Capítulo 14

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LINDA

"Vou sentir sua falta quando eu acordar."

– Alice no País das Maravilhas.


As pessoas têm que aprender que ficar só, de vez em quando, poder ser maravilhoso. Ninguém pra mandar você lavar a louça, pra perguntar porque você está assistindo o mesmo filme pela milionésima vez, ninguém pra mandar você tirar o pé do sofá ou dizer o que você deve ou não comer. E, por mais doloroso que seja reconhecer, se você não suporta ficar sozinho com você mesmo por algumas horas, quem vai conseguir?

– "Não. Eu disse... Que tipo de pássaro é VOCÊ?" – sussurrei as palavras ao mesmo tempo em que Sam as pronunciou, na TV. Com cuidado, estiquei a mão até o balde de pipoca sem desviar os olhos da tela onde assistia a um de meus filmes favoritos: Moonrise Kingdom. 

Tem algo de mágico na simplicidade desta cena que me encanta. O jeito de bobo apaixonado que o menino encara Suzy. Se um menino consegue se apaixonar por você ao vê-la fantasiada de pássaro, deve ser amor de verdade.

Deixei que todas essas ideias açucaradas de amor me fizessem flutuar, divagando entre as possibilidades românticas na minha vida. Estava perdida nesses pensamentos quando senti um puxão me arrastando de volta a realidade. O toque do interfone exigia a minha atenção com urgência.

Tateei o sofá preguiçosamente a procura do controle remoto, secretamente amaldiçoando a pessoa que ousou atrapalhar a minha noite de filmes. 

Quem poderia ser a essa hora? Provavelmente mendigos, ou pior, Andrew. 

– Quem ousa interromper as minhas férias de obrigações sociais no meio da madrugada?

– Ai...sou eu – O gemido soou tão dolorido que fez minha espinha gelar. – Eu não planejava te incomodar tão cedo, mas acho que foi impossível resistir – Luke falou, com a respiração entrecortada.

– Luke, como você...? – Antes que eu pudesse perguntar porque cargas d'água ele decidiu se aboletar embaixo do meu prédio e, ainda mais importante, como ele descobriu o meu endereço, ele me interrompeu.

– Olha, seria realmente legal se você me ajudasse primeiro e perguntasse depois – ele resmungou entre dentes. – Desculpe...

Sem pensar duas vezes, larguei o interfone, vesti um sobretudo por cima do pijama e desci para ver qual era o estado dele. Saber se eu poderia gritar com Luke por ele ter sido tão grosso.

– Achei que você tivesse ficado com raiva – ele disse, se levantando da calçada. – Que eu tinha estragado tudo outra vez.

Quando ele foi de encontro à luz, pude ver a extensão de seus machucados. Sua roupa estava completamente suja, como se ele tivesse rolado pela calçada. O rosto estava inchado, o lábio parecia cortado e o olho que ainda não estava roxo, mas com certeza ficaria logo, logo.

– Meu Deus! – Caminhei até ele e ajudei-o a ficar de pé. – Em que confusão você se meteu desta vez?

– Uma confusão comum a qualquer americano. Fui assaltado no caminho para casa – respondeu, enquanto entrávamos no elevador. – Os ladrões levaram tudo o que eu tinha. Então, enquanto eu vagava pelas ruas, o ônibus do Ernesto apareceu. Ele ficou com pena de mim e resolveu ajudar. Ele me trouxe até aqui e disse que sabia que eu receberia ajuda aqui. Para ser honesto, eu não sabia que estava sendo trazido para a sua casa.

Pobre Ernesto, deve ter pensado que vovó estaria aqui pra cuidar de Luke. Ele nunca o deixaria aqui se suspeitasse que eu teria que lidar com tudo isso sozinha.

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora