A perna não parava de se movimentar um segundo à medida que a van chegava mais próxima do seu destino. Já haviam se passado mais de dez anos que não voltavam para esse lado do Atlântico e seria a primeira vez que o pequeno Tom, de cinco anos, veria a casa do avô Colin. Por isso os donos daquelas pernas não conseguiam mantê-las quietas. Ir até o casarão de Colin Jones naquela vila irlandesa sempre deixava Arthur em estado de pré-infarto.
Depois da morte do seu pai, Arthur evitou de todas as formas voltar a suas origens. Seria muito difícil retornar ao lar em que crescera e não mais ouvir o som dos discos velhos de que ele tanto gostava ou aqueles programas de auditórios que o faziam tão rir alto que podia ser ouvido em qualquer ponto daquele sobrado. Wesley não chegou a conhecer seu neto mais novo - morreria dois meses antes de Ana ser submetida a uma cesariana de emergência.
Estava tudo bem, bebê encaixado, dilatação seguindo seu curso normal e então Thomas Jones, como um bom filho de Ana Jones, resolveu que era ali que gostaria de ficar e sentou. Correria e sala cirúrgica sendo preparada e um Arthur à beira de um ataque de nervos. Fazia um calor dos infernos no dia e, limpando o suor que acumulava em sua testa, Arthur viu através do vidro o maior recém-nascido de todos ali presentes, revestido por uma penugem loira, bocejando dentro do berço. E toda sua aflição se esvaiu. Estavam todos bem.
— Precisamos parar com isso — a voz de Arthur cortou o silêncio.
— Parar com o quê? — Ana segurava Tom nos braços, lhe dando a primeira mamada.
— Esse negócio de ter filhos, cada um que nasce eu quase infarto.
— Para de ser dramático! A única que pode ficar assim sou eu! Quem passou mal por cinco meses? Quem teve dor nas costas? Quem engordou dessa vez quase vinte quilos? E quem teve de sentir as contrações desse bebê imenso — olhou para o rosto do filho em seus braços e sorriu —, quase rasgando minha barriga para mudar de posição? Thomas Jones Shaller, você foi um bebê muito mau! — Voltou seu olhar agora para Arthur. — E ainda tive de fazer essa cirurgia, fui tudo eu e não você. Quer saber?
— Diga. — Arthur já sabia o que ela ia dizer, mas jamais ousaria lhe impedir ou mesmo falar por ela naquele momento.
— Passaria por tudo isso de novo, quantas vezes fossem necessárias. Venha aqui homem nervoso... — estendeu sua mão para ele —, olha que ser mais lindo fizemos e diga se não valeu a pena!
As memórias daquele dia se reacendiam sempre que se lembrava de que seu pai nunca tivera a oportunidade de conhecer aquele garoto. Dessa forma evitou a todo custo retornar a sua saudosa Inglaterra. Só aceitou essa viagem para comemorar a passagem de ano porque seria realizada no casarão em que Ana crescera na Irlanda. Ainda não sentia vontade de voltar para seu lar. Mas Arthur sentia-se em débito com Ana. Ana, em estágio avançado da gravidez, não poderia voar, e assim acabou indo sozinho, sem seu ponto de equilíbrio, ficar ao lado de sua fragilizada mãe e irmã. E, por outro lado, não esteve perto de Ana, segurando sua mão, até praticamente a hora do parto.
Ellen voltaria com ele e ficaria nos Estados Unidos até Thomas completar três meses, para o mais completo alívio de Ana - com dois filhos pequenos e o bebê para cuidar, a sogra foi de fato de grande ajuda. A relação de ambas nunca seria das mais amigáveis. Sempre haveria farpas e intromissões por parte de Ellen sobre a forma como Ana conduzia a sua casa - algo que a deixava extremamente irritada. Muitas vezes Ana contaria até cem para deixar toda a raiva momentânea sair e então já estavam as duas lado a lado na cozinha, fazendo algum prato e se distraindo com a algazarra dos meninos. Ellen sentia muita falta desses netos espevitados, eram tão diferentes de Clair – hoje uma mulher de dezenove anos, estudante de arquitetura, influência direta do seu avô Wesley –, que sempre foi uma criança calma, meiga e tranquila, ou seja, a cópia de Lilian. Eric e Patrick definitivamente tinham o mesmo instinto livre da mãe e de certa forma essa avó mais controladora gostava que eles fossem assim.
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Ele sabia amar, ela tinha de aprender [Completo]
General FictionUm pedido feito e uma promessa a ser realizada. Se ainda houvesse amor, o rapaz a esperaria na estação de trem. Lá estava ele, agora só faltava descobrir se o amor que sentiam resistiu ao tempo. PLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL...