Caindo na Real [Completo]

Capítulo 16

LINDA

"Esse silencio é o último respiro profundo

antes do mergulho!" – Senhor dos Aneis: O Retorno do Rei

Nunca pensei que diria isso, mas: o feriado parece que não vai acabar nunca!

Primeiro tive que suportar sozinha quatro horas com o meu cérebro brincando com os botões de pause, play e rewind. A seleção de memórias escolhidas ? A madrugada/noite com Luke e o show protagonizado por Andrew.

A cada flash, um episódio embaraçoso me fazia encolher de vergonha. Como se, por reflexo, meu cérebro pensasse que se eu me encolhesse ao máximo desapareceria da face terra sem ter que lidar com o que viria a seguir.

Ah sim, eu tenho certeza de que vem muita confusão por aí.

Tentei me distrair com os livros encalhados na minha estante. Todos que peguei acabaram jogados de qualquer jeito no canto do meu quarto. Um castigo por não serem interessantes o suficiente para me distrair de toda essa loucura. Eu nem preciso fechar os olhos para imagens passarem diante dos meus olhos como um carrossel alimentado por fichas infinitas.

E é claro que meus professores não foram competentes o suficiente para lotar os alunos de trabalho no feriado.

NÃO.

Não tem nem um mísero trabalho para ser entregue e Luke teve a indecência de me ajudar a deixar a casa impecavelmente organizada e os pensamentos completamente bagunçados.

O que significa que é hora de chamar reforços. De trazer a única pessoa que consegue falar mais palavras por segundo que o Eminem, que me entende melhor que eu mesma e que vai conseguir me distrair.

– Achei que você não fosse me ligar nunca mais – Kelly reclamou quando atendeu o celular no terceiro toque.

– Nós nos falamos ontem, lembra? – Argumentei, tentando me passar por desentendida. Não que fosse adiantar alguma coisa. Pelo tom de voz dela era óbvio que Andrew já tinha corrido até ela para chorar as suas pitangas.

– Eu quero saber o que aconteceu na sua casa hoje cedo!  Quando eu cheguei na locadora encontrei tudo fechado. Fiquei preocupada e liguei para o Andrew. Pensei que talvez vocês estivessem juntos... Aí ele apareceu feito um furacão, e não parecia estar muito feliz com você.

– Ele foi um idiota. Mas eu não quero conversar isso pelo telefone... Por que você não traz as suas coisas e passa a noite aqui em casa?

Mais uma vez, Kelly provou que é uma melhor amiga muito melhor do que eu jamais serei e me respondeu sem nem hesitar:

– Chego aí em alguns minutos.

Não sei se passaram-se apenas cinco minutos. Só sei que quatro rosquinhas, uma taça de sorvete e meia barra de chocolate depois, a campainha finalmente tocou. A essa altura eu não tinha mais certeza se estava à beira de um ataque de nervos ou se a minha inquietação era causada pelo açúcar. Provavelmente as duas coisas.

– Então, onde foi o incêndio? – Kelly perguntou, enquanto guardava suas coisas no meu quarto.

– O foco inicial foi na sala, e depois se alastrou para o corredor, mas eu tive sorte de não ser a protagonista do segundo ato.

– Era apenas o motivo. Mas porque você não me conta do começo? – Kelly perguntou enquanto afastava de mim os doces que sobreviveram ao meu ataque.