Capítulo 1- Parte II

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Se o mundo pudesse ser um pouco mais verdadeiro consigo próprio, a minha vida seria mil vezes mais fácil. Sei lá, isso ou eu ia viver para uma gruta.

Voltei da escola há umas horas, o sol já se pôs no horizonte, e o meu descanso esfuma-se com o desaparecer do último raio de luz.

Estafado de não fazer nada físico, encostei a cabeça na parede do meu quarto e imaginei o quão bom seria viver numa gruta, longe da lixeira a que chamam sociedade.

Hoje foi o dia em que me arrependi de fazer o que a professora me diz. Agora, ela utilizou isso contra mim e quer obrigar este pobre rapaz a juntar-se a um clube qualquer.

O meu quarto é o meu lar. O único sítio de toda a minha casa onde eu posso ter algum descanso. Os outros sítios da casa, fora de limites. Talvez devido a isso eu esteja quase sempre em modo piloto-automático quando saio do quarto. Assim, consigo ignorar a minha irmã, que passa muito do seu tempo a dar-me cabo da cabeça.

Sim. Acham isso normal?

A minha irmã mais nova, Luna. Dois anos mais nova que eu, frequenta agora o 9ºano, e, para muita pena minha, já entrou na puberdade.

Para o bem da minha felicidade, a Luna devia ter continuado pura o resto da vida dela. Sim, ela era tão querida quando era mais nova, esses sim eram bons tempos.

Aqueles tempos em que ela pedia ao irmão mais velho para a levar ás costas quando ela estava cansada, e andava sempre atrás dele, com um sorriso que me enchia o dia.

Agora, ela chateia-me mais do que eu aguento, e por isso, a porta do meu quarto está mais vezes fechada do que aberta.

Neste momento, a porta está fechada. E o monstro está do outro lado, tentando forçar a sua entrada.

É que nem se preocupem por eu estar a chamar "monstro" á minha irmã, digo-vos já, vocês chamavam-na o mesmo se a conhecessem. Ela dá cabo de mim.

"Irmão!! Abre a porta~~~~!", eu acho que ouço a voz do diabo. Sim. Ela diz-me para eu abrir a porta. Espera que eu seja inocente ao ponto de ir abrir a porta aquele demónio que está do outro lado.

Se acham que é bom ouvir a voz de uma rapariga a chamar por vocês, enganam-se. A minha experiência diz-me que é das coisas mais aterrorizantes que um humano pode sentir.

Eu diria em qualquer tribunal que a minha irmã tem a voz de um anjo, e não é por isso que me sinto menos aterrorizado quando ela me vem chamar assim, no mínimo fico ainda com mais medo.

"Luna, não tens nada melhor para fazer do que chatear o teu irmão?"

Sabem aquelas situações sem lógica em que vocês fazem perguntas para as quais já têm resposta? Pois, este é um desses momentos.

"Anda lá, irmão! Eu quero brincar contigo. AGORA!", a Luna bateu na porta do meu quarto e eu tentei desaparecer para dentro da parede. Quem diria que um dia eu estaria a fugir da minha irmã, enclausurado no próprio quarto.

O público geral gosta de acreditar que irmãos têm relações próximas uns com os outros, que são "os melhores amigos que se pode ter na vida". Pois...isso é treta. Por mais lógica que aparente ter, e algumas pessoas digam que os irmãos se dão melhor por se conhecer há mais tempo e interagirem mais um com outro, isso não implica que se dêem bem um com o outro.

Em alguns casos, vê-se até uma relação de predador/presa entre dois irmãos, em que um deles ataca o outro, e o outro apenas se defende.

Agora, entre mim e a minha irmã, eu sou o mais velho. Eu devia ser o predador, não a presa!!! Algo está mal aqui! Que treta é esta!?

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