A Filha Do Tempo - A queda de Gazu

Os Filhos De Mara

Ainda na mesma noite, Rhea seguiu até o seu quarto, após aquele beijo tão caloroso e inesperado. Ao se olhar no espelho que continha em sua mesa, viu aquela imagem revelando seus cabelos de cores diferentes. Ela não fazia ideia do que estava acontecendo mas como tudo em sua vida não era normal, não viu motivos para alarmar ninguém. Preferiu voltar para os seus estudos.

- Então começou. - Exclamou Bear, aparecendo de repente, como de costumo. Mania que as vezes irritavam as pessoas ao redor. Principalmente Rhea.

- Não existe porta da onde você vem? - Ela comentou, revirando os olhos. A filha do tempo lia os feitiços de Kaglioto em seu quarto, um antigo mestre do Ocidente, especializado em magias ancestrais. - Começou o que? - perguntou Rhea, olhando para ele.

- A profecia.

- Profecia? - Perguntou a viajante do tempo. - Que profecia é essa?

- Escrita pelos monges do Sul do Nepal, no ano de 420 Antes de Cristo. Fala sobre a garota, filha de Sidarta, o espírito reencarnado do próprio cosmos, que nos libertaria dos demônios, filhos de Mara.

- Filha de quem?

- Sidarta, conhece? - Respondeu Bear, franzindo o cenho. - Mais conhecido como Buda. Sakyamuni..

- Já ouvi falar, Teman me falou sobre o espírito dele esses dias.

- Seu auto controle é impressionante, viajante. Você ouve histórias sobre seu próprio pai e não surta com isso. Eu estaria com a cabeça a mil, se eu soubesse que Buda era meu pai.

- Na verdade, é que eu ainda não tive tempo para digerir tudo isso. - Ela respondeu, virando uma página do livro que estava lendo.

- Rhea D'onson você é a filha do tempo. Buda lhe deu seus poderes para que você pudesse proteger todo o universo dos demônios que Mara libertou após a morte de seu pai. - dizia Bear - Demônios que com o passar do tempo foram responsáveis por manipular pessoas importantes que hoje em dia, foram consideradas loucas e impiedosas. Caim, Judas, Nero, Calígula, Atila o Huno... Hitler...

- Alguns desses não são do catolicismo? Como podem citar Caim e Judas, nessa história?

- Porque mesmo que cada religião do mundo seja diferente uma da outra, suas crenças sejam diferentes, os demônios são os mesmos. - Respondeu Bear, explicando todo aquele conceito. - E devemos proteger essas pessoas mesmo que não concordem conosco sobre o Deus a qual acreditamos. Somos todos iguais.

- E o meu cabelo? Tem ideia do motivo pela qual ele está branco, agora. - Nesse momento, a viajante mantinha os olhos focados em Bear.

- Você ficou com os cabelos brancos desse jeito porque seu destino está próximo a ser cumprido. Foi a marca que Buda deixou a você. Para nunca esquecermos de quem voce é . - Dizia Bear.

- Por que eu devo confiar no que você diz? Afinal, não era você quem tentou me matar uma vez? - perguntou Rhea, encarando o psicco.

- Você não entenderia meus motivos.

- Seja lá o que for, não é desculpa pra trabalhar pra aquele tal de Gazu.

- Minha mãe foi sequestrada quando ainda estava grávida de mim. Gazu a torturou por anos para que ela tentasse encontrar seu paradeiro. Um dia ele sugou tanta energia dela que minha mãe teve uma parada cardíaca e acabou entrando em trabalho de parto. - contava Bear com os olhos cheios d'agua - Minha mãe acabou morrendo e eu nasci um prisioneiro.

- Sinto muito...

- Eu não tinha uma escolha. Apenas um trabalho. Encontrar você.

- E o que fez você mudar de ideia? - Perguntou Rhea.

- Existem milhares de psiccos e místicos ainda presos nas muralhas de Gazu.. Crianças até, senhoras... Eu simplesmente cansei de trair minha própria raça.

- Bear isso é loucura! - Rhea passava as mãos no rosto, dando início ao um pequeno surto. Seus olhos ficavam cada vez mais brilhantes. - Eu não entendo e nem sei mais nada sobre minha vida. Numa hora eu sou uma garota comum e no outro eu sou filha do Buda. - Ela soltou um risada histérica - Você tem ideia do que é isso?

- Você não está sozinha, viajante! - Disse Bear - Todos aqui estão ao seu lado e lutarão com você. Inclusive eu. Quero libertar meus irmãos.

- Por que eu devo confiar em você? - Perguntou Rhea.

- Se eu quisesse te matar, já teria feito isso a muito tempo. - Respondeu Bear. - Eu quero paz ao meu coração. Quero alcançar o Nirvana ou morrer tentando, pelo menos.