminhávamos até o Webster Hall, passando pelo ponto na Mercer com a oitava. Ela estava fazendo a cara que costumava fazer enquanto assistia às comédias românticas.
– Aconteceu alguma coisa? – Andrew perguntou, sem entender meu silêncio ou o ar sonhador de Kelly.
– É esse o ônibus, não é? O ônibus mágico em que tudo acontece – ela disse, com a voz cheia de esperança.
A expectativa dela me deixava angustiada e um pouco enjoada também. Kelly adora me acusar fugir do mundo real nos livros, mas o tipo de expectativas que ela cria em cima da minha relação(não que realmente exista alguma) com Luke é tão real quanto as aventuras que eu vivo através dos livros.
– É apenas o ônibus do Ernesto, e não tem magia nenhuma nele. Só algumas pichações e chicletes mascados.
– Você acha que ele estará lá agora?
– Acho que não. Ele deve ser ocupado demais para ficar no mesmo ônibus o dia todo esperando por mim. Por mais que seja irresistível.
E mesmo sabendo que é ridículo, quando vi o ônibus passar por nós, eu não consegui evitar me sentir um pouco desapontada por não vê-lo lá, incomodamente sentado em meu lugar favorito.
Infelizmente, a ausência dele não abalou Kelly, que me forçou a reencenar todas as conversas que tive com Luke, utilizando Andrew como dublê de corpo do ator. Às vezes ela interrompia a dramatização para me dar um tapinha no ombro ou para dizer o quanto tudo isso é surreal e incrível. Andrew, por outro lado, fica mais sério a cada diálogo e faz cara de dor de barriga cada vez que me escuta dizer o nome de Showalzer.
Nós não precisamos nos aproximar muito do Webster Hall para perceber que o lugar estava lotado. Filas gigantescas de adolescente histéricos contornavam o quarteirão. Todos carregavam, faixas, bandanas e pôsteres de um dos filmes que estrearia. Ao me deparar com o caos, me amaldiçoei por ter concordado em ir.
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Caindo na Real [Completo]
RomanceSinopse: Linda faz faculdade de cinema na Tisch School of the Arts, e sonha com o dia em que finalmente vai ter coragem de mostrar seus roteiros para alguém além de seu professor. Ela têm medo de magoar as pessoas com os desabafos que coloca em suas...