Capítulo 6- Parte III

74 4 0
                                    



---X---

A hora de almoço chegou, e na cantina, eu procurei uma mesa livre, e sentei-me lá.

Imagino que a Goth venha falar comigo agora.

Quase imediatamente, a Goth apareceu com o tabuleiro na mão, e parou bem ao meu lado.

Pernas boas tem ela. Abanei a cabeça.

Qual é a razão dela trazer meias altas para a escola? Não sei, deve ser um tipo de escolha de moda que pouco me interessa.

Negro era a cor dela. Vinha todos os dias vestida de negro, e hoje não foi diferente.

Tirei os olhos da minha salada de alface durante apenas um segundo e olhei para ela.

Mais uma vez, aqueles olhos frios. Negros.

"Posso?" Ela perguntou, sentando-se á minha frente sem me deixar responder.

"Não me parece que eu tenha respondido." Eu disse, mas ela tirou os talheres por entre o pano, e levou um pedaço de tomate á boca.

"É rude falar enquanto se come." Mastigou o tomate, que se desfez por entre a boca dela. "Falamos quando acabarmos de comer."

Eu tolerei.

Parece que tudo o que ela diz é para me tirar do sério.

Mas, eu sou melhor que isso.

Sou algo melhor que ela.

Eu posso não prestar. Mas ela presta ainda menos.

Ignorei-a. Assim como ela fez a mim. Focámo-nos os dois na nossa comida. Ela comeu o tomate, e eu comi a alface.

Isso seguido pelo prato principal de hoje.

Como hoje era sexta-feira, a escola decidiu fazer comida gourmet, por isso temos o melhor almoço que podia nos calhar.

Duas batatas cozidas, e uma meia-meia posta de salmão, mal frito. Comida de Chef com estrelas Michelin decerto.

O meu estômago pedia pela comida, e eu por isso, engoli tudo em quase uma trinca. Comida gourmet não é grande coisa. Quero o livro de reclamações.

Depois de acabar de comer, pousei os talheres na borda do prato, e bebi um pouco de água que descansava no copo de vidro. Refresquei a garganta, e depois limpei a boca com o pano oferecido de boa graça. Olhei para a Goth. Ainda nem metade tinha comido. Na realidade, parecia que mal tinha tirado os talheres do prato, a comida ainda estava lá toda.

Percebi que ia ter de esperar por ela, por isso cruzei os braços e fui-me pensando.

Não me arrependo de nada do que fiz. Não há razão para isso. Tudo o que eu alguma vez fiz foi por escolha própria.

A única coisa que eu nunca escolhi foi nascer. Mas agora que nasci, vou fazer o que escolho.

Essa é a minha escolha. Tomarei como meu o que quero, e odiarei o que me apetecer. Porque sou assim. E não me tornarei diferente.

O mundo será meu, se assim o desejar.

Nada será meu, se assim o desejar.

É assim que penso.

Não há hormonas, não há nada de adolescente. Há o que eu quero, e os meus caprichos. Uma escolha minha, pensada, reflectida. Isso sim.

No fim, e por mais que me custe a dize-lo, sou como eles. E isso repudia-me.

Os Deuses Da Comédia RomânticaOnde histórias criam vida. Descubra agora