Capítulo 20

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LINDA

"Eu proponho dançar, mesmo

que o parceiro em questão seja

apenas tolerável!" - Orgulho e Preconceito

- Então qual você prefere: casual ou poderosa? - Kelly perguntou, espalhando diversas fotos de revistas no chão do meu quarto. Os looks variavam de Keira Knightley como Lizzie Bennet em Orgulho e preconceito, Kate Winslet em Titanic e Alicia Silverstone em Patricinhas de Beverly Hills. Não era feio, só não tinha nada a ver comigo.

- Quem sabe algo entre um e outro? - Ou talvez nenhum dos dois.

Talvez não seja tarde para cancelar tudo e dizer que não me importo com a porcaria da aposta. Poderia até fazê-lo acreditar que não passa de algo infantil, e sair ganhando no fim das contas. Ou, talvez, eu possa tomar um banho muito quente e sair na rua à noite sem casaco e pegar uma gripe que, "infelizmente", me impossibilitará de ir ao tal piquenique. Ou tomar sorvete até ficar sem voz. Ou até mesmo pedir que Kelly acerte a minha cabeça com o volume 1 de os Miseráveis.

- Acho que precisamos de uma opinião masculina aqui - Kelly estava prestes a se enterrar em uma pilha de recortes de revistas. 

Pode não ser tarde demais para desmarcar com Luke, mas Kelly jamais me perdoará se eu fizer isso. E uma vozinha bem fraquinha, que fica isolada em um canto da minha mente, dizia que eu também ficaria decepcionada. 

- Ainda dá tempo de ligarmos para o Andrew - ela disse.

- Acho que é exigir demais dele, não? Convidá-lo para vir à minha casa para me ajudar a escolher o que vestir para o piquenique com o Luke.

- Não soava tão estranho na minha cabeça.

Eu sei que não. Desde que Andrew deu sinais de cessar fogo, Kelly passou a insistir em incluí-lo em tudo. Como se sua presença constante fosse erradicar qualquer possibilidade de um novo surto.

- Não se preocupe, nós conseguiremos pensar em outras coisas nas quais a gente possa incluir o Andrew.

- A gente sempre pode ir naquela sorveteria maravilhosa depois da aula!

- Por que você não liga para ele e marca? Talvez isso melhore o humor dele e faça com que volte a se sentar conosco amanhã.

Enquanto Kelly ia para a sala telefonar, aproveitei para continuar a aplicar as correções em meu manuscrito. A história está fluindo, mas os personagens estão revelando uma nova identidade para mim. Como se eu finalmente entendesse o que se passava pela cabeça deles.

- Ainda trabalhando no livro? - Kelly perguntou, quando me flagrou dividida entre uma pilha de papéis e meu notebook.

- Eu acho que se eu continuar nesse ritmo devo terminar antes do verão.

- Aí, quem sabe, você estará preparada para dividir com o mundo ou mostrar para os seus melhores amigos? Você não sabe como é frustrante saber que o nosso professor leu todos os seus livros e eu nunca li uma linha sequer. - Me esforcei para ignorar o tom de ressentimento na voz de Kelly.

- Não esse. Essa história é meio que um desabafo. Daqueles que quando as pessoas leem ficam magoadas, e choram e ficam com raiva de saberem as coisas desse jeito. - Ou talvez atraia pessoas que deveriam continuar exatamente onde estão.

- Achei que o seu manuscrito fosse aquele caderno rosa ali. - Kelly apontou para o grande caderno espiralado, que eu vinha carregando para cima e para baixo.

Antes de que me desse conta do que estava fazendo, peguei o caderno defensivamente e apertei-o em meus braços. Esta história não vai magoar ninguém, mas fará com que a minha bochecha aperfeiçoe a arte de corar em diferentes tons de vermelho.

Sem pensar, joguei o caderno para debaixo da cama, antes que Kelly se sentisse tentada a lê-lo. Mas é claro que o meu desespero fez com que o tiro saísse pela culatra.

- Está um lixo - menti. - Eu nem sei ainda o que a protagonista quer. Sério. O amador dos amadores diria que comecei essa história sem o mínimo de informação necessária para saber como proceder do meio para o fim.

Caindo na Real [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora