Capítulo 42

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LUKE

"Eu acho que sim, está maluca,

pirada, perdeu um parafuso, mas

vou contar um segredo as melhores

pessoas são assim!" – Alice no País das Maravilhas.


Corri pelos corredores extremamente brancos e esterilizados, ciente de que era observado atentamente por todos. Assim que cheguei no corredor quarto de Joe na UTI, me deparei com Serena. As olheiras dela quase chegavam na altura das bochechas, seu cabelo estava bagunçado e ela ainda vestia a mesma roupa de quando se viram pela última vez.

– Graças a Deus. – Ela disse, ao se levantar para dar me um abraço apertado. – Como você está?

– Bem. Linda cuidou de mim. 

– Ela ainda está aqui?

Uma fagulha de esperança se acendeu nos olhos de Serena. Linda está certa. Minha amiga também precisa de mim.

– Não, ela tinha outras coisas para fazer em Nova York e quis me dar um tempo pra resolver as coisas com o Joe primeiro. – Parei para encarar Serena mais uma vez, procurando nela sinais do real estado de saúde de Joe. – Como ele está?

– Melhor. Os médicos disseram que todos os ferimentos internos já foram controlados e que não há nada de errado com o cérebro. Ele deve acordar a qualquer momento.

– Você devia ir para casa, tomar um banho e descansar um pouco. Eu fico aqui.

– Obrigada. – Ela falou baixinho. – Vou trazer alguma coisa para você comer na volta.

Congelei quando cheguei ao batente da porta de Joe. Os beeps e chiados das máquinas eram assustadores e o fato de que ele estava imóvel d com uma máscara de oxigênio presa ao rosto não ajudava em nada a aliviar a imagem do quadro geral.

Respirei fundo e tracei o caminho até uma poltrona posicionada ao lado da cama de Joe. Deste ângulo é fácil fingir que ele está apenas dormindo.

– Espero que você goste que leiam pra você – falei, enquanto abria a pasta, curioso para saber o que havia nela.

Dentro, encontrei um livro encadernado em plástico rosa, na primeira folha lia-se o título: "Caindo na Real". Uma pontinha de sorriso insistiu em nascer em meu rosto só. Esta é a história se recusava a me mostrar, a que ajudei a preencher quando os passeamos por Nova York. A mesma que ela jurou que dividiria comigo quando fosse para a Califórnia durante as férias de verão.

A adrenalina fez com que minha pele vibrasse de emoção.

Com cuidado, abri o livro e mergulhei no universo que ajudei a criar. Só não imaginei que minha participação na história fosse tão ativa. Uma olhada no primeiro capítulo e eu percebi que esta não é apenas a história da Linda, é a nossa história.

Mergulhei na leitura, avançando rapidamente pelas páginas, parando apenas para jantar quando Serena voltou. Eu fiquei inebriado pela sensação de ver tudo sendo narrado por uma nova perspectiva. Dava muito mais cor àqueles dias frios em Nova York, enchia de vida as ruas que eu pensei percorria sozinho. Me pendurei às palavras escritas por Linda, refém da maneira como ela via a nossa relação e conforme, a narrativa ia avançando, passei a me perguntar o que o encontraria no final.

Para minha agonia, a última página acabava com a briga que tivemos em Los Angeles. Um corte brusco na edição entre a cena de amor e o happy ending que eu esperava para nós dois. Uma sequência de beats recheadas com quadros de desconfiança e filtros de mentira. 

Procurei por outro caderno com a continuação, mas ao invés disso encontrei um pequeno envelope.

"Sei o quanto você odeia os finais de livros, então não pense nisso como um fim. Pense nisso como o começo de novas aventuras. Como você deve ter percebido pelo modo como a história para, as próximas cenas são de responsabilidade sua. Aguardo ansiosamente a sua sequência."

Linda.

Além da carta, o envelope guardava um ingresso para a estreia da peça de Tim, daqui a duas semanas. A carta de Linda me ofereceu  algo que ele pensava ter perdido há algum tempo: perspectiva. Um novo olhar sobre mim e as escolhas que fiz.

– O que diz a carta? – Joe perguntou, sentando-se impaciente, ignorando completamente os olhares chocados que se voltaram para a sua direção. – Fala sério, você não leu a história inteira pra mim pra guardar o final só pra você, não é mesmo? 

Serena correu para chamar a enfermeira, enquanto me aproximei da cama para dar uma boa olhada em meu amigo.

– Como você se sente?

– Como se tivesse capotado a minha Ferrari enquanto tentava perseguir a minha namorada, sem atropelar um fotógrafo inconveniente. Mas... Espere... Foi isso que aconteceu!

- Seu idiota! Tem noção do susto que você nos deu? Se você já não estivesse suficientemente machucado, eu mesmo me encarregaria de lhe dar um soco bem-dado na cara.

– Ora, veja se isso são modos de receber seu amigo que acaba de voltar às margens da consciência? Não se fazem mais amigos aflitos como antigamente. – O falatório de Joe foi interrompido quando um enfermeiro e um médico fizeram uma bateria de exames para avaliar suas condições físicas.

– Você parece bem. Vamos preparar a sala da tomografia, em breve nós voltamos para buscar você – disse o médico, saindo do quarto.

– Então desembucha! O que está escrito no envelope? – Joe perguntou, enquanto fazia carinho na mão de Serena distraidamente. 

Com calma, li palavra por palavra e expliquei sobre os ingressos.

– Então, o que você vai fazer?

– Vou pagar a minha última aposta, Joe.

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora