O Labirinto Em Minha Cabeça

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10 segundos atrás:

— Oi! — disse Rhea, batendo na porta da cozinha de Melanie. Ela estava tomando chá e foi pega de surpresa. Não esperava ver Rhea ali. — Espero não estar sendo invasiva.

— Está tudo bem — respondeu Melanie, sem graça. — O que veio fazer aqui?

— Estava passando por perto e decidi perguntar se você não gostaria de ir ao cinema comigo hoje.

— Ah... Me desculpe, Rhea, mas combinei de sair com uma pessoa hoje.

— Outra pessoa? E a gente? — Rhea perguntou, indignada. Mas antes que Melanie pudesse responder, um clarão tomou conta da sala de estar, e uma garota de cabelos lisos e loiros apareceu diante delas.

— Rhea D'onson?

— Quem é você? — perguntou Rhea, nervosa.

— Não dá tempo de explicar, temos exatamente 10 segundos para sair daqui.

— Rhea, quem é ela? Como ela apareceu aqui? Como...? — perguntou Melanie, um pouco tonta pelo choque.

— 9... 8... — contava a garota loira, olhando os ponteiros de seu relógio.

— Eu também não sei! — respondeu Rhea, de imediato.

— Olha, se você não quiser morrer, precisa vir comigo — a garota loira insistia.

— Morrer? — perguntou Rhea, olhando para Melanie. — Então, temos que levá-la também.

— Minhas ordens foram específicas! Tenho que levar Rhea D'onson em segurança! — exclamou a garota loira, com firmeza.

— Eu não vou sem ela! — disse Rhea, segurando a mão de Melanie. — Por favor.

— 4... 3...

— Melanie, você precisa vir comigo — disse Rhea, olhando com apreensão para a garota.

— Rhea... Não... Eu não... Para onde?

— Rápido, Rhea D'onson! — apressava a garota loira. — 2... Ah, dane-se.

A loira pegou nas mãos de Rhea e Melanie e se concentrou em seu destino. Melanie, que estava histérica com tudo, desmaiou ao perceber que seu corpo estava irradiando luz. Então, as três sumiram instantaneamente.

Ao reaparecerem, já estavam em algum tipo de vilarejo. Melanie estava caída no chão, desacordada, enquanto a garota loira se sentava, ofegante.

— Onde estou? — perguntou Rhea, olhando ao redor.

— Em... — a loira lutava para recuperar o fôlego — Bangkok...

— BANGKOK? NA TAILÂNDIA? — gritou Rhea, desesperada.

— ... Sim, Bangkok...

— Você está bem? — perguntou Rhea, ao notar a pálidez da garota loira e misteriosa.

— Nunca tinha transportado duas pessoas ao mesmo tempo... — ofegou — Estou um pouco sem fôlego e muito cansada. 

— Mente concentrada, respiração controlada, senhorita Morelli — disse um homem careca, vestido com uma túnica prateada com detalhes dourados.

— Sim, monge Jéhtro — respondeu a garota, se recuperando.

— Fez um ótimo trabalho, Morelli — elogiou o monge. — Está dispensada agora, querida. Vá até o refeitório tomar uma água.

— Sim, senhor!

— Namastê!

— Namastê! — respondeu Morelli, saindo de cena.

— Vejo que trouxe alguém com você, Rhea D'onson.

— Como sabe meu nome?

— Eu sei muitas coisas sobre você. Aliás, todos neste monastério sabem quem você é! — respondeu o monge, amigavelmente.

— Mas como? E por quê? Que lugar é esse?

— Todas as respostas virão a seu tempo, senhorita D'onson. Mas a única coisa que posso lhe dizer agora é que Melanie não pode ficar aqui. Ela precisa partir imediatamente, antes que o futuro se molde novamente. Com certeza você já deve ter descoberto o que acontece quando o alteramos, não é?

— Ela vai estar em perigo lá em San Francisco?

— Creio que não. Os buscadores só estão atrás de você, não dela.

— Era esse o eu medo, não quero que nada aconteça à ela. — Respondeu Rhea,.

— Vamos medicá-la e cuidar dela. Assim que estiver se sentindo bem, voltará para casa — disse o monge, fazendo sinal para que outros monges a levassem. — Creio que nesse meio tempo, você terá uma ótima oportunidade para contar a verdade para ela.

— Mas eu a amo...

— Porém, ela não a ama. Não mais, pelo menos. E você não pode forçar ninguém a te amar, senhorita D'onson.

— Eu só tentei consertar as coisas...

— E você pensou apenas em si mesma, no seu egoísmo de não aceitar que poderia perdê-la. Precisa entender que as pessoas são passageiras em nossa vida. Elas vêm e vão o tempo todo. É necessário que você compreenda esse ciclo, ou passará a vida toda em sofrimento.

— Eu só queria que ela fosse feliz, só isso! — disse Rhea, com lágrimas nos olhos.

— Então conte a verdade para ela e deixe-a ir. Esse é o maior gesto de amor que você pode ter.

— Não sei se posso conviver com isso.

— Creio que você tem coisas mais importantes para se preocupar, senhorita D'onson — respondeu o monge. Outros dois monges apareceram para carregar o corpo de Melanie para outro lugar. — Bem, Melanie está sendo levada ao nosso hospital. Sugiro que vá ficar com ela. Talvez ela precise de um rosto conhecido quando acordar.

— Tudo bem.

— Quando ela for embora, venha me procurar, por favor — disse o monge, se retirando.

— Te procurar para quê?

— Para você saber a verdade, minha cara.

— Verdade sobre o quê, monge? — insistia Rhea.

— Sobre a vida que leva. Você não é quem pensa que é, faz coisas além do que imagina. Precisa ter responsabilidades sobre isso.

— Até parece! — debochou Rhea.

— Cuidado com o que diz e como diz, viajante.

— E o que você faria comigo?

O monge sorriu e caminhou até ficar cara a cara com ela:

— Eu não preciso fazer nada com você. É só olhar para dentro de si.

— Como é?

— Abra os olhos, Rhea D'onson.

Após o homem de meia idade e careca se afastar, Rhea perdeu a visão do lugar, instantaneamente. Uma voz conhecida começou a ecoar em sua mente: "Ache Melanie sem usar sua visão."

— Mas como? Como eu vou procurá-la sem ver nada? — Rhea perguntava, enquanto trombava nas paredes.

— Concentração, D'onson — respondeu a voz. — Sua mente é seu terceiro olho. Você pode fazer o que quiser com ela. Pense em Melanie, concentre-se nela, e a encontrará em seu labirinto.

— Labirinto? Que labirinto?

— Esse lugar confuso, que você chama de mente.

A Filha Do Tempo - A queda de GazuOnde histórias criam vida. Descubra agora