Gêmeas Marrentas

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A R E T H A

A viagem de Miami foi perfeita, foi um ótimo jeito de nos despedirmos dos Estados Unidos. Eu não sei se sentirei saudades, provavelmente sim.

Agora o meu ódio de mudanças, elas fazem muita bagunça.

Por que não se desfazer de tudo e comprar novo na casa? Eu sei, idiota, eu sei.

Eu tenho que arrumar minhas coisas...

--- Aretha? --- Alice entra no meu quarto.

--- Por que tá toda arrumada? --- Pergunto enrolando meus quadros em plástico-bolha.

--- Vou passar o dia com minhas amigas. Vou no salão mudar o corte do cabelo pra ir pro Brasil, no shopping comprar roupa nova e só vou voltar de noite. --- Falou olhando pras unhas.

--- Sei, e se a mamãe perguntar por você? Ela quer a gente empacotando as coisas.

--- Diz que eu sai com minhas amigas. --- Ela dá de ombros.

Eu dou também e ela sai mandando beijo.

Se engana quem acha que Alice é só um rostinho bonito. Minha irmã tem a força das Muller e pode te fazer ficar aos pés dela.

Continuo arrumando as coisas. Eu tinha muita coisa pendurada por minhas paredes, quadros, fotos, luzes, tirar estava sendo um inferno.

Depois que termino de guardar minhas polaroids em caixas, e juntar com a decoração de parede, eu fecho a segunda caixa com fita adesiva.

Minhas paredes estavam nuas e eu estava começando a realmente sentir que ia embora.

Alguém bate em minha porta.

--- Entra. --- Mary aparece, a governanta.

--- O jantar está servido senhorita Muller.

---- Mary, eu já disse que pode me chamar de Aretha.

--- Ainda não me acostumei a saber que você deixou de ser uma pirralha esnobe.

Eu sorrio amarelo.

Quando chegamos nos Estados Unidos, eu tinha um temperamento muito escroto. Nós sempre fomos ricos e cercados de pessoas que nos serviam, de algum modo eu criei um pensamento de que aquelas pessoas eram inferiores a mim e que elas só serviam para me obedecer.

A maior escrota, eu sei.

Meus pais sempre ensinaram que eu não deveria agir assim, que eu não era melhor do que ninguém. Mas Mary foi quem realmente fez a diferença em minha vida.

--- A pirralha aprendeu Mary.

--- Está bem, Aretha. --- Deu ênfase no meu nome e sai.

Mary é como uma segunda mãe pra mim. Tudo mudou, quando uma vez eu quase morri afogada na piscina de casa. Eu brincava de quadriciclo e acabei indo rápido demais, cai na piscina e Mary me resgatou.

Devo minha vida à ela.

Eu lavo meu rosto e minhas mãos antes de descer. Encaro a casa e como as coisas estão vazias, os vasos, quadros e decoração que minha mãe tanto ama estão todos recolhidos.

--- Boa noite família.

Me sento a mesa, meu pai está na ponta e sorri, minha mãe ao seu lado também.

--- Cadê a Alice? --- Meu pai pergunta.

--- Ela saiu com as amigas dela mais cedo.

--- Para onde ela foi?