Eu Menti

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- Você me beijou. - Rhea sentira uma sensação completamente nostálgica, naquele momento.

- Eu acho que dá para se esquecer de muitas coisas, menos de um beijo, se ele foi realmente bom. - Respondeu Melanie. - Quis te ajudar.

- Eu ainda não me lembro de você, com clareza. Para ser sincera, esperava que te ver, pessoalmente, me ajudaria. Tenho uma sensação muito forte sobre sua pessoa.

- Pessoalmente? - Perguntou Melanie - Quem é você?

- Meu nome é Rhea D'onson.

- D'onson? Você é parente de Mike D'onson?

- Ele é meu irmão mas por que? Como conhece ele?

- Você não anda vendo o noticiário na tv?

- Eu não assisto Tv faz um pouco de tempo.. - Disse Rhea, revirando os olhos - Mas o que aconteceu?

- Precisa vir comigo.. - Disse Melanie, atravessando a rua. Rhea, sem entender nada, a seguiu para onde ela estava andando. Logo a frente tinha um táxi parado onde as duas entraram.

O carro seguiu em direção a College Park, como Melanie havia dito ao motorista:

- Pra onde estamos indo?

- Você precisa ver uma coisa

- O que? - Persistiu Rhea - O que aconteceu com o Mike?

- Acho melhor você ver com seus próprios olhos.

Rhea desviou os olhares de Melanie e passou a olhar a janela ao seu lado. Imaginando o que poderia ter acontecido com o seu irmão e o motivo pela qual Melanie estaria fazendo tanto mistério assim.

As ruas estavam cheias e com muito movimento. Filas enormes de congestionamento e carros parados.
Rhea mantinha os olhos na janela, porém, sua cabeça estava em outro lugar. Sua mente estava confusa e solitária...mas por pouco tempo...

Uma voz começava a ecoar, como um sussurro, dentro de sua cabeça, algo que começou a incomodar... " cuidado" dizia a voz.. Cada vez mais alto.

- Tem algo errado? - Perguntou Melanie, vendo Rhea se contorcendo de dor.

- O que? Não! - Ela tentava disfarçar o incômodo.

- Tem certeza?

- Tenho, sim.

Ao olhar pela janela de novo, Rhea se assustou ao ver um dragão no vidro. Ela sentiu um tremor atingir seu corpo e ao olhar para Melanie, sua feição havia mudado. Seu rosto e seu corpo mudaram de forma. Melanie, na verdade, era Mara. O demônio dos desejos.

Logo um clarão dominou o carro, como se alguém tivesse se tele transportado pra lá, e Rhea desapareceu. O demônio não esboçou nenhum tipo de reação, até porque ele já sabia muito bem o que poderia acontecer naquele dia.

- O senhor deixou ela escapar. - Disse o motorista do táxi, o olhando pelo retrovisor. Sua feição também mudara.

- Não meu caro, eu a deixei ir.

- Não entendi, senhor.

- Não preciso que entenda meus planos, Mulli. - Respondeu o demônio Mara - Você só está aqui para me servir. Vamos.. Vamos embora. Temos que concluir a segunda parte do meu plano.

Rhea ao abrir os olhos após um som estrondoso, percebeu que estava abraçada com Morelli dentro do monastério.

- Você está bem, Rhea?

- Não, eu não estou bem. - Rhea estava cabisbaixa, sem entender ao certo o que estava acontecendo ali.

- Você voltou no tempo pra encontrar com aquela garota mas caiu em uma cilada. Era um demônio disfarçado, se aproveitando de sua fragilidade para conseguir o que quer.

- Um demônio? Achei que esse negócio de anjos e demônios fossem uma construção da sociedade para controlar os humanos, pelo medo.

- Pois não é. - Exclamou o monge Jéhtro, interrompendo. - Você se pois em muito risco hoje, D'onson. Sabíamos que seria perigoso se você saísse daqui.

- Como é? -Disse Rhea, encarando o monge - Vocês sabiam desse demônio e não me avisaram?

- Não é bem assim. - Respondeu o Monge - Mara fora acordado e sempre que isso ocorre a estátua de buda chora. Hoje, mais cedo, ao meditar, vi a estátua derramando lágrimas.

- E como é que você não avisa a ninguém. Não me avisou? Eu poderia ter morrido.

- Você tem o seu livre arbítrio, Rhea. Faz aquilo que você quiser.. Claro que, as consequências sempre serão suas. Não prendemos ninguém aqui dentro do monastério de Azkan. Acreditamos que todas as almas devem ser livres.

- Ta mas..

- Rhea..! - Disse Morelli, chamando sua atenção - Já passou. Você está de volta e a salva. Isso que importa.

Houve um silêncio entre os três, por um instante. Rhea apenas tentava se conformar.

- Boa noite as duas- disse o monge - Namastê.

Ao ver o monge se distanciando, Rhea olhou para Morelli e lembrou de tudo o que ela havia dito sem pensar, horas antes:

- Eu sinto muito pelo que eu fosse a você. Eu me deixei levar pela raiva. - A viajante se justificava. - Eu sinto muito, mesmo. - A mesma deu as costas e começou a caminhar rumo ao seu dormitório, Morelli ficou olhando pra ela desejando contar tudo aquilo que sentia e não poderia mais deixar para lá.

- Rhea ..eu ..eu tenho uma coisa pra te dizer .

A viajante do tempo parou e ainda de costas para Morelli, respondeu :

- O que é ?

- Desde do dia em que te vi, eu achei que você era um caos completo. Uma pessoa teimosa ,vazia, insegura.

- Ótimo.

- Mas ver a sua evolução, me despertou algo e desde então, não consigo tirar você da minha cabeça.

Rhea D'onson virou e neste momento, encarava Morelli, com os olhos cheios d'agua :

- Não que eu fosse alguém diferente de você. O meu relacionamento com a Florence já dizia tudo isso e até um pouco mais ..eu, sinceramente, me via para sempre presa naquilo. Morelli, andava em direção a viajante do tempo. - Você me fez enxergar que eu estava me perdendo e por isso, meus dons andavam cada vez mais fracos.

- E o que você quer dizer com isso tudo?

- Dizer que desde que você chegou aqui, eu me sinto mais viva. Obrigada. - Morelli e Rhea se beijaram ardentemente nos próximos cinco minutos e aquilo transmitiu um poder diferente. Rhea iluminou-se e seus cabelos negros, agora eram brancos. Totalmente brancos. As duas se olharam com espanto pois até mesmo os olhos de Rhea estavam brancos: 

- O que é isso ? 

- Eu não sei.

As duas se olhavam e Rhea não entendia o que estava acontecendo consigo mesmo naquele momento. Apenas sentia um formigamento estranho, ainda mais do que o de costume.

A Filha Do Tempo - A queda de GazuOnde histórias criam vida. Descubra agora