Capítulo 14- Parte II

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Eu era um rapaz que se poderia chamar normal.

Gostava de jogar futebol, e lembro-me de adorar correr pela casa.

Quando eu tinha dois anos, a Luna nasceu e rapidamente ela se tornou o mais importante para mim.

Não que eu tivesse escolhido. Eu não tenho culpa que ela passava a vida colada a mim.

Já imaginaram um rapaz de 6 anos, que só queria correr por aí e andar aos saltos, passar a vida a ser seguido por uma rapariga de 4 anos, tão pequena que quase não a vias?

Pois, esse era eu.

Acabei por me habituar á presença da Luna por ali, e ela às vezes até entrava nas brincadeiras.

Porém, a minha irmã Luna era tudo menos o que eu esperava a início.

Numa noite que eu nunca esqueci, a minha mãe e o meu pai chamaram-me ao quarto deles, tinha eu 9 anos.

Pousando a mão dela sobre a minha cabeça, a minha mãe sorriu, parecia que estava a olhar para o seu maior tesouro. O meu pai falou.

"Lars, nós temos que te contar algo sobre a tua irmã."

Eu sorri, inocente. "O que tem a Luna?" Cruzei os braços. "Não me digas que ela vos contou que fui eu que parti a jarra das flores?"

A minha mãe fez-me festas ao cabelo, o que eu sempre amava. "Não, Lars. Ela não precisa de nos contar sobre isso, nós já sabemos que foste tu. Quem mais poderia ser?"

"Sei lá..." Eu disse, já fugindo da situação.

Foi pouco depois que o meu pai me disse.

A Luna não era minha irmã.

Foi isso que ele disse na altura. Algo sobre ela ser filha de outra mãe e de outro pai.

Para dizer a verdade, na altura eu não percebi a diferença que isso fazia.

Para mim a Luna era minha irmã, não importa se era ou não filha dos mesmos pais.

"Ok." Eu disse-lhes na altura.

Eles não estavam á espera que eu reagisse assim.

Abraçaram-me os dois, e a minha mãe disse-me que estava muito feliz de eu ser filho deles.

Depois eu fui ter com a Luna, e os dois brincámos um bocado antes da hora do jantar.

A verdade é que a Luna é filha do casal de empregados que o meu pai e a minha mãe contrataram em 1998, quando voltaram para Lamego.

Parece que em 2001, eles morreram. O pai da Luna foi morto no trabalho, e a mãe morreu no parto.

Depois de saber isto, que o meu pai me disse no dia depois de me contarem que a Luna não era minha irmã, eu só me lembro de ter corrido para o pé da Luna, e de a ter abraçado.

Eu senti-me triste por ela.

Eu, como um rapaz inocente de 9 anos, não me imaginava sequer sem a minha mãe ou sem o meu pai, e a Luna nunca conheceria os seus.

O meu pai disse-me tudo.

Depois da mãe da Luna ter morrido a seguir ao parto, o meu pai e a minha mãe viram que ela tinha acabado de ficar sem família.

Decidiram-se e adoptaram-na na nossa família. O meu pai deixou, e a minha mãe pareceu projectar-se naquela bebé, que tinha perdido os pais ainda antes de os conhecer.

A mãe dela não teve tempo de a baptizar, por isso os meus pais decidiram-se a dar-lhe o nome de Luna, que era o nome da mãe do meu pai, minha avó.

Á medida que a Luna e eu crescíamos, por alguma razão acabámos por ser muito parecidos, ambos com cabelo negro e olhos negros, por isso passávamos facilmente como irmãos. Mesmo nós sabendo que éramos irmãos só de nome.

Quando contaram á Luna que ela não era mesmo minha irmã, ela pareceu também quase não reagir.

Foi quase como eu. Ela sabia quem eram os pais dela. Quem cuidou dela toda a sua vida.

Acabei por me aperceber que eu e a Luna nos tínhamos tornado inseparáveis. Éramos os melhores amigos, e chegávamos a fazer todas as brincadeiras juntos.

Sempre que os nossos pais nos viam a brincar, diziam que parecíamos uma alma em dois corpos.

Algo como complementos um do outro.

Que estranho, não é?

Quem diria que a relação que eu tenho de complementação com a Luna acabaria por dar naquilo que nós temos hoje em dia?

Bem, está na hora de passar á história daquilo que me tornou um destruidor da adolescência.

A história da rapariga loira que me rejeitou e que depois acabou por fugir do país, temendo pela vida.

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